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O que você precisa saber:
O cenário nos Estados Unidos está muito movimentado: próximo da reunião que pode cortar a taxa de juros, as tarifas, mercado de trabalho e imigração ainda são destaques.
Quando Donald Trump venceu a última eleição, ninguém esperava uma presidência sem turbulências. Pelo contrário: as expectativas eram de que o palco político global seria sacudido. E é exatamente isso que está acontecendo. Com medidas protecionistas e uma postura radical sobre imigração, ele coloca os Estados Unidos no centro de um furacão, e o mundo inteiro está de olho.
Em um cenário marcado pelo vaivém, o mundo acompanha atentamente as notícias que surgem sobre a política de tarifas. Longe das surreais taxas aplicadas no começo do ano – vide a de 145% para a China -, o momento se voltou para as tarifas de 50% aplicadas no Brasil. Diversos outros países continuam sob os holofotes da política tarifária do líder americano, como a União Europeia – que chegou a um recente acordo com os americanos -, a Índia – com taxas iguais a do Brasil -, entre outros.
Contudo, apesar de as tarifas estarem a todo vapor, a decisão de um tribunal federal as considerou ilegais. Agora, o presidente recorreu à Suprema Corte para os magistrados reverterem a decisão. Em meio a isso, as tarifas ainda continuam em vigor, já que a justiça permite a continuidade enquanto o processo avança. (Entenda mais aqui)
A relação de Trump com o Federal Reserve (o banco central americano) também é um capítulo à parte. As taxas que estão na faixa de 4,25% a 4,50% viram uma pequena fresta se abrir em direção a uma queda na próxima reunião – para a felicidade do presidente.
Trump está há meses pressionando Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, a reduzir as taxas de juros. As ameaças e os xingamentos — como “burro” e “teimoso” — viraram rotina. Curiosamente, foi o próprio Trump quem o indicou para o cargo em seu primeiro mandato, e agora o acusa de ter motivações políticas para não reduzir os juros.
E os ataques não se limitam somente a Powell. Trump mirou em Lisa Cook, uma das diretoras do Fed, após a demitir por supostas fraudes em empréstimos hipotecários. O caso não tem precedentes na história do país e reacende o debate sobre a independência do banco central. (Você pode mergulhar no assunto através deste link).

Apesar da pressão, o líder americano pode estar perto de ver seu desejo se realizar.
No importante simpósio de Jackson Hole, Powell sinalizou uma pequena abertura para um corte de juros, ainda que cautelosamente.
O chairman do Fed destacou que a política monetária já se encontra em “território restritivo” e que o equilíbrio de riscos entre crescimento e inflação está mudando, o que pode justificar ajustes na postura atual. Ele reforçou que as decisões seriam tomadas com base em dados econômicos, reafirmando que o Fed não se curvará a pressões políticas.
Porém, outros dados importantes precisam entrar na conta: o Livro Bege mostrou que as empresas estavam hesitantes em contratar trabalhadores, resultado da demanda mais fraca ou à incerteza. Além disso, também “quase todos os distritos observaram aumentos de preços relacionados a tarifas, com fontes de muitos distritos relatando que as tarifas tiveram impacto especialmente forte nos preços de insumos”.
Assim, os dados do mercado de trabalho também foram atualizados. O Payroll, por outro lado, mostrou sinais de desaceleração do mercado de trabalho em agosto, com a criação de apenas 22 mil empregos.
Os dados reforçam que o mercado de trabalho americano está perdendo fôlego, refletindo possivelmente os efeitos das políticas comerciais do governo Trump – especialmente as tarifas impostas em abril, que reduziram o volume de comércio e afetaram a atividade econômica.
Diante desse cenário, e considerando o duplo mandato do Federal Reserve (que busca equilibrar emprego e inflação), o fraco resultado de agosto é um sinal de que os juros podem cair na próxima reunião do Fed, mesmo com preocupações inflacionárias relacionadas às tarifas.
Nos dias 16 e 17 de setembro, teremos uma resposta quanto aos juros: Trump finalmente vai ver os juros caírem ou Powell continuará sendo “burro” e “teimoso” na visão do presidente?
E tem mais assunto…
Enquanto isso, em outras frentes, as promessas de Trump seguem sendo testadas. A promessa de acabar com a guerra no Leste Europeu em “24 horas” se mostrou uma ilusão. Oito meses de seu governo e o conflito entre Rússia e Ucrânia ainda é uma ferida aberta. Acordos de cessar-fogo frágeis e a morte de inocentes nos lembram que a guerra não é um jogo de palavras.
E se a situação não é nada animadora entre Rússia e Ucrânia, o mesmo pode-se dizer da guerra no Oriente Médio.
O – frágil – acordo de paz que Trump reivindicou para si ruiu como um castelo de cartas. Após alguns meses sem guerra na região e imagens emocionantes de reféns libertados, a impressão é que tudo voltou à estaca zero. Retratos desumanos e de violência voltaram a dar o tom nesse sangrento conflito entre Israel e Hamas.
Em meio a tantas manobras políticas, econômicas e militares, o mundo observa com atenção os desdobramentos das ações de Donald Trump. A cada decisão, ele redefine não somente o cenário interno dos Estados Unidos, mas também o equilíbrio global. Enquanto isso, seus aliados e adversários tentam se adaptar a essa nova dinâmica.