O que você precisa saber: – O governo do presidente Javier Milei reduziu a inflação de 200% para algo em torno de 36%; – Recentemente, eclodiu um suposto caso de corrupção envolvendo a irmã de Milei; – A derrota nas eleições legislativas de Buenos Aires acendeu alerta; – Milei tenta se recuperar poucos dias antes da importante eleição legislativa nacional
“¡Viva la libertad, ca*****!” — o brado de Javier Milei ecoou como um trovão quando ele assumiu a presidência da Argentina em 2023. Para muitos, era a promessa de um novo amanhecer, um tango vibrante que romperia com o passado e devolveria esperança a um país cansado de crises.
Contudo, as manifestações contra a caravana presidencial e a derrota de seu partido nas eleições legislativas em Buenos Aires são os primeiros sinais de que as ruas podem não estar mais encantadas com o grito que ajudou o presidente a chegar na Casa Rosada.
A perda na capital, coração político e cultural da Argentina, acendeu um alerta vermelho. Buenos Aires não é apenas a cidade mais populosa do país, ela funciona como um espelho que antecipa o que pode acontecer no palco nacional. E, com as eleições legislativas de meio de mandato se aproximando em 26 de outubro, Milei sabe que não pode perder mais compasso.
Essas eleições são cruciais: sem ampliar sua base no Congresso – hoje com menos de 15% das cadeiras –, o presidente terá dificuldade em transformar seu discurso de livre mercado em realidade.
Um pouco de contexto
Milei assumiu em 2023, prometendo virar a página da política tradicional e devolver estabilidade a uma Argentina cambaleante. Com sua tesoura afiada, cortou gastos, encerrou subsídios, mexeu no câmbio e enfrentou os juros altos. O resultado imediato foi um alívio na inflação, que caiu de mais de 200% para algo em torno de 36% e conseguiu o primeiro superávit fiscal em 10 anos. O peso ganhou fôlego, mas a conta chegou em outro lado: desigualdade em alta e mais argentinos escorregando para a pobreza.
Para seus apoiadores, no entanto, esses sacrifícios representam um caminho doloroso, mas necessário. Defendem que as medidas são parte de uma travessia que exige firmeza inicial para, no futuro, colher frutos mais sólidos de crescimento e estabilidade.
E como se não bastasse a difícil dança econômica, um novo tropeço surgiu: o suposto escândalo de corrupção envolvendo Karina Milei, irmã e braço-direito do presidente. Conhecida como El Jefe, Karina é a sombra mais próxima de Javier, mas gravações reveladas pela imprensa a colocam no centro de denúncias de um suposto esquema de suborno ligado ao pagamento de remédios a pessoas com incapacidade.
Áudios gravados no ano passado apontam o ex-diretor da Agência Nacional de Incapacidade (Andis, em espanhol), Diego Spagnuolo, afirmando que a irmã do presidente recebia suborno de 3%, segundo a AFP – e disse ainda ter informado o presidente sobre o esquema.
Somado ao escândalo das criptomoedas, ao aumento da desigualdade e ao corte de benefícios sociais, o episódio corroeu a confiança da população: os índices de confiança do governo caíram 13,6%.
Sucessivas derrotas
Se antes Milei ainda conseguia manter o compasso no Congresso, agora parece que a música virou. Os vetos, que eram sua principal arma para sustentar o plano de austeridade, começaram a ser derrubados como peças de dominó.
Senado derrubou veto em uma lei que expande os benefícios para pessoas com deficiência;
Em agosto, a Câmara derrubou um veto presidencial de uma lei que declara situação de emergência no atendimento a pessoas com incapacidade e aloca mais fundos no setor;
Derrota no Senado em decretos presidenciais que pretendiam reduzir o orçamento estatal e aprovou o aumento dos valores destinados à saúde e às universidades públicas.
O cenário também pode ser refletido em números. Segundo o analista político Andrés Malamud, Milei enfrentou 34 eleições legislativas: venceu de 15 de 17 até março de 2025, mas, desde abril, perdeu 16 em 17.
Como essas informações foram lidas
O dia seguinte às eleições em Buenos Aires foi marcado por uma queda de 13% no índice Merval, principal indicador da Bolsa argentina, em resposta à derrota para a oposição peronista. O peso perdeu 5% de valor e, em Wall Street, as ações de empresas argentinas derreteram 21%.
O risco-país também não ficou imune: disparou nos últimos dias, chegando a bater 1.000 pontos-base antes de recuar para 901 — ainda assim, o maior patamar desde que a Argentina assinou seu mais recente acordo com o FMI, apenas cinco meses atrás.
Paz e amor?
No cenário turbulento para seu governo, Milei apareceu com uma nova postura durante a apresentação do Orçamento de 2026. Com um discurso mais conciliador, a motosserra do presidente abriu espaço para o aumento dos gastos com saúde, educação e pensões.
Nesse tom menos radical, e com a afirmação de que sua política de equilíbrio fiscal é “inegociável”, os ativos argentinos responderam positivamente, revertendo um pouco da queda registrada após a derrota acachapante em Buenos Aires – o índice Merval subiu 2,3% e os títulos soberanos tiveram alta de 5%.
Em meio a derrotas políticas, escândalos de corrupção e menor confiança, Milei tenta mostrar resiliência. A prometida “profunda autocrítica”, enquanto sinaliza que vai redobrar esforços em seu modelo econômico, será decisiva para as eleições legislativas – e também para uma possível reeleição como chefe da Casa Rosada.
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, reforçando uma postura cautelosa diante de um cenário que combina inflação ainda resiliente, expectativas pouco ancoradas e um ambiente internacional incerto. Embora os últimos dados mostrem alguma desaceleração da inflação no curto prazo, a autoridade monetária avalia que o índice segue acima da meta e que o ritmo de arrefecimento não é suficiente para justificar cortes imediatos nos juros.
O comunicado também ressalta que o mercado de trabalho permanece aquecido, o que tende a pressionar os preços de serviços, além de lembrar que as condições externas — especialmente a trajetória de juros nos Estados Unidos e a volatilidade das commodities — adicionam riscos à economia brasileira.
Na prática, o Copom reconhece que a taxa atual é elevada e tem impactos relevantes sobre a atividade, mas prefere esperar sinais mais claros de convergência da inflação antes de iniciar um ciclo de cortes. Um ponto importante é que o comunicado retirou a sinalização explícita de manutenção para a próxima reunião, o que pode indicar proximidade de um esgotamento no atual nível de juros.
Além disso, o Banco Central procura equilibrar duas pressões: de um lado, a necessidade de controlar a inflação para preservar o poder de compra; de outro, a preocupação em não frear excessivamente a economia. Ao manter um discurso firme, o Copom busca reforçar sua credibilidade e sinalizar ao mercado que não pretende ceder a pressões políticas ou conjunturais, mantendo o foco em assegurar a estabilidade de preços no médio e longo prazo.
Thomás Gibertoni Sócio | Portfolio Manager
É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.
O Fed reduziu a taxa de juros em 0,25 p.p., para 4%–4,25%, diante de sinais de desaceleração da economia e de uma inflação ainda acima da meta. O balanço de riscos passou a pesar mais para o lado do emprego, com maior preocupação sobre uma possível deterioração do mercado de trabalho.
A decisão foi interpretada como um ajuste fino de política monetária, e não como uma mudança estrutural de rumo, dada ainda a inflação resiliente e a incerteza em relação às tarifas. O Fed reforçou que seguirá acompanhando atentamente os dados econômicos e poderá realizar novos cortes se os riscos se intensificarem. Apenas um membro do Comitê votou por uma redução mais agressiva, de 0,50 p.p. Há expectativa de mais dois cortes no ano e de três adicionais em 2026, levando a uma taxa terminal de 3%.
O que você precisa saber: O cenário nos Estados Unidos está muito movimentado: próximo da reunião que pode cortar a taxa de juros, as tarifas, mercado de trabalho e imigração ainda são destaques.
Quando Donald Trump venceu a última eleição, ninguém esperava uma presidência sem turbulências. Pelo contrário: as expectativas eram de que o palco político global seria sacudido. E é exatamente isso que está acontecendo. Com medidas protecionistas e uma postura radical sobre imigração, ele coloca os Estados Unidos no centro de um furacão, e o mundo inteiro está de olho.
Em um cenário marcado pelo vaivém, o mundo acompanha atentamente as notícias que surgem sobre a política de tarifas. Longe das surreais taxas aplicadas no começo do ano – vide a de 145% para a China -, o momento se voltou para as tarifas de 50% aplicadas no Brasil. Diversos outros países continuam sob os holofotes da política tarifária do líder americano, como a União Europeia – que chegou a um recente acordo com os americanos -, a Índia – com taxas iguais a do Brasil -, entre outros.
Contudo, apesar de as tarifas estarem a todo vapor, a decisão de um tribunal federal as considerou ilegais. Agora, o presidente recorreu à Suprema Corte para os magistrados reverterem a decisão. Em meio a isso, as tarifas ainda continuam em vigor, já que a justiça permite a continuidade enquanto o processo avança. (Entenda mais aqui)
A relação de Trump com o Federal Reserve (o banco central americano) também é um capítulo à parte. As taxas que estão na faixa de 4,25% a 4,50% viram uma pequena fresta se abrir em direção a uma queda na próxima reunião – para a felicidade do presidente.
Trump está há meses pressionando Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, a reduzir as taxas de juros. As ameaças e os xingamentos — como “burro” e “teimoso” — viraram rotina. Curiosamente, foi o próprio Trump quem o indicou para o cargo em seu primeiro mandato, e agora o acusa de ter motivações políticas para não reduzir os juros.
E os ataques não se limitam somente a Powell. Trump mirou em Lisa Cook, uma das diretoras do Fed, após a demitir por supostas fraudes em empréstimos hipotecários. O caso não tem precedentes na história do país e reacende o debate sobre a independência do banco central. (Você pode mergulhar no assunto através deste link).
Apesar da pressão, o líder americano pode estar perto de ver seu desejo se realizar.
No importante simpósio de Jackson Hole, Powell sinalizou uma pequena abertura para um corte de juros, ainda que cautelosamente.
O chairman do Fed destacou que a política monetária já se encontra em “território restritivo” e que o equilíbrio de riscos entre crescimento e inflação está mudando, o que pode justificar ajustes na postura atual. Ele reforçou que as decisões seriam tomadas com base em dados econômicos, reafirmando que o Fed não se curvará a pressões políticas.
Porém, outros dados importantes precisam entrar na conta: o Livro Bege mostrou que as empresas estavam hesitantes em contratar trabalhadores, resultado da demanda mais fraca ou à incerteza. Além disso, também “quase todos os distritos observaram aumentos de preços relacionados a tarifas, com fontes de muitos distritos relatando que as tarifas tiveram impacto especialmente forte nos preços de insumos”.
Assim, os dados do mercado de trabalho também foram atualizados. O Payroll, por outro lado, mostrou sinais de desaceleração do mercado de trabalho em agosto, com a criação de apenas 22 mil empregos.
Os dados reforçam que o mercado de trabalho americano está perdendo fôlego, refletindo possivelmente os efeitos das políticas comerciais do governo Trump – especialmente as tarifas impostas em abril, que reduziram o volume de comércio e afetaram a atividade econômica.
Diante desse cenário, e considerando o duplo mandato do Federal Reserve (que busca equilibrar emprego e inflação), o fraco resultado de agosto é um sinal de que os juros podem cair na próxima reunião do Fed, mesmo com preocupações inflacionárias relacionadas às tarifas.
Nos dias 16 e 17 de setembro, teremos uma resposta quanto aos juros: Trump finalmente vai ver os juros caírem ou Powell continuará sendo “burro” e “teimoso” na visão do presidente?
E tem mais assunto…
Enquanto isso, em outras frentes, as promessas de Trump seguem sendo testadas. A promessa de acabar com a guerra no Leste Europeu em “24 horas” se mostrou uma ilusão. Oito meses de seu governo e o conflito entre Rússia e Ucrânia ainda é uma ferida aberta. Acordos de cessar-fogo frágeis e a morte de inocentes nos lembram que a guerra não é um jogo de palavras.
E se a situação não é nada animadora entre Rússia e Ucrânia, o mesmo pode-se dizer da guerra no Oriente Médio.
O – frágil – acordo de paz que Trump reivindicou para si ruiu como um castelo de cartas. Após alguns meses sem guerra na região e imagens emocionantes de reféns libertados, a impressão é que tudo voltou à estaca zero. Retratos desumanos e de violência voltaram a dar o tom nesse sangrento conflito entre Israel e Hamas.
Em meio a tantas manobras políticas, econômicas e militares, o mundo observa com atenção os desdobramentos das ações de Donald Trump. A cada decisão, ele redefine não somente o cenário interno dos Estados Unidos, mas também o equilíbrio global. Enquanto isso, seus aliados e adversários tentam se adaptar a essa nova dinâmica.
O que você precisa saber: Os dados do relatório payroll reforçaram queda no mercado de trabalho e aumenta possibilidade para corte de juros.
O mercado de trabalho americano mostrou sinais de desaceleração em agosto, com a criação de apenas 22 mil empregos – resultado bem abaixo da expectativa do mercado, que era de 75 mil. No setor privado, foram 38 mil vagas criadas, também abaixo dos 75 mil esperados.
Principais pontos do relatório
A média de criação de empregos nos últimos seis meses caiu para 64 mil (ante 78 mil no mês anterior).
A taxa de desemprego subiu de 4,2% para 4,3%, confirmando a tendência de enfraquecimento.
Os rendimentos médios dos trabalhadores desaceleraram mais que o previsto, caindo de 3,9% para 3,7% no acumulado anual.
Contexto e implicações
Os dados reforçam que o mercado de trabalho americano está perdendo fôlego, possivelmente refletindo os efeitos das políticas comerciais do governo Trump – especialmente as tarifas impostas em abril, que reduziram o volume de comércio e afetaram a atividade econômica.
Diante desse cenário, e considerando o duplo mandato do Federal Reserve (que busca equilibrar emprego e inflação), o fraco resultado de agosto aumenta a probabilidade de um corte de juros na próxima reunião do Fed. Isso ocorre mesmo com preocupações inflacionárias relacionadas às tarifas, sinalizando que a prioridade do banco central é sustentar o crescimento econômico.
Thomás Gibertoni Sócio | Portfolio Manager
É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.
O que você precisa saber: A política tarifária de Donald Trump é um dos grandes destaques do ano, principalmente em relação à China. Essa disputa é ainda mais relevante no setor tecnológico, com os chips semicondutores.
Se tem algo que está marcando 2025, é a política tarifária de Donald Trump. Especialmente sua “guerra” contra a China, com tarifas que chegaram a 145% sobre os produtos chineses. Muito além da diplomacia e das manchetes, ela impacta diretamente o cenário econômico global.
Mas essa disputa entre China e Estados Unidos não começou agora. Ela remonta ao primeiro mandato de Trump e nos faz lembrar de um conceito clássico das Relações Internacionais: a Armadilha de Tucídides.
Esse conceito descreve o risco de conflito quando uma potência emergente ameaça tomar o lugar de uma potência dominante. Para entender melhor, vale uma viagem rápida no tempo.
No século V a.C., depois das Guerras Médicas contra os persas, Atenas despontou como uma potência naval, econômica e cultural. Liderava a Liga de Delos, uma aliança militar que, com o tempo, virou praticamente um império ateniense.
Do outro lado, Esparta era a potência tradicional — terrestre, conservadora, militarista — e liderava a Liga do Peloponeso. O embate entre as duas era inevitável.
E foi o que aconteceu: Atenas e Esparta entraram em guerra. Esparta venceu, mas saiu enfraquecida e logo foi dominada pelos macedônios. O historiador Tucídides analisou o conflito e escreveu:
“O crescimento do poder de Atenas e o medo que isso causou em Esparta tornaram a guerra inevitável.”
Mas calma. Isso não quer dizer que EUA e China vão entrar numa guerra militar. Muitos analistas consideram esse movimento improvável. Só que, como disse recentemente Warren Buffett, tarifas nesse nível já podem ser vistas como um ato de guerra.
Essa disputa já dura quase uma década — especialmente no setor tecnológico — e ganhou ainda mais força com a ascensão dos chips semicondutores. Lembra deles? Ficaram famosos na pandemia.
No livro A Guerra dos Chips, o autor Chris Miller afirma que o futuro da economia mundial será liderado por quem dominar o poder computacional. E isso vai muito além de notebooks ou smartphones — envolve supremacia militar e avanços em inteligência artificial.
Hoje, a cadeia dos chips se divide em três partes:
Design: dominado pelos EUA, com destaque para empresas do Vale do Silício.
Manufatura: liderada por Taiwan, com a poderosa TSMC.
Corte: onde a China tem ganhado espaço.
Mesmo com avanços significativos, a China ainda fica para trás, especialmente no design. E é por isso que países ocidentais estão barrando o acesso chinês às suas tecnologias — tentando frear esse crescimento.
Mas o susto veio no início de 2025, quando a DeepSeek, uma empresa chinesa de IA, mostrou resultados tão bons quanto os das big techs americanas, com custos muito menores. (Entenda o caso aqui.)
Para os EUA, a China representa um rival direto à ordem global construída nas últimas décadas: mercados abertos, alianças como a OTAN e instituições lideradas pelo Ocidente.
E é verdade: nas últimas quatro décadas, a China saiu de uma economia agrícola para se tornar a segunda maior do mundo. Um salto impressionante que acendeu o alerta em Washington.
Esse sentimento de ameaça aumentou tensões em várias frentes:
Comercial: tarifas e restrições ao acesso a tecnologias críticas.
Tecnológica: briga por chips, IA, telecomunicações.
Geopolítica: disputas em torno de Taiwan, Mar do Sul da China e influência na Ásia.
O caso da Guerra do Peloponeso nos lembra que mudanças no equilíbrio de poder global tendem a gerar tensões e instabilidades — e é exatamente isso que vemos hoje entre EUA e China.
A escalada tarifária, os bloqueios tecnológicos e as disputas geopolíticas refletem não apenas uma competição por protagonismo, mas um choque de modelos e visões de mundo. Cenários como esses destacam a importância de contar com um gestor profissional.
O que você precisa saber: O presidente Donald Trump escalou a tensão contra o Federal Reserve após demitir a diretora Lisa Cook. O movimento acontece poucos dias antes da próxima reunião de juros.
A pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o Federal Reserve chegou a um ponto sem precedentes na história. Trump publicou uma carta na qual demitia Lisa Cook, diretora do banco central americano.
A acusação? Supostas fraudes em empréstimos hipotecários. O presidente afirmou que há provas suficientes para comprovar os pedidos falsos em hipotecas. A situação escalou ainda mais após o diretor da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos Estados Unidos, William Pulte, afirmar que as investigações foram realizadas de forma regular, e não pertencem a uma “caça às bruxas” contra a oposição.
Lisa Cook, por sua vez, não aceitou a derrota. Ela se recusou a deixar o cargo e entrou com uma ação na Justiça, alegando que Trump não tem autoridade para tirá-la de lá. O ponto-chave dessa batalha está na lei que rege o Fed, que exige a comprovação de uma falta grave para que um membro seja demitido. Essa disputa é um marco, pois coloca à prova os limites do poder presidencial.
Qual a relevância dessa relação?
Qual a importância dessa decisão? A resposta está nas ambições de Donald Trump. Desde que assumiu a presidência, o líder americano tem pressionado Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, a reduzir as taxas de juros. As ameaças e os xingamentos — como “burro” e “teimoso” — viraram rotina. Trump, que curiosamente foi quem indicou Powell, agora o acusa de ter motivações políticas para não reduzir os juros, alegando que o país já deveria estar com taxas “pelo menos dois a três pontos abaixo”.
Com a possível saída de Cook, abre-se uma nova vaga no Conselho de Governadores do Fed e a oportunidade de Trump indicar alguém mais alinhado aos seus interesses. Cook é uma das 12 integrantes responsáveis por definir a política de juros nos Estados Unidos.
Se a saída da economista se concretizar, Trump poderá ampliar sua influência na composição do conselho do Fed. Ele já nomeou Michelle Bowman para ser a principal reguladora bancária do banco central e, segundo rumores, estaria pensando em Christopher Waller para suceder Powell.
E como está a política de juros?
A grande expectativa está para a próxima reunião de juros em setembro. Na sua participação no Simpósio de Jackson Hole, Powell abriu uma porta, ainda que tímida, para um corte na taxa de juros. Jerome Powell afirmou em seu discurso anual em Jackson Hole que, diante de um cenário de elevada incerteza, há possibilidade de cortes de juros à frente, ainda que de forma cautelosa. Hoje, os juros se encontram na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.
O chairman do Fed destacou que a política monetária já se encontra em “território restritivo” e que o equilíbrio de riscos entre crescimento e inflação está mudando, o que pode justificar ajustes na postura atual. Ele reforçou que o mercado de trabalho segue forte e a economia mostra resiliência, mas os riscos de desaceleração aumentaram. Apesar disso, poucos dias depois, a segunda prévia do PIB do segundo trimestre foi revisado para 3,3% anualizado, acima da previsão anterior de 3,0%.
Por fim, em meio ao velho debate sobre a independência do Fed e a um possível corte nos juros, o presidente do BC mandou um recado claro: as decisões serão tomadas com base em dados econômicos, e não em pressões políticas – reafirmando a independência da instituição.