(Tempo de leitura: 6 minutos)

O que você precisa saber:
Nos últimos dias, o presidente Donald Trump impôs uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros. Nesta carta, o nosso sócio e CIO, Eduardo Castro, repercute os impactos dessa decisão do governo americano.


O mercado ontem debateu as consequências do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, uma medida de cunho político que sacode a economia doméstica e os ativos locais. Contudo, para um governo já nas cordas, a crise oferece uma nova narrativa que pode desviar o foco de suas fragilidades e reacender a polarização em seu favor.

Na carta enviada ao governo brasileiro, Donald Trump justificou as tarifas como resposta à “caça às bruxas” conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Descrito como uma “vergonha internacional”, o processo foi alvo de exigência de interrupção imediata, grafada em letras maiúsculas. Trump também alegou “censura ilegal” contra plataformas americanas de mídia social e violações à liberdade de expressão. A única justificativa econômica, baseada em dados equivocados sobre déficit comercial, reforça a percepção de que a decisão é movida por antagonismo ideológico com o governo Lula, e não por fundamentos sólidos.

O argumento de uma relação comercial “injusta” não se sustenta. O Brasil é o único entre os países que receberam cartas semelhantes a apresentar déficit comercial consistente com os EUA nos últimos anos. Enquanto isso, a balança comercial americana é amplamente deficitária com parceiros como México, Canadá, China, Alemanha e Japão, expondo a fragilidade da justificativa econômica.

Impactos econômicos: moderados, mas setoriais

Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras, absorvendo, em 2024, US$ 40 bilhões, ou cerca de 11% do total, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Os principais produtos incluem petróleo bruto (14%), semimanufaturados de ferro ou aço (13%), aeronaves e partes (11%), carne bovina (2%), café (1,7%), celulose (1,5%) e suco de laranja (1,2%).

Embora commodities possam, com o tempo, encontrar novos mercados, empresas como a Embraer e WEG seriam particularmente mais afetadas, dado o peso do mercado americano para suas vendas. Se as tarifas persistirem, o setor enfrenta perdas significativas, evidenciando a fragilidade de áreas dependentes de exportações. Setorialmente, o impacto pode não ser desprezível.

Arena política: das cordas à nova narrativa

O governo Lula já estava nas cordas, acuado por derrotas no Congresso — como a derrubada do aumento do IOF, a reversão de vetos presidenciais e a investigação de fraudes bilionárias no INSS, com potencial de minar ambições de reeleição. Contudo, a crise com Trump oferece uma oportunidade: uma narrativa de resistência ao “imperialismo americano” que pode desviar o foco das fragilidades internas e galvanizar a base petista.

A guerra de narrativas entre esquerda e direita já começou:

Esquerda: acusa Trump de violar a soberania nacional ao tentar pressionar o Executivo a interferir no STF, ferindo a separação de poderes. O PT pode explorar essa narrativa para se posicionar como defensor da independência brasileira, fortalecendo seu discurso contra o “imperialismo yankee”.

Direita: argumenta que a falta de habilidade diplomática de Lula, ao priorizar ideologia, provocou a resposta americana. Citam a negociação pragmática da presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, como um exemplo de diplomacia eficaz que o Brasil não adotou.

Ambas as perspectivas têm racionalidade, mas o caso brasileiro é complexo: como negociar sem comprometer a soberania ou interferir no STF? Para o governo, estar nas cordas já era uma realidade; agora, a crise com Trump oferece um contra-ataque narrativo que pode reenergizar sua base.

Reação dos mercados e o papel de Bolsonaro

Os mercados reagiram com volatilidade moderada: segundo dados de ontem, até o final do dia, os juros futuros abriram 0,20%, o câmbio desvalorizou 0,8% e o Ibovespa caiu menos de 2%. Essa resposta contida reflete a aposta no padrão “TACO” (Trump Always Chickens Out, ou “Trump Sempre Arrega”), termo cunhado pelo Financial Times para descrever a tendência de Trump de anunciar tarifas elevadas, como contra China e União Europeia, e depois recuar ou negociar.

Interlocutores de Jair Bolsonaro sugerem que ele poderia intervir junto à Casa Branca para mitigar os impactos econômicos, já que as tarifas foram justificadas como apoio a ele. Contudo, a polarização dificulta avanços: o PT pode amplificar a narrativa de “nós contra eles”, elegendo o imperialismo americano como inimigo, enquanto Trump usa o Brasil para projetar sua força global, honrando a promessa de “Make America Great Again” (MAGA).

Conclusão: das cordas ao ringue da polarização

Como dizia Tom Jobim: “o Brasil não é para amadores”. A crise das tarifas expõe as fragilidades do governo, mas também lhe dá uma nova narrativa para sair das cordas. Ao posicionar Trump como vilão, o PT pode reacender a polarização contra bolsonaristas, desviando atenções de escândalos e derrotas. Os mercados, por ora, precificam volatilidade, mas apostam em um recuo de Trump. Se o padrão “TACO” prevalecer, o estrago econômico pode ser menor, mas o impacto político já alimenta a imprevisibilidade das eleições de 2026.

Cenas dos próximos capítulos.

Eduardo Castro
Sócio | Chief Investment Officer

“Gestão Dinâmica” é um boletim com pontos relevantes do mercado comentados pelo nosso Chief Investment Officer, Eduardo Castro.

var submitted = false; jQuery(document).ready(function(){ jQuery('.et_pb_contact').find('form').each(function(){ var jqForm = jQuery(this); var jsForm = this; jqForm.submit(function(event){ event.preventDefault(); if(!submitted){ submitted = true; window.dataLayer.push({ 'event': 'formSubmit' }); } setTimeout(function() { submitted = true; jqForm.submit(); },300); }); }); });