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O que você precisa saber:
O primeiro mês do segundo governo Trump trouxe à tona promessas de campanha como deportações em massa e a imposição de tarifas comerciais, que geraram repercussões internacionais e tensões diplomáticas. No Oriente Médio e no leste europeu, Trump busca acordos de paz, embora suas negociações levantem preocupações.
Assim como no começo de um livro, onde o primeiro capítulo define o tom e o ritmo da narrativa, o primeiro mês do segundo governo Trump dá os primeiros sinais sobre como será este novo mandato. As promessas de campanha, que antes soavam como ideias ainda em rascunho, agora ganham contornos mais definidos, revelando as direções que o governo pretende tomar em temas centrais como economia, imigração e relações internacionais.
Política de imigração
O primeiro plano que Donald Trump colocou em ação foi de deportação em massa dos imigrantes ilegais. A medida não repercutiu apenas nos Estados Unidos, mas em vários outros países, inclusive o Brasil. O processo gerou um desconforto diplomático entre os dois países quando os brasileiros que retornavam criticaram as condições em que foram transportados de volta.
O desconforto não foi apenas com o Brasil. A nossa vizinha Colômbia e uma das principais parceiras dos Estados Unidos na região também mostrou descontentamento com a forma que estava sendo conduzida a deportação de seus cidadãos. O rápido imbróglio foi o suficiente para que Trump colocasse outra carta na mesa: as tarifas.
Tarifas
Entretanto, ali era o início do próximo grande passo do governo americano. Dias após, Trump anunciou tarifas de 25% para produtos do México e Canadá, além da taxação de 10% sobre os produtos chineses importados para os EUA. Em resposta, a China impôs tarifas de 10% e 15% sobre importações dos Estados Unidos, medida que pode afetar cerca de US$ 14 bilhões em produtos.
Apesar da imposição das tarifas, os países fronteiriços viram o congelamento da medida por um mês, após os governos anunciarem reforços nas fronteiras. O presidente americano havia dito que usaria as tarifas para pressionar os vizinhos a reforçarem suas políticas para controlar o fluxo de drogas aos EUA, principalmente o fentanil, a droga que mais mata no país, e a entrada de imigrantes ilegais.
O tarifaço também chegou ao Brasil, com as medidas sobre a importação de aço e alumínio em 25%. Os EUA, segundo dados da Comexstat, compram quase a metade do aço que produzimos, cerca de 48%, e com as novas tarifas é possível que os americanos comprem menos. Com isso, Trump espera fortalecer o setor metalúrgico interno do país, fazendo com que a indústria compre mais metais produzidos em solo americano em vez de importar.
E as medidas não param por aí. Trump ainda anunciou uma série de tarifas recíprocas, para países que impõem impostos sobre importações americanas e que são consideradas “injustas” por ele. E novamente o Brasil foi citado, dessa vez com o etanol. Segundo o presidente americano, as taxas dos EUA sobre o etanol são de 2,5%, enquanto o Brasil impõe uma tarifa de 18%. As novas regras não entraram em vigor imediatamente, buscando dar tempo aos países que devem ser impactados negociar novos termos comerciais com o governo americano, afirmou um funcionário da Casa Branca.

Guerra no Oriente Médio e leste europeu
O primeiro mês também marcou o envolvimento americano nas guerras do Oriente Médio e do Leste Europeu. Em relação à primeira, o governo Trump começou estabelecendo um acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo Hamas – entretanto, o governo Biden reivindica para si as negociações que levaram a esse acordo. Esse cessar-fogo já resultou na troca de reféns entre os envolvidos, mas, nos últimos dias, o presidente subiu o tom do discurso após o Hamas atrasar a troca de reféns, além de ter dado declarações em que propôs a expulsão dos palestinos da Faixa de Gaza e dizer que vê os EUA tendo uma “posição de propriedade de longo prazo” no território.
No leste europeu, a promessa de acabar com a guerra em 24 horas depois de eleito foi por água abaixo. Mas, nas últimas semanas, o presidente americano se movimentou para começar a traçar os caminhos que podem levar ao fim desse conflito. Trump falou com os presidentes da Rússia e da Ucrânia e representantes do seu governo se reuniram com representantes russos na Arábia Saudita, onde concordaram em iniciar o trabalho para a paz.
Contudo, as negociações estão levantando receios quanto ao poder e participação da Ucrânia no acordo, assim como de todo o continente europeu. A fala de Trump que “é improvável a Ucrânia ter suas terras de volta” e o descarte da entrada do país na Otan levou preocupação ao Ocidente. Além disso, Trump fez uma publicação em sua rede social, Truth Social, chamando o líder ucraniano de ditador e o alertando a “se apressar” ou ficará “sem país”.
Inflação, juros, economia
O principal receio das medidas é um possível impacto inflacionário, o que pode manter as taxas de juros dos Estados Unidos elevadas por mais tempo. O presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que não vê necessidade de acelerar cortes de juros, citando a força da economia.
Na ata da última reunião, realizada em 28 e 29 de janeiro, na qual a taxa de juros se manteve entre 4,25% a 4,50%, membros do comitê demonstraram preocupação com os efeitos das tarifas e da repressão à imigração na inflação, no mercado de trabalho e no crescimento econômico. No documento, “os participantes indicaram que, desde que a economia permanecesse perto do emprego máximo, eles gostariam de ver mais progresso na inflação antes de fazer ajustes adicionais na taxa de juros”.
Em janeiro, o índice de preços ao consumidor (CPI) nos EUA registrou alta de 0,5%, acumulando inflação de 3% nos últimos 12 meses, superando as previsões do mercado de 0,3% no mês e 2,9% no ano. O núcleo do CPI, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, subiu 0,4% no mês e 3,3% em um ano.
Com tudo isso apenas no primeiro mês, o que está claro é que o segundo governo Trump deverá ser intenso, repleto de tensões e impactos que suas decisões poderão gerar, tanto no cenário doméstico quanto internacional.