Miriam Leitão – O Globo
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O dólar ultrapassou o patamar de R$ 5,80, nesta sexta-feira, e pode ficar ainda mais alto se Donald Trump ganhar a corrida à Casa Branca. Essa é a avaliação que Adriano Cantreva, sócio da Portofino Multi Family Office, faz para o blog de seu escritório em Nova York. A quatro dias das eleições americanas, ainda não é possível cravar quem será o próximo presidente dos Estados Unidos, Trump ou Kamala Harris. A disputa está acirrada como nunca antes se viu na terra do Tio Sam. O Brasil não é considerado prioridade para nenhum dos candidatos, no entanto, a eleição de Trump, diz Cantreva, pode ter um impacto negativo maior para o Brasil.
– Se o Trump ganhar, o que é mais provável, ele defende a política de tarifas, principalmente com relação à China, mas é muito mais focado na produção nos Estados Unidos, no renascimento da industrialização americana, o MAGA, que é o acrônimo dele, Make America Great Again. Então, é muito nacionalista. Ele diz que vai fechar a fronteira, que vai deportar milhares de imigrantes, e tudo isso indica mais inflação, mais protecionismo, e o que não é bom para o Brasil, porque mais inflação, provavelmente vai significar que a taxa de juros dos Estados Unidos continuará elevada. A taxa de juros continuando elevada nos Estados Unidos, o dólar continua forte no médio prazo – diz Cantreva.
Ele ainda pondera:
-Quando a gente olha o dólar num período maior de tempo o dólar está parado vamos dizer assim. Lembrando antes até do Lula ganhar a eleição, ele chegou a bater R$ 5,70, estar R$ 5,78, dois anos depois não está caro. Esse é um movimento global de valorização da moeda. E no Brasil ainda tem todas essas questões de Orçamento, de gastos do governo, que não se resolvem um mês, dois meses. Pode ser que o Lula venha e fale alguma coisa e tire um pouco a pressão. Mas assim que a pressão diminui, os gastos voltam e fica esse ciclo.

Os juros mais altos nos Estados Unidos ainda reduzem a atratividade de investimentos no Brasil e aumenta o interesse de brasileiros em investimentos de brasileiros em solo americano, diz Cantreva, lembrando que a Bolsa americana já subiu mais de 25% este ano. Ou seja, o Brasil perde em duas pontas. Não bastasse tudo isso, a política protecionista defendida por Trump afeta diretamente as exportações brasileiras e, dessa vez, lembra Cantreva, o Brasil não contará com o apetite da China para compensar o encolhimento das importações americanas. Nem mesmo o pacote lançado pelo governo chinês há duas semanas, mostrou-se eficiente em dar novo gás a economia do gigante asiático, em clara desaceleração. Isso significa dizer que o cenário externo piora para o Brasil, tornando ainda mais preponderante o ajuste fiscal para a economia brasileira.
Se a vitoriosa for Kamala, todos esses efeitos são atenuados. No entanto, Cantreva chama atenção que os americanos de forma geral estão mais nacionalistas, o que fará com qualquer que seja o presidente adote uma política mais voltada para o mercado interno.
A Kamala tende a ser mais suave esse movimento, dado que ela não está defendendo o fechamento da economia, tarifas e tal. Mas o que acontece é que nos Estados Unidos tem tido uma onda mais nacionalista. Independentemente de Democratas ou Republicanos, Kamala ou Trump. No passado, a meta era ser uma economia global, um influenciador global, o que continuara sendo, obviamente. O foco agora, no entanto, é emprego para a economia local, ter boas condições para a população americana, de repente vai ter que fechar a fronteira mesmo para diminuir o número de imigrantes. Então, a gente vê, independentemente de Kamala ou Trump, o foco é mais nos Estados Unidos. Em relação ao Brasil, é daqui pra pior. Pode ser menos pior ou mais pior, vamos dizer assim. Mas a perspectiva não é que melhore – avalia o economista.
O cenário piora, mas isso não significa que o Brasil será jogado do precipício. No entanto, também não contribui para uma aceleração do crescimento.
– A gente continua estacionado na promessa de ser o futuro. Para o país se desenvolver precisa mesmo de um forte ajuste fiscal.