Vocês estão gostando das cartas semanais? Por favor, nos enviem opiniões nos comentários ao final da página.
Temos sido repetitivos no alerta para a importância da aprovação da PEC dos Precatórios. Temos reforçado que uma solução, mesmo que ruim, que equacione o aumento dos gastos com o novo benefício social e parcelamento do pagamento dos precatórios em 2022, será infinitamente melhor que a completa indefinição. Para que o mercado passe a operar mais pautado aos fundamentos de fato, é absolutamente necessário virarmos essa página.
Já era sabido que a tramitação no Senado imporia uma negociação mais complexa. A semana terminou com algum avanço nas discussões e parece surgir um caminho de consenso entre as duas casas. Entretanto, esse avanço marginal não foi suficiente para reverter por completo a piora dos ativos domésticos. Pesam sobre os preços, principalmente da bolsa, a constatação da já presente desaceleração atividade. Observa-se a redução da produção industrial e, mais recentemente, temos evidências de redução da demanda por bens, o que corrobora com a queda de vendas no varejo constatada em agosto e setembro.
E por falar em varejo, a divulgação dos resultados das empresas do Bovespa continuou nessa semana e esse setor em particular parece já estar sendo impactado pelas condições financeiras mais apertadas da economia. Inflação mais alta e projeção de Selic ainda mais elevadas parecem pressionar o consumo. Isso reforça ainda mais a importância da responsabilidade fiscal. O banco central precisa da ajuda do governo na busca de uma solução rápida e minimamente aceitável para a crise de confiança gerada pela decisão de se desrespeitar o teto de gastos. Pisar no acelerador dos gastos implica em forçar a autoridade monetária a pisar ainda mais forte no freio, subindo os juros mais do que seria necessário, caso os gastos futuros permaneçam contidos.
Além de continuarmos a acompanhar de perto as discussões para a aprovação da PEC, na próxima semana teremos a divulgação de dados econômicos domésticos relevantes. Teremos ainda mais subsídios para avaliar o impacto na economia dessa crise recente. Devemos continuar a observar piora nas projeções de crescimento e inflação para 2022 na divulgação do Relatório Focus do Banco Central. Confiança do consumidor, contas externas e principalmente o IPCA-15 fecham a lista.
Não alteramos nossa estratégia. Permanecemos mais defensivos em nossa posição de renda variável e mais construtivos com posições prefixadas implementadas através de ativos isentos de imposto de renda. A volatilidade deverá se manter elevada, mas estamos certos que a promulgação da PEC dos Precatórios será suficiente para reduzir pelo menos parte do prêmio de risco exigido pelo mercado nos ativos brasileiros. E que viremos essa página logo.
Aproveitem o seu fim de semana!
Edu Castro Chief Investment Office Portofino Multi Family Office
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Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Office) na Portofino Multi Family Office.
”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo para clientes Portofino que traz uma visão técnica sobre o que aconteceu no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.
Terminamos a carta da semana passada nos colocando cautelosamente mais otimistas com o mercado local. Nossa expectativa se confirmou! Diferentemente do que observamos nos últimos meses, os ativos brasileiros se destacaram nesta semana. Depois de flertar com os 103 mil pontos, o Ibovespa termina a semana mais próximo dos 106 mil, com melhor desempenho comparado a outras bolsas pelo mundo. O real foi uma das moedas que mais se valorizou na semana contra o dólar, quando comparado às moedas dos países desenvolvidos e às dos nossos pares emergentes. As taxas dos títulos prefixados cederam por volta de 1% dos máximos observados no início do mês.
Não que tenhamos tido melhoras importantes do lado macroeconômico, pelo contrário. A inflação de outubro voltou a surpreender o mercado. Esperava-se 1,06%, veio 1,25%! Para termos a correta dimensão do tamanho do problema que nosso banco central está tendo que lidar, a inflação observada foi a mais alta para o mês de outubro desde 2002.
Do lado da atividade, as notícias também não têm sido positivas. O resultado do setor de serviços e vendas no varejo também decepcionaram e vieram bem piores do que os analistas projetaram. Tudo leva a crer que as condições financeiras mais apertadas já começam a afetar negativamente o crescimento do PIB.
O que explica então a melhora dos nossos ativos? A combinação de um cenário externo, onde a despeito de pressões inflacionárias, os bancos centrais ainda mantêm a estratégia de maior parcimônia na retirada dos estímulos monetários, com um ambiente político doméstico menos incerto quanto à condução da nossa política fiscal.
Tivemos essa semana a aprovação em segundo turno da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados. A partir de agora, o projeto passa a ser discutido no Senado Federal. O prognóstico é de aprovação, mas ainda não se tem a certeza se potenciais alterações no texto da emenda constitucional forçariam a recondução do projeto à Câmara. A conferir e acompanhar.
Os investidores institucionais ajustaram suas posições ao longo destas últimas semanas. Fundos multimercados e mesmo pessoas físicas se viram obrigados a reduzir os riscos de suas carteiras em ativos locais, juros e bolsa, principalmente. Mesmo aqueles que se posicionaram para ganhar com a piora também aliviaram suas posições. Hoje, podemos afirmar sem receio de errar que o risco da indústria de multimercados em ativos brasileiros é o menor dos últimos anos.
A participação do Brasil nos portfólios dos investidores internacionais também é a menor em décadas. Investidores não-residentes detêm por volta de 10% apenas da nossa dívida interna e essa participação vem diminuindo constantemente ao longo do tempo. Esses ajustes de posição tanto dos investidores locais quanto dos estrangeiros reduzem a pressão por mais vendas forçadas. No linguajar do mercado, o equilíbrio técnico do mercado melhorou significativamente.
Estamos longe de ficarmos otimistas o suficiente para, neste momento, recomendarmos um aumento generalizado do risco das nossas carteiras. Isso não significa que já não tenhamos começado a aproveitar dos excessos. Nossa recomendação de alocação em ativos prefixados, isentos de imposto de renda emitidos por bancos de primeira linha, se mostrou acertada.
A próxima semana vai ser menos intensa do ponto de vista da divulgação de dados econômicos domésticos. Nosso foco continuará no acompanhamento da aprovação da PEC. Temos sido vocais em afirmar que um acordo em bases ruins é melhor que a persistência da indefinição. Virada essa página, os mercados terão condições de precificar mais corretamente o risco de solvência da nossa dívida e alguns poderão retornar às compras. Nesse nível de juros e câmbio, institucionais estrangeiros pelo menos voltaram a cotar as tesourarias e corretoras para compra de títulos do Tesouro. Ainda nos mantemos cautelosamente otimistas e continuamos atentos às oportunidades que o exagero porventura provoque.
Aproveitem o feriado com suas famílias.
Edu Castro Chief Investment Office Portofino Multi Family Office
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Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Office) na Portofino Multi Family Office.
”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo para clientes Portofino que traz uma visão técnica sobre o que aconteceu no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.
É difícil esconder a frustração com a piora recente dos mercados brasileiros. Em um momento que observamos o mundo se recuperando do impacto da pandemia na economia mundial, o Brasil destoa e não se permite surfar essa onda, única e exclusivamente devido às escolhas equivocadas da nossa classe política. A discussão entre os analistas já flerta com comparações aos piores momentos do governo Dilma Rousseff.
Avaliamos como sendo precipitadas algumas comparações, entretanto parecem inequívocas algumas semelhanças. Avançamos em reformas estruturantes. Há de se reconhecer que a Reforma da Previdência aprovada neste governo foi ainda mais agressiva que a anteriormente tentada pelo governo Temer. Projeta-se uma economia de mais de R$ trilhão em 10 anos. Aquém do que se pretendia, é verdade, há avanços nos processos de privatização da Eletrobras e a dos Correios, ainda em um estágio inicial.
Temos também um cenário externo mais benigno favorecendo nossas contas externas com aumento da nossa exportação de commodities tanto no “quantum” como no preço. A alavancagem do setor público e privado é menor e o balanço das empresas e das famílias encontram-se mais saudáveis. Semelhanças? A potencial desancoragem inflacionária e fiscal.
Temos constantemente questionado o quanto desse cenário ainda incerto já foi incorporado nos preços dos ativos. Particularmente na Bolsa, permanecemos mais cautelosos dado que continua complicado prever o impacto dos juros mais altos e da piora das condições financeiras de forma geral sobre o crescimento econômico e sobre o resultado das empresas. Mantemos nosso posicionamento mais cauteloso com uma carteira de renda variável bem mais defensiva quando comparada ao início do ano. Relembrando que aumentamos nossa exposição em bolsas internacionais, Estados Unidos e China principalmente, zeramos posicionamentos direcionais em índices de bolsas locais, Ibovespa e “Small Caps”, e privilegiamos a alocação em gestores de fundos “long biased”. Esses gestores mantêm estruturalmente maior exposição em caixa além de trabalharem com parte dos seus portfólios vendida.
Na renda fixa pós-fixada, mantemos nossa saga em procurar bons créditos privados indexados em CDI + taxa, mas reconhecemos a dificuldade de escalar essa estratégia sem termos que renunciar a retorno ou elevar imprudentemente o risco de crédito. A própria disfuncionalidade do mercado de juros observada recentemente e o receio quanto à materialização de um cenário de estagflação pouco contribuem para que boas empresas acessem o mercado de capitais nesse momento. Como alternativa, temos aumentado nossas alocações em fundos de crédito estruturado que, a despeito do cenário, mantêm suas carteiras com posições bem equilibradas do ponto de vista do risco e retorno. Isso também vale para os ativos indexados em IPCA + taxa.
A novidade está na nossa decisão de iniciar gradativamente um aumento do risco das nossas carteiras em ativos prefixados. Quando analisamos nossa curva futura de taxa de juros já podemos verificar a precificação de aumentos da Selic em adicionais 6%. Confirmada a projeção do mercado, o ciclo de juros só seria interrompido pelo Banco Central por volta de 13,75%. Parece exagerado visto que comungamos com a visão de parte dos analistas que julgam ser suficiente a elevação da Selic para 12% de modo a estabilizar as expectativas da inflação. Esse prêmio adicional de 1,75% aguenta certo desaforo e nos deixa relativamente mais otimistas com a posição. Podemos verificar também poucos fundos multimercados posicionados acreditando na continuidade da abertura da curva corroborado pelo anúncio do Tesouro Nacional de que, em coordenação com o Banco Central, atuará na compra de títulos do mercado caso avalie ser necessário. A assimetria de preços nos parece favorável.
Implementaremos essa estratégia de forma paulatina até porque ainda existem incertezas a serem monitoradas. A votação da PEC dos Precatórios foi mais uma vez adiada para a quarta-feira da próxima semana e sua aprovação se faz necessária para garantir a limitação dos gastos com verbas adicionais para emendas dos parlamentares e com o novo Bolsa Família limitados a cerca de R$ 100 bilhões. A desistência desse caminho poderá suscitar volatilidade adicional nos mercados o que justifica nossa prudência na implementação da estratégia. Do ponto de vista dos ativos, daremos preferência aos ativos isentos de imposto de renda emitidos pelos grandes bancos de modo a adicionar uma proteção extra, contra eventuais pioras do mercado.
Como sempre diz um grande amigo do mercado — “Esse é o nosso Brasil, às vezes enverga, mas não quebra!”. Mesmo com todas as incertezas geradas pela decisão de se flertar com a imprudência nos gastos públicos e macular o guardião do arcabouço fiscal, o teto de gastos, não aventamos a possibilidade de mudança estrutural do regime ou de um estado de dominância fiscal.
Aproveitem o feriado com suas famílias. Descansem, porque semana que vem tem mais!
Edu Castro Chief Investment Office Portofino Multi Family Office
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Mais um dia tenso e de extrema volatilidade nos mercados. Confesso que o fechamento me deixou um pouco mais tranquilo. O drible dado pelo governo à regra do teto deixou os mercados completamente disfuncionais nos últimos dias, hoje em especial. O anúncio da permanência do ministro Paulo Guedes na pasta da economia e as palavras de suporte vindas do presidente Jair Bolsonaro foram o gatilho para um importante ajuste dos preços dos ativos brasileiros ao longo da tarde.
A despeito da insistência na retórica de manutenção do arcabouço fiscal e respeito ao teto, a verdade é que a estratégia escolhida para acomodar o novo Bolsa Família no orçamento quebrou a confiança dos agentes. Temos um novo normal fiscal, entramos em um regime diferente. Este novo regime fragiliza o controle dos gastos dado que se perdeu a antiga âncora fiscal. Novo regime, novo cenário, novos preços. Pode soar prematuro, mas é razoável afirmar que já contratamos um ambiente de inflação ainda mais pressionada, juros estruturalmente mais altos, crescimento ainda menor para o próximo ano e câmbio mais depreciado.
Ao longo da semana que vem, começaremos a conviver com as reais consequências da decisão tomada pelo governo. O Comitê de Política Monetária – COPOM – se reúne na próxima quinta-feira para deliberar sobre a nova taxa SELIC. Até antes de toda essa crise, nosso banco central vinha sendo vocal quanto a sua estratégia de gradualismo na estratégia de condução da política monetária. O plano de voo sempre foi aplicar passos de aumento de 1%, enquanto monitorava a manutenção da ancoragem das projeções de inflação, principalmente para um horizonte de 12 a 18 meses à frente. Plano esse sempre condicionado à manutenção da austeridade nos gastos públicos.
Hoje a curva de juros futuros, considerando a melhora após o anúncio de permanência do ministro, precifica a 1,5% e é altamente provável que o Banco Central ratifique as expectativas do mercado. Os economistas começam a revisar suas projeções e tudo indica que migrem para um final de ciclo por volta de 11% ou um pouco mais. Selic de dois dígitos, observada pela última vez no primeiro semestre de 2017. O custo econômico da decisão tomada de forma atabalhoada deverá ser bastante superior aos R$ 80 bilhões pretendidos pelos congressistas. Somente o aumento do serviço da dívida pública com o pagamento de juros maiores e menor arrecadação em função da retração da atividade superarão este montante.
Quanto ao custo político para o presidente da república, difícil de se traduzir em números, porém certamente será relevante. A conferir.
Bom fim de semana a todos.
Depois desses últimos dias, todos merecemos!
Edu Castro Chief Investment Office Portofino Multi Family Office
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Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Office) na Portofino Multi Family Office.
”Causa e Efeito” é um conteúdo exclusivo para clientes Portofino que traz uma visão técnica sobre o que aconteceu no mundo, na semana e seus reflexos nos mercados financeiros globais.
Quem diria que chineses também tem feriados prolongados? O calendário da “Golden Week” por lá começou na segunda, com uma boa dose de delirium tremens em terras tupiniquins, por conta da síndrome de separação experimentada por desesperados usuários, de um Whatsapp inoperante.
4 Meses} Reconheço que ando me repetindo. Mas, o faço na esperança de provocar uma reflexão útil. Relembremos as narrativas que dominaram o último quadrimestre, de Junho à Setembro. O final de junho foi atrapalhado pelo balde de água fria que representou a versão inicial da proposta de reforma tributária. Já julho padeceu de ruídos em torno do parcelamento de precatórios, votação eletrônica, e bolsa família. Em agosto, foi a divulgação da proposta de orçamento do governo para 2022, que pareceu ter azedado o finalzinho do mês. Agora em Setembro, somos surpreendidos com o susto da chinesa Evergrande, e até com uma crise energética mundial (quem diria? não estamos sozinhos!) que parecia não estar no radar de ninguém. Já como humanidade, parece que aprendemos à conviver com o desenrolar da crise Covid, ao mesmo tempo que cicatrizamos das feridas por ela causadas. Meu ponto? Me parece haver um certo mau humor desmesurado, quase um catastrofismo, que tomou conta do noticiário, e foi amplamente abraçado pelo mercado financeiro. Não quero parecer sofrer de um caso agudo de Polianismo, mas, neste curto prazo, parece haver muito ruído e pouco sinal nestes desenvolvimentos.
Conflito de Interesses IA crise política “da semana” esteve centrada em torno dos investimentos no exterior do nosso ministro Guedes, em particular através de uma companhia de investimentos offshore. Já temos combinado aqui entre a gente, que investir além de nossas fronteiras é algo que proponho faça parte das considerações de todas nossas famílias, em proporções a serem ajustadas conforme o caso. Está posto também que o câmbio provavelmente não apresenta um momento propício para realizar grandes movimentos. No entanto, meu ponto aqui é outro. Offshores são veículos absolutamente legais, cuja declaração no IRPJ segue regras bem definidas. A crítica da mídia centrou-se num potencial conflito de interesses do nosso chefe das finanças, ao considerar o impacto de decisões econômicas em suas finanças pessoais. A chamada “teoria do agente-principal”, ou, em inglês, “agency dilemma” cobre justamente este tipo de situação onde uma pessoa (o agente) tem capacidade de tomar decisões ou executar ações que impactem à outro (o principal), e pode se ver tentado a agir em seu próprio benefício e interesse, que pode ser contrário ao do principal. Na literatura, este tipo de problema é amplamente estudado por pensadores como Danny Kahneman, e provocadores como Nassim Taleb. Independentemente da situação específica do ministro, este “conflito de agência” é presente em uma séria facetas do nosso dia a dia, e é exacerbado sempre que há uma grande assimetria informacional entre as duas partes.
Conflito de Interesses II Me explico. Se você, como eu, adora carros antigos – sim, aqueles dotados daquele esquisito terceiro pedal, e que teimam em pingar óleo – então é forçado à frequentar oficinas mecânicas. E, à menos que você seja um entusiasta do assunto, há uma assimetria informacional enorme entre você e o mecânico. Ou seja, é muito difícil questionar um diagnóstico, ou mesmo validar o escopo de um dado serviço de reparo. Para piorar a situação, as decisões tomadas pelo agente (neste caso, o mecânico) tem impacto financeiro direto sobre o principal (o dono do veículo), já que cada peça trocada, ou cada serviço executado, é adicionado à conta final. Terreno fértil para oficinas inescrupulosas, e motivo, penso eu, que tantos de nós optamos por trocar carros assim que a garantia expira, ou mesmo partir para os sistemas de assinatura que andam se popularizando.
Conflito de Interesses III Bem, este introito demorado me permite chegar no ponto que buscava. Serviços financeiros claramente oferecem inúmeras armadilhas no sentido de conflito de interesses. Os antigos já sabiam disso, e a frase em latim “caveat emptor” (ou “comprador, (tome) cuidado”) expressa justamente o cuidado que consumidores (investidores, neste caso) precisam exercer. Modernidades como a internet, assim como pressão regulatória, acabaram por jogar muita luz no assunto, e buscam trazer transparência e acesso rápido à informação sobre o mercado. Mas, o “senhor mercado” infelizmente teima em reagir com crescente complexidade, tecnicalidades, e jargão próprio. Penso que um dos maiores conflitos de interesse do mercado é o recebimento, de forma não divulgada ou não transparente, de benefícios, vantagens e comissões pela venda de produtos – fazendo com que o investidor eternamente se pergunte à qual interesse aquela sugestão de alocação realmente atenderia. Conflitos de interesse infelizmente são da natureza humana. Lhes deixo com minha recomendação de que sempre cobrem de seus assessores, consultores e gestores total transparência na forma como são remunerados, e um alinhamento de interesses que só é possível por aqueles que priorizam elevados padrões de conduta, como a adesão ao dever fiduciário. Para os que ainda não são nossos clientes, fica o convite para vir conhecer a tranquilidade e os resultados que uma relação transparente oferece.
Concluo esta carta mais curtinha – afinal, é sexta-feira véspera de feriado! – com uma recomendação de uma excelente série na Amazon Prime. “Nine Perfect Strangers”, traduzido como “Nove Desconhecidos”, é tanto estrelado como co-produzido pela minha diva Nicole Kidman. Os que me acompanham desde o final do ano passado se lembrarão da minha recomendação pela série da HBO “The Undoing”, na carta #64, com a mesma multitalentosa Nicole. As duas séries compartilham a curta duração, 8 episódios no caso dos 9 desconhecidos, que encaixa bem com minha auto-promessa de não enveredar por séries que me levarão anos para assistir. A trama é baseada no romance homônimo da australiana Liane Moriarty, e gira em torno do retiro espiritual proporcionado pela “Tranquilium House” – que de tranquila pouca coisa tem. Em outras notícias, aproveito para lembrar que a famosa série “Billions” voltou à filmar e lançar novos episódios, depois de ter sido interrompida no meio da quinta temporada por conta da Covid. Prometo que você vai tomar um susto ao ver o novo visual do Chuck. Já Axe permanece o vilão adorável de sempre.
Esta carta semanal tem o objetivo de fazer um apanhado breve e bem-humorado das notícias do mercado financeiro, com foco nos temas de gestão de riqueza e planejamento financeiro. O texto não constitui nenhuma oferta de produto financeiro, ou recomendação de investimento. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem o posicionamento oficial da Portofino Multi Family Office.
Pedro Saboia é sócio da Portofino Multi-Family Office, investidor profissional, CEA (Certificação de Especialistas em Investimentos ANBIMA) e Consultor de Valores Mobiliários autorizado pela CVM, conforme instrução 592. A Portofino cuida das pessoas para que alcancem um futuro financeiro equilibrado – com ética, transparência e responsabilidade. Quer conhecer mais? Agende uma conversa.
Mais uma semana de extrema volatilidade nos mercados! No Brasil, qual a razão de um fechamento tão forte do Ibovespa e queda nas taxas prefixadas no pregão de hoje? Nos Estados Unidos, o que explica a recuperação do SP500 das mínimas da semana?
Temos insistido na tese de que os mercados irão, no fim das contas, tentar precificar se um aumento significativo da inflação, independente se por restrição de oferta, aumento da demanda ou os dois simultaneamente, forçará os bancos centrais a anteciparem a retirada de estímulos e consequentemente antecipar a elevação dos juros. Ao fim e ao cabo, quão ameaçado estará a continuidade do crescimento das economias passado o pico da pandemia.
Localmente, depois de uma sequência de dados bastante ruins, o IPCA de setembro, divulgado hoje, surpreendeu positivamente. A mediana das estimativas apontava para 1,25% e o número divulgado registrou “apenas” 1,16%. O índice de difusão, número que mostra o percentual dos bens e serviços que registraram alta no mês, caiu de 71,9% para 65%. É muito provável que a inflação de 12 meses em 10,25% tenha atingido o seu pico. Do lado da atividade, os dados de vendas no varejo, também divulgados durante a semana, vieram bem abaixo do esperado pelo mercado, queda de 3,1% contra uma expectativa de alta de 0,7%.
Simplificando, menos inflação e menor crescimento implicariam em um ciclo mais curto de aumento de juros. Bom para posições prefixadas e para a renda variável.
Lá fora, exceção feita ao petróleo, pudemos observar algum arrefecimento nos preços das commodities de energia, principalmente o gás natural. Nos Estados Unidos, a criação de empregos formais mais uma vez surpreendeu negativamente. O banco central americano tem o duplo mandato de, em simultâneo, controlar a inflação e reduzir o desemprego. Dados positivos, na margem, relativos aos preços de energia e piores quanto à criação de emprego, no mínimo, reforçam a tese de retirada gradual de estímulos e pouca urgência para o aumento dos juros. Mais crescimento com inflação controlada, mesmo que em níveis historicamente mais altos, é bom para ativos de risco.
A sexta-feira termina mais positiva, sem dúvida. Será essa dinâmica de maior ou menor inflação, juros e crescimento que continuará ditando a volatilidade dos mercados, sempre dependente dos dados a serem divulgados ao longo do tempo e da continuidade ou não da recente pressão nos preços das commodities.
Semana que vem tem mais! Edu Castro Portofino Multi Family Office
Eduardo Castro é CIO (Chief Investment Office) na Portofino Multi Family Office e semanalmente escreve a carta ”Causa e Efeito”. Um conteúdo descomplicado, com a sua visão técnica e reflexiva sobre o que aconteceu no mundo e os reflexos nos mercados financeiros globais. Aproveite a leitura!
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