O índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA subiu 0,3% em junho, com a inflação anual acelerando para 2,7%, acima das expectativas de mercado. A alta foi impulsionada principalmente por energia, alimentação e efeitos indiretos das tarifas comerciais recentemente impostas. Como reflexo, as taxas dos Treasuries subiram e as bolsas recuam na manhã desta terça-feira (15), diante da percepção de que o processo de desinflação pode estar perdendo força.
O dado reforça a postura mais cautelosa do Federal Reserve, que interrompeu sua trajetória de cortes de juros e manteve a taxa básica entre 4,25% e 4,50% nas últimas três reuniões. Parte da preocupação vem dos potenciais efeitos inflacionários das políticas do governo Trump — como tarifas sobre importações e restrições à imigração — que aumentam pressões de custo e reduzem a oferta de trabalho. O cenário amplia a incerteza monetária e exige atenção redobrada quanto à alocação em ativos sensíveis a juros e inflação.
Fernando Godoy cursou Administração de Empresas na FGV com foco em Gestão Estratégica, atuou por 2 anos em empresa de capital aberto e possui 9 anos de experiência no mercado financeiro, com ênfase em investimentos internacionais. Está no time da Portofino MFO há 7 anos, 5 deles como sócio.
O que você precisa saber: Em maio, o IBC-Br (um indicador que mede a atividade econômica no Brasil) caiu 0,7% em relação ao mês anterior, um resultado pior do que o esperado pelo mercado, que previa estabilidade (-0,02%).
A queda foi puxada principalmente pelo setor agropecuário (-4,2%) e também pela indústria (-0,5%), que já vem apresentando fraqueza há dois meses. O setor de serviços ficou estável, mas sem crescimento.
Apesar do resultado fraco em maio, o acumulado dos últimos 12 meses ainda mostra crescimento (4,0%). No entanto, os números indicam que a economia está perdendo fôlego, com perspectivas mais modestas para os próximos meses.
Resultado ajuda o BC no discurso de interrupção das altas de juros
O fraco desempenho do IBC-Br em maio reforça a tendência de desaceleração da economia brasileira, algo que já vinha sendo sinalizado por outros indicadores. Essa perda de ritmo está relacionada aos efeitos dos juros altos, que continuam freando a atividade, ajudando no discurso do Banco Central de interromper as altas de juros.
Thomás Gibertoni Sócio | Portfolio Manager
É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.
O que você precisa saber: Nos últimos dias, o presidente Donald Trump impôs uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros. Nesta carta, o nosso sócio e CIO, Eduardo Castro, repercute os impactos dessa decisão do governo americano.
O mercado ontem debateu as consequências do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, uma medida de cunho político que sacode a economia doméstica e os ativos locais. Contudo, para um governo já nas cordas, a crise oferece uma nova narrativa que pode desviar o foco de suas fragilidades e reacender a polarização em seu favor.
Na carta enviada ao governo brasileiro, Donald Trump justificou as tarifas como resposta à “caça às bruxas” conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Descrito como uma “vergonha internacional”, o processo foi alvo de exigência de interrupção imediata, grafada em letras maiúsculas. Trump também alegou “censura ilegal” contra plataformas americanas de mídia social e violações à liberdade de expressão. A única justificativa econômica, baseada em dados equivocados sobre déficit comercial, reforça a percepção de que a decisão é movida por antagonismo ideológico com o governo Lula, e não por fundamentos sólidos.
O argumento de uma relação comercial “injusta” não se sustenta. O Brasil é o único entre os países que receberam cartas semelhantes a apresentar déficit comercial consistente com os EUA nos últimos anos. Enquanto isso, a balança comercial americana é amplamente deficitária com parceiros como México, Canadá, China, Alemanha e Japão, expondo a fragilidade da justificativa econômica.
Impactos econômicos: moderados, mas setoriais
Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras, absorvendo, em 2024, US$ 40 bilhões, ou cerca de 11% do total, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Os principais produtos incluem petróleo bruto (14%), semimanufaturados de ferro ou aço (13%), aeronaves e partes (11%), carne bovina (2%), café (1,7%), celulose (1,5%) e suco de laranja (1,2%).
Embora commodities possam, com o tempo, encontrar novos mercados, empresas como a Embraer e WEG seriam particularmente mais afetadas, dado o peso do mercado americano para suas vendas. Se as tarifas persistirem, o setor enfrenta perdas significativas, evidenciando a fragilidade de áreas dependentes de exportações. Setorialmente, o impacto pode não ser desprezível.
Arena política: das cordas à nova narrativa
O governo Lula já estava nas cordas, acuado por derrotas no Congresso — como a derrubada do aumento do IOF, a reversão de vetos presidenciais e a investigação de fraudes bilionárias no INSS, com potencial de minar ambições de reeleição. Contudo, a crise com Trump oferece uma oportunidade: uma narrativa de resistência ao “imperialismo americano” que pode desviar o foco das fragilidades internas e galvanizar a base petista.
A guerra de narrativas entre esquerda e direita já começou:
Esquerda: acusa Trump de violar a soberania nacional ao tentar pressionar o Executivo a interferir no STF, ferindo a separação de poderes. O PT pode explorar essa narrativa para se posicionar como defensor da independência brasileira, fortalecendo seu discurso contra o “imperialismo yankee”.
Direita: argumenta que a falta de habilidade diplomática de Lula, ao priorizar ideologia, provocou a resposta americana. Citam a negociação pragmática da presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, como um exemplo de diplomacia eficaz que o Brasil não adotou.
Ambas as perspectivas têm racionalidade, mas o caso brasileiro é complexo: como negociar sem comprometer a soberania ou interferir no STF? Para o governo, estar nas cordas já era uma realidade; agora, a crise com Trump oferece um contra-ataque narrativo que pode reenergizar sua base.
Reação dos mercados e o papel de Bolsonaro
Os mercados reagiram com volatilidade moderada: segundo dados de ontem, até o final do dia, os juros futuros abriram 0,20%, o câmbio desvalorizou 0,8% e o Ibovespa caiu menos de 2%. Essa resposta contida reflete a aposta no padrão “TACO” (Trump Always Chickens Out, ou “Trump Sempre Arrega”), termo cunhado pelo Financial Times para descrever a tendência de Trump de anunciar tarifas elevadas, como contra China e União Europeia, e depois recuar ou negociar.
Interlocutores de Jair Bolsonaro sugerem que ele poderia intervir junto à Casa Branca para mitigar os impactos econômicos, já que as tarifas foram justificadas como apoio a ele. Contudo, a polarização dificulta avanços: o PT pode amplificar a narrativa de “nós contra eles”, elegendo o imperialismo americano como inimigo, enquanto Trump usa o Brasil para projetar sua força global, honrando a promessa de “Make America Great Again” (MAGA).
Conclusão: das cordas ao ringue da polarização
Como dizia Tom Jobim: “o Brasil não é para amadores”. A crise das tarifas expõe as fragilidades do governo, mas também lhe dá uma nova narrativa para sair das cordas. Ao posicionar Trump como vilão, o PT pode reacender a polarização contra bolsonaristas, desviando atenções de escândalos e derrotas. Os mercados, por ora, precificam volatilidade, mas apostam em um recuo de Trump. Se o padrão “TACO” prevalecer, o estrago econômico pode ser menor, mas o impacto político já alimenta a imprevisibilidade das eleições de 2026.
Cenas dos próximos capítulos.
Eduardo Castro Sócio | Chief Investment Officer
“Gestão Dinâmica” é um boletim com pontos relevantes do mercado comentados pelo nosso Chief Investment Officer, Eduardo Castro.
O que você precisa saber: O IPCA (índice oficial de inflação) de junho ficou acima do esperado pelo mercado (0,20%), mas desacelerou em relação a maio (0,24%, ante 0,26%). No acumulado de 12 meses, porém, houve uma leve alta (de 5,32% para 5,35%).
Inflação dos núcleos (medidas que o BC acompanha de perto): Algumas dessas medidas subiram mais que o esperado, como serviços (0,44%, ante 0,42%). No entanto, os indicadores suavizados (que mostram tendências) melhoraram significativamente.
Indústria: queda de 4,6% para 3,5% em 3 meses.
Serviços: queda de 7,4% para 3,5% em 3 meses.
Média dos núcleos de inflação: queda de 5,3% para 4,8% em 3 meses.
Conclusão Apesar de algumas pressões, a inflação de junho reforça que o pior momento já passou. O número não é tão bom quanto os anteriores, mas também não é ruim. A melhora nos indicadores de tendência apoia a visão do Banco Central de que os juros altos já estão fazendo efeito na economia e terão impacto ainda maior no futuro.
Thomás Gibertoni Sócio | Portfolio Manager
É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.
O que você precisa saber: O Banco Central do Brasil aumentou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 15%, e sinalizou a manutenção da taxa restritiva por tempo prolongado. Nos EUA, o Federal Reserve manteve a taxa inalterada pelo quarto encontro consecutivo.
O Federal Reserve manteve as taxas de juros inalteradas na reunião de hoje, na faixa entre 4,25% e 4,50%, mas ainda projeta realizar dois cortes até o fim do ano. A autoridade monetária reconhece que a inflação segue um pouco acima do desejado, especialmente com o impacto de novas tarifas sobre bens importados, o que traz incertezas adicionais.
Por outro lado, o crescimento econômico dos EUA deve ser um pouco mais moderado à frente. Embora haja opiniões divergentes dentro do próprio Fed sobre o ritmo e o momento dos cortes, a sinalização central continua sendo de um processo gradual e cuidadoso, à medida que os dados econômicos evoluem.
Adicionalmente, o conflito atual entre Irã e Israel adiciona novos riscos geopolíticos, especialmente sobre o preço do petróleo, o que pode gerar mais volatilidade e incerteza nos mercados. Diante desse cenário, mantemos uma postura conservadora e seletiva na alocação dos portfólios.
Burton Mello Portfolio Manager
O Banco Central (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros (Selic) para 15% ao ano, com um novo aumento de 0,25 ponto percentual. A medida reflete a preocupação da autoridade monetária com o controle da inflação, mesmo em um cenário econômico já marcado por juros elevados.
No comunicado oficial, o tom foi bastante firme, indicando que os juros devem se manter em um patamar alto por um tempo prolongado—uma estratégia conhecida como política monetária contracionista, que busca frear o consumo e, assim, reduzir a pressão sobre os preços.
O Copom também destacou que os riscos para a inflação estão equilibrados, ou seja, há possibilidades de tanto alta quanto queda nos preços no futuro. No entanto, a análise do Banco Central sugere que as pressões inflacionárias—como o aumento de custos ou a alta da demanda—parecem mais prováveis no momento.
O que você precisa saber Na última quarta-feira (11), o governo federal publicou duas medidas que alteram as regras de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e de tributação de imposto de renda sobre rendimentos financeiros no Brasil e exterior.
O nosso time de Wealth Planning preparou um material para te ajudar a entender as principais mudanças e seus impactos.