Investimento no exterior sofre novo teste com tarifaço

Investimento no exterior sofre novo teste com tarifaço

Adriana Cotias – Valor Econômico

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Mal o brasileiro deu os primeiros passos rumo à internacionalização dos seus investimentos e o “modo pânico” foi acionado nos mercados financeiros globais. A imposição de tarifas de importação mais severas do que se previa pelo governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, vem na sequência da rasteira já sofrida no início do ano pelas empresas de tecnologia com o fenômeno chinês DeepSeek. Só que agora, o tarifaço, se colocado em prática do jeito que foi formulado, terá desdobramentos ainda difíceis de se prever no xadrez econômico mundial e consequências para os preços dos ativos.

Neste ano, o índice S&P 500 perde mais de 15%; o Nasdaq acumula perdas de quase 21%, e o Dow Jones, de 11,20%. Os títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em dez anos recuam 0,06%, com o retorno apontando para 4,3%. No Brasil, o custo de oportunidade dado pela Selic parte de 14,25%, com uma inflação projetada de 5,1%, segundo o boletim Focus, que coleta as estimativas do mercado.

“Quando há uma série de investidores tomando atitudes irracionais, a primeira coisa que nós, agentes do mercado fiduciário, temos a fazer é tentar acalmá-los”, diz Daniel Haddad, executivo-chefe de investimentos da Avenue, corretora americana fundada por brasileiros, hoje controlada pelo Itaú Unibanco.

Com cerca de US$ 5, 5 bilhões na custódia da plataforma, ele cita que os investidores em geral não fizeram movimentos bruscos de mudança de carteira. “A gente investe muito tempo entendendo o perfil do cliente para que num momento como este ele consiga permanecer investido e tenha tranquilidade com uma carteira adequada à sua tolerância a risco.”

Haddad lembra que, no passado, a economia americana já enfrentou uma taxa de desemprego de 25%, juros de 20%, além de guerras, pandemia e recessões. “Ainda assim, os EUA continuam como a maior economia do mundo, as empresas permanecem sólidas, liderando a inovação global, e o Tesouro americano segue como uma referência de segurança para quem busca preservar capital”. Em tempos de volatilidade, a paciência é a chave.

O executivo cita que o pior que pode acontecer é montar uma carteira agressiva e quando o investidor vê o mercado cair 5%, tem o impulso de vender todos os ativos por se descobrir conservador. “Se você não se conhece, o mercado financeiro é um lugar muito caro para isso, porque o expõe a todos os tipo de emoção, na euforia ou na crise”, continua Haddad, mostrando que nesses momentos quem assessora o cliente tem que assumir um pouco o papel de psicólogo.

Haddad diz que o investidor que tem internacionalizado parte da sua carteira tem hoje mais a mentalidade de preservação do capital no longo prazo, com viés multigeracional. “O bolso mais fundo vem com a ideia de preservação de capital e sabe que para isso precisa de tempo.”

Olhando pelo retrovisor, o executivo da Avenue lembra que nos momentos de recessão, os investidores em geral buscam ativos mais seguros e, por consequência, o dólar se valoriza em relação a outras moedas. Há a percepção de que o país desenvolvido tem menor risco do que os emergentes”, afirma. Estatisticamente, ciclos de recessão nos EUA ocorrem a cada sete anos, mas com o benefício do retorno composto, quem fica investido consegue capturar valor e não perde as recuperações.

Embora a política comercial de Trump tenha vindo mais salgada do que se esperava, com uma taxação média de 18%, neste primeiro momento o melhor é não fazer nada, diz Adriano Cantreva, sócio da gestora de fortunas Portofino, em Nova York. Ele considera que a intenção do governo é mostrar que está disposto a ir para o tudo ou nada, mas que no fim pode ser uma estratégia de negociação. Mas assusta.

“É óbvio que não querem causar uma recessão. Porém, neste mandato novo, Trump parece querer entregar o que prometeu”, diz Cantreva. Se no curto prazo é muita incerteza para digerir, ele acredita que à frente pode haver um desfecho saudável. “O investidor tem que seguir com o olhar para o longo prazo, pensar no plano feito para a aposentadoria. Vai ter volatilidade, pode cair, mas o fundamento pode ser melhor.”

Nessas horas de incerteza, quem tem alguma liquidez pode até aproveitar preços mais descontados. Ele cita como exemplo as ações da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, que sofreram na onda de vendas e que costumam ser caras. “Há bons negócios a preços interessantes. É o momento de considerar empresas que caíram bastante, têm potencial de valorização, um negócio sólido e que geram caixa. É o que dá conforto para segurar por um longo período de tempo porque as companhias entregam resultados e contribuem para aumentar o patrimônio do investidor no decorrer do tempo.”

O índice S&P 500, que tem grande peso das sete gigantes de tecnologia – Amazon, Apple, Alphabet (dona do Google), Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla – pode sofrer mais porque metade das receitas dessas companhias vem de outros países, diz Cantreva. “Estão mais expostas a retaliações de outras economias.” Mas abaixo delas, há outros casos que podem trazer frutos.

Já Otávio Vieira, que lidera a estratégia de crédito da gestora de fortunas Est, diz que a retaliação chinesa aos EUA pode deflagar uma crise pior do que a das hipotecas de alto risco, em 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers. “Só que ali havia instrumentos para lidar, como ‘QE’ [afrouxamento quantitativo] e juros mais baixos. Mas uma estagflação por desarranjo tarifário o mundo ainda não experimentou e não sei se vai saber responder”, afirma.

Mesmo que Trump volte atrás, as suas idas e vindas vão confundir as cadeias de produção e congelar investimentos, acrescenta Vieira. Outro efeito vai ser na inflação, porque a taxação extra vai acabar recaindo no bolso do americano, que vai ter que arcar com produtos mais caros.

“Todo mundo vai sofrer, com a guerra comercial vai ter um período de inflação mais alta”, diz Matheus Amaral, especialista em renda variável do Inter. É uma má notícia para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que ainda luta para levar a inflação de volta à meta de 2%. “Os ativos de risco vão reagir a um ambiente de negócios não muito propício.” Para momentos de alta volatilidade, ele diz não haver uma fórmula certa. O investidor pode fazer a rotação que se vê nos EUA, privilegiando ações de concessionárias de serviços públicos e do setor financeiro, deixando um pouco de lado as grandes de tecnologia.

Do otimismo para a apreensão: ‘A gente imagina que ele (Trump) não seja tão maluco quanto parece’, diz analista que atua em NY

Do otimismo para a apreensão: ‘A gente imagina que ele (Trump) não seja tão maluco quanto parece’, diz analista que atua em NY

Miriam Leitão – O Globo

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O otimismo com a eleição de Donald Trump declarado por Adriano Cantreva, sócio da Portofino Multi Family Office, que atua em Nova York, em conversa com o blog, em fevereiro, foi substituído por apreensão. O analista, que acompanha o mercado global há mais de três décadas, diz que a intensidade e a velocidade da implementação da política protecionista de Trump surpreenderam o mercado. Em um novo dia de pânico no mercado global, desde o anúncio das tarifas recíprocas, a expectativa agora, diz Cantreva, é que o presidente americano tenha um plano B.

– A gente imagina que ele (Trump) não seja tão maluco quanto parece e que não vai até as últimas consequências. Olhando para minha tela, agora está tudo no vermelho e o mercado não vai melhorar enquanto não for possível ter alguma perspectiva do que vai acontecer. Quanto mais tempo essa situação for mantida, maiores as perdas do mercado e mais tempo demoraremos para recuperação – diz Cantreva.

E acrescenta:

– Um grau de incerteza é natural, mas o que tivemos foi uma reversão de expectativa. O mercado esperava que Trump repetisse o que aconteceu com México e Canadá, que ele anunciou, depois postergou, negociou, mas ele veio com um canhão, veio com tudo. E a velocidade de implementação das tarifas não abriu muito espaço para negociar. Neste momento que estamos vivendo agora, é hora de aguardar e não fazer nada, é melhor do que reagir com emoção, o mercado está reagindo com emoção.

Na avaliação do analista, era preciso de fato fazer algo para reverter o déficit comercial e fiscal do governo americano. Cantreva admite, no entanto, que o caminho escolhido por Trump não é o mais adequado. A escalada de Trump, diz, o colocou no corner:

– E isso não é bom. O mesmo aconteceu em relação à guerra da Ucrânia, ele disse que colocaria fim e não conseguiu. Se não obtiver êxito, agora sairá com papel de bobo. Os Estados Unidos são uma força economicamente global, mas podem perder esse status se os outros países decidirem isolar os EUA. Mas ainda acredito que ele vai abrir negociação. Já se fala que vários países estão buscando o governo americano para negociar, ele está no papel dele em dizer que não vai retroceder ou vai perder o poder de negociação. Esse é o estilo Trump.

A pressão da sociedade americana sobre Trump pode se acirrar em breve. Para além das perdas das empresas, os americanos estão vendo nos últimos dias a sua aposentadoria – composta em grande parte por ações – encolher significativamente, pontua Cantreva. O analista diz que pode vir também desse público a pressão para que o presidente americano recue.

Superquarta: confira a análise sobre as divulgações das taxas de juros no Brasil e EUA

Superquarta: confira a análise sobre as divulgações das taxas de juros no Brasil e EUA

(Tempo de leitura: 5 minutos)

O que você precisa saber:
Nesta quarta-feira (19), foram divulgadas as taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos. Thomas Gibertoni e Burton Mello, do nosso time de Gestão, comentaram as decisões.


O COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil) decidiu, em sua última reunião, elevar a taxa Selic em 1,00%, levando-a a 14,25% ao ano. Esse movimento estava amplamente previsto pelo mercado financeiro, que já havia precificado essa decisão em suas expectativas. O comunicado emitido pelo Comitê, no entanto, trouxe nuances importantes que reforçam o tom firme e comprometido do Banco Central com o controle da inflação, alinhando-se às projeções de um cenário de aperto monetário prolongado.

O texto do comunicado foi considerado mais duro do que o esperado, principalmente pelo fato de o BC já sinalizar, de forma explícita, que deve promover um novo ajuste na taxa de juros na próxima reunião, ainda que de magnitude menor. Essa postura reforça a disposição da autoridade monetária em manter o combate às pressões inflacionárias, mesmo diante de um cenário global e doméstico desafiador, marcado por incertezas fiscais e volatilidade nos mercados internacionais.

Do ponto de vista do mercado, essa sinalização clara de continuidade no ciclo de alta dos juros tende a trazer mais previsibilidade para os agentes econômicos. Como resultado, é esperada uma resposta positiva nos juros de prazos mais longos, com possíveis quedas nas taxas futuras, refletindo uma maior confiança na ancoragem das expectativas inflacionárias. Além disso, o dólar pode apresentar uma tendência de desvalorização frente ao real, uma vez que a manutenção de uma política monetária restritiva tende a aumentar o atrativo dos ativos brasileiros para investidores estrangeiros.

No que diz respeito ao mercado acionário, o impacto deve ser mais neutro. Por um lado, a sinalização de um BC firme no combate à inflação pode ser vista como positiva, pois reduz o risco de descontrole nos preços no médio prazo. Por outro lado, a perspectiva de juros mais altos por um período prolongado pode pesar sobre o desempenho das empresas, especialmente aquelas mais endividadas ou sensíveis ao custo do crédito. Assim, o efeito líquido sobre a bolsa de valores deve ser limitado, com movimentos setoriais específicos ganhando destaque.

Em resumo, a decisão do COPOM reforça o compromisso do Banco Central com a estabilidade econômica, mas também evidencia os desafios que o país enfrenta para equilibrar crescimento, inflação e expectativas de mercado. A próxima reunião será crucial para avaliar se o ciclo de alta dos juros está próximo do fim ou se ainda há espaço para novos ajustes, dependendo da evolução dos indicadores macroeconômicos nos próximos meses.

Thomas Gibertoni
Sócio | Portfolio Manager


O Federal Open Market Committee (FOMC) divulgou sua mais recente decisão, optando por manter a taxa de juros entre 4,25% e 4,5%. De acordo com o comunicado, a economia americana continua se expandindo em um ritmo sólido, com o desemprego estabilizado em níveis baixos e condições do mercado de trabalho que permanecem favoráveis. Entretanto, a inflação continua um pouco acima do ideal de 2% estabelecido pelo comitê.

O comitê destacou que a incerteza em relação às perspectivas econômicas aumentou, e por isso continuará monitorando atentamente os dados econômicos, o cenário em evolução e o equilíbrio de riscos, permanecendo pronto para ajustar sua política monetária conforme necessário para atingir seus objetivos de máximo emprego e estabilidade de preços.

Burton Mello
Portfolio Manager

Trump não descarta período de recessão após tarifas

Trump não descarta período de recessão após tarifas

O nosso sócio e responsável pela área de Investimentos Internacionais, Adriano Cantreva, comentou em entrevista para o jornalista Fernando Nakagawa, da CNN Brasil, sobre a possibilidade de recessão nos EUA com a política tarifária de Trump.

Assista a análise completa de Adriano no vídeo abaixo.

E, neste link, você pode acompanhar o programa na íntegra.

CEO Conference 2025 | BTG Pactual – Dia 2

CEO Conference 2025 | BTG Pactual – Dia 2

(Tempo de leitura: 11 minutos)

O que você precisa saber:
Nesta quarta-feira (26), tivemos o último dia do CEO Conference Brasil 2025, evento promovido pelo BTG Pactual. Desta vez, os ministros Rui Costa e Luís Roberto Barroso, o CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, foram algumas das figuras importantes do cenário político e econômico que marcaram presença.


Quer saber como foi ontem?

Clique aqui e saiba como foi o primeiro dia do evento: CEO Conference 2025 | BTG Pactual – Dia 1

Segurança Jurídica no Brasil

O dia começou com a presença do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, que falou sobre como o Brasil “ainda é uma das melhores opções de investimentos do mundo. Temos fronteiras consolidadas, não temos problemas de guerra, boa relação com todo o mundo, instabilidade institucional, tolerância religiosa e energia limpa”.

A denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro também foi tema de questionamentos para o ministro. Ele defendeu uma punição adequada para uma articulação “aparentemente estarrecedora articulação para um golpe de Estado”, além de que a denúncia causa “algum grau de tensão política no país” e “preocupação” na Corte, mas “não há como deixar de julgar”. “Se tem prova, condena, se não tem, absolve”, afirmou o ministro. 

Lideranças Políticas

O segundo painel do dia serviu para dar um gosto do que podem ser os debates do próximo ano. Atuando como oposição do governo, Ciro Nogueira, Senador e Presidente dos Progressistas, foi duro nas críticas que fez a Lula, dizendo que tem “muita preocupação com o atual governo” e citou que “temos um ministro da Fazenda com a menor credibilidade do mercado na história”, apesar de fazer alguns elogios a Haddad. 

“Acho que nosso país precisa virar a página e olhar para a frente. Qual o motivo para esse governo não estar dando certo? É um governo que só olha para trás”, disse. Nogueira foi ainda mais enfático ao dizer que o “presidente não tem tido capacidade de unir o Brasil. O que ele fez foi dividir, cometendo os mesmos erros do ex-presidente Bolsonaro, de querer falar só para a sua bolha”. Ele ainda ressaltou o receio de que a busca do governo por popularidade possa levar à tomada de decisões equivocadas.

Já fazendo um comentário sobre 2026, o político afirmou que é “difícil imaginar que centro e direita não se organizem para vencer a próxima eleição”. 

No painel também estava Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, ex-ministro da Comunicação Social e ex-deputado estadual, ventilado como um dos possíveis nomes para assumir a presidência do PT (Partido dos Trabalhadores). Na visão dele, “o grande desafio do PT é o pós-Lula, em construir um partido para a sucessão do atual presidente”. Silva analisou que não haverá o surgimento de um novo Lula no próximo período histórico, “já que as condições que impulsionaram o Lula não existem hoje”. “Mais do que nomes, para a sucessão, o PT tem que ter uma agenda que dialogue com a realidade da sociedade brasileira”, disse. 

Ele adotou uma postura mais otimista quanto à avaliação do atual governo. Apesar de mencionar que existem, sim, desafios, disse estar “confiante com o que está sendo construído”. 

Grandes Empresários: Visões Sobre o Brasil

Grandes nomes do setor empresarial do Brasil também foram ao palco e falaram sobre suas experiências profissionais, empresas e o que esperam para seus respectivos setores.

Os painelistas também foram questionados sobre o que faz o empresário dar certo no Brasil. Carlos Sanchez, Chairman do Grupo NC, disse que criar estabilidade para passar por momentos de juros altos e indefinição política é um dos diferenciais que contribuem para o sucesso. “Precisa ter resiliência e se preparar, não é como empresários de países com juros de 2%. O Brasil é um país bom, mas que tem essas características e precisa aprender a surfar nessa onda”.

Já Rubens Menin, Chairman da MRV e do Banco Inter, comentou em linha com seu colega de painel e acrescentou que é “preocupado com as altas taxas de juros, mas talvez elas sejam a consequência, e não a causa”. Ele ainda ressaltou a importância da discussão sobre déficit fiscal e consciência tributária. “O momento agora é de muita reflexão, com os juros mais elevados”.

Oportunidades de Investimentos no Brasil

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, era um dos nomes mais esperados do evento. Após pesquisas mostrarem uma queda na popularidade do presidente Lula, o ministro confirmou que o governo não vai adotar nenhuma “medida excepcional” para estimular a economia brasileira e ainda ressaltou que a gestão mostrou compromisso com a responsabilidade fiscal. O chefe da Casa Civil acredita que uma melhor comunicação e queda no preço dos alimentos devem ajudar na popularidade de Lula. “Quando você tem um movimento de preços de alimentos, principalmente, você mexe com a popularidade de qualquer governo e nós precisamos ajustar e dialogar muito com os setores produtivos”.

Sobre a reforma ministerial, o ministro não deu muitos detalhes, mas afirmou que a decisão cabe apenas ao governo e o único que tem as respostas é o presidente.

EUA: Trajetória Econômica e Monetária

O painelista Kevin Warsh, ex-membro do Conselho de Governadores do US Federal Reserve, foi crítico ao que considerou uma nova postura por parte do Fed. Segundo ele, o banco central americano “deveria gastar mais tempo escutando e refletindo”. Ele explicou que antes a autoridade mantinha uma postura mais discreta, mas agora está constantemente na mídia, o que contribui para a volatilidade.

O crescente endividamento americano foi outro ponto de preocupação para Warsh. Ele alertou que essa dinâmica pode comprometer a sustentabilidade econômica a longo prazo, não só nos Estados Unidos como nas economias liberais.

Além disso, ele ainda explicou que a atual dinâmica bilateral americana não significa isolacionismo. Warsh disse que, para o governo dos Estados Unidos, as instituições multilaterais não se mostram mais eficientes. “Não me parece como um fechamento dos EUA, mas acho que é uma nova abordagem para um conjunto de iniciativas”, afirmou. Ainda sobre esse assunto, ele disse que “as instituições como ONU, FMI, Banco Mundial e OMC, se a gente olhar para o século 21, elas não estão mais atendendo às suas finalidades”. “Elas precisam ser reformadas ou os EUA vão encontrar novas maneiras para conseguir resultados interessantes para si”, finalizou.

Experiência Pós-Privatização

Carlos Piani, CEO da Sabesp, Ivan de Souza Monteiro, CEO da Eletrobrás, e Daniel Slaviero, CEO da Copel, falaram sobre as próprias experiências e das empresas sobre os momentos pós-privatização. “Temos uma responsabilidade com o Brasil de mostrar que uma empresa privada e bem gerida gera mais valor para seus clientes, investidores, colaboradores e a sociedade. Isso é um propósito e uma missão nossa”, contou.

Além disso, o executivo da Copel disse que tem como objetivo “atrair e reter os melhores talentos, além de evoluir a cultura da Copel para uma cultura de dono”. Já Monteiro, da Eletrobrás, falou sobre a capacidade que a companhia tem em oferecer soluções de energia e não vender energia.

Fireside Chat: Uber CEO, Dara Khosrowshahi

Finalizando mais uma edição do CEO Conference, o convidado foi o CEO da Uber, Dara Khosrowshahi. Ele comentou sobre suas expectativas para o futuro da empresa e contou que o crescimento é o que “nos mantém entusiasmados”. “Do nosso ponto de vista, queremos ser a maior empresa de logística local de tempo real do mundo. Ou seja, levar as pessoas e as coisas de um lugar para o outro”, explicou.

O CEO citou o sucesso do Uber Eats, contando que a empresa quer entregar “qualquer coisa até sua casa, como itens de farmácia, remédios, entre outros”. Ele falou como essa estratégia vai ajudar varejistas locais com a concorrência da Amazon e empoderar essas pessoas. “Queremos continuar na área de mobilidade, avançando com a direção autônoma, mas queremos aumentar o escopo na área de delivery, com tudo podendo ser entregue na sua casa”.

O Brasil foi citado como responsável por ter seis das 10 maiores cidades do mundo em termos de viagens. “É um mercado incrível para nós”, disse. Além disso, foi questionado como é a relação da empresa com os órgãos reguladores, a qual ele respondeu como “justa”.

Por fim, ele também falou que acredita que as mudanças que a inteligência artificial vai proporcionar nos próximos cinco anos serão muito significativas, assim como mencionou que a tecnologia para os carros autônomos já está pronta e em funcionamento, mas que há a “oportunidade de fazer os autônomos serem muito mais seguros”.

Este conteúdo é produzido pela PORTOFINO MULTI FAMILY OFFICE e fomenta o diálogo sobre a política e o empresariado brasileiro. A nossa opinião é neutra e não é partidária.

CEO Conference 2025 | BTG Pactual – Dia 1

CEO Conference 2025 | BTG Pactual – Dia 1

(Tempo de leitura: 13 minutos)

O que você precisa saber:
Nesta terça-feira (25), aconteceu o primeiro dia do CEO Conference Brasil 2025, evento promovido pelo BTG Pactual, que contou com a presença de diversas figuras importantes do cenário político e econômico brasileiro, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Alexandre Silveira, Ministro de Minas e Energias do Brasil, entre outros.


Cenário Econômico 2025

O evento começou com a presença mais esperada: Fernando Haddad, ministro da Fazenda. Haddad começou falando sobre como o contexto geopolítico está desafiador, com a falta de previsibilidade com a economia americana. Ele explicou que essa tensão econômica é global e citou que “há maior tensão na Colômbia, no México e no Chile, que são países relativamente organizados”.

O ministro também falou que o mercado financeiro está “muito mais tenso” do que antigamente. Ao ser perguntado sobre as incertezas do final do ano passado, ele afirmou que “as pessoas estão com mais dedo no gatilho, esperando uma notícia para agir, para se proteger ou especular”.

No que diz respeito ao Brasil, segundo Haddad, o Brasil é visto positivamente pelo cenário externo. Ele mencionou que as agências de classificação de risco, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e os fundos de investimento soberanos têm uma visão diferente em relação à avaliação dos investidores locais.

As contas públicas também foram pauta do debate. O ministro ressaltou a colaboração dos parlamentares para a elevação das receitas, contudo disse que o Congresso Nacional impediu o governo de zerar o déficit fiscal. Além disso, também destacou o compromisso do presidente Lula com o ajuste fiscal.

Haddad, ainda em sua fala, disse que, com a vitória de Lula nas eleições de 2022, a “democracia foi salva”, assim como também disse que não será candidato nas eleições de 2026. O nome do ministro é sempre muito ventilado caso Lula decida não tentar uma nova reeleição. Outro assunto em alta nos corredores do Planalto é a reforma ministerial, a qual Haddad reforçou que nunca conversou com o presidente sobre o assunto.

Estratégias para Segurança Energética no Brasil

O segundo painel do dia debateu sobre segurança e transição energética. Entre os convidados estava Alexandre Silveira, Ministro de Minas e Energias do Brasil, que afirmou que o gás natural é sem dúvida visto no mundo inteiro como combustível de transição e completou dizendo que o nosso país precisa ampliar a nossa oferta desse recurso. 

Para ele, o Brasil já faz a sua parte na questão da sustentabilidade, vendo-o como muito promissor nessa área. Ele completou ao afirmar que as políticas públicas estão sendo feitas de formas vigorosas para essa transição energética. Segundo Silveira, o Brasil “o líder da transição energética global”.

O ministro ainda comentou um tema espinhoso que divide opiniões dentro do governo e atrai críticas de ambientalistas: a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Assunto muito debatido recentemente, Silveira defendeu a exploração na região “dentro de uma legislação ambiental que já é extremamente moderna e segura” e justificou que, enquanto o mundo demandar [petróleo], “não seremos nós que poderemos deixar de ofertar”.

Aprofunde mais: a Margem Equatorial é uma região na costa do Brasil entre o Amapá e o Rio Grande do Norte, vista como uma nova fronteira de exploração de petróleo e gás.

Navegando Mercados em 2025: Macro Views

Encerrando os painéis da parte da manhã, os painelistas comentaram sobre o cenário macroeconômico atual. Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital, apresentou uma visão bastante otimista com o cenário americano e global. Ele, assim como Fabiano Rios, CIO da Absolute Investimentos, elogiaram a equipe econômica do governo Trump.

Já no que diz respeito ao Brasil, Carlos Woelz, sócio-fundador da Kapitalo Investimentos, foi crítico ao dizer que o Brasil continua tão ruim quanto era em dezembro e “tão ruim quanto era em agosto antes de piorar”. Woelz também criticou o arcabouço fiscal, que começou com uma base não sustentável e com uma regra toda complicada, “como a de campeonatos estaduais”, brincou. Ele ainda creditou a piora do cenário entre agosto e dezembro ao fato da percepção de que iria precisar de uma política monetária muito mais alta.

Por outro lado, Rodrigo Carvalho, sócio-fundador da Clave Capital, viu a melhora por parte dos ativos brasileiros a partir de um começo mais suave da política de tarifas de Trump do que o mercado esperava.

O Mundo com Trump 2.0

Mike Pompeo, ex-Secretário de Estado dos Estados Unidos, abriu os painéis da tarde e discorreu sobre os recentes acontecimentos envolvendo Estados Unidos, Rússia e Europa. Para ele, os europeus sentiram que estavam sendo cortados, mas a voz deles ainda é muito grande nesse cenário. “Nós ouvimos que os EUA vão abandonar a Ucrânia, mas eu não posso imaginar que algo como isso aconteça”, disse Pompeo.

Quando perguntado qual seria um possível resultado para todo esse cenário, ele respondeu que a percepção tem que ser a de que o presidente Putin não venceu.

O ex-secretário também falou sobre o momento da China e foi enfático ao dizer que o presidente Xi Jinping está muito focado no poder. Ele explicou que vê a China em um momento de ação, em que o país vai demonstrar seu poder econômico, militar e tecnológico para colocar pressão em outras nações. Neste sentido, ele criticou o fato de, na sua opinião, ver que o líder chinês vê a economia como um suporte para os seus objetivos ao invés de usar a economia para alcançá-los.

E por falar em tecnologia, a inteligência artificial foi pauta. Pompeo explicou que especialistas já percebiam que a China estava diminuindo a distância para os Estados Unidos antes mesmo da DeepSeek. “DeepSeek foi uma surpresa para todo mundo, mas quando damos um passo atrás e analisamos, não chega a ser uma surpresa”.

O Que Esperar do Cenário Macroeconômico em 2025

Na sequência, o cenário americano continuou sendo tema de debate, mas dessa vez com Mansueto Almeida, sócio e economista-chefe do BTG Pactual, e Tiago Berriel, sócio e estrategista-chefe. Mansueto citou que o desafio fiscal dos Estados Unidos é bem grande, e não acredita que a equipe do governo vai conseguir reduzir os gastos para levar a dívida pública ao patamar anterior ao da pandemia. Berriel abordou a questão das tarifas, comentou que o presidente e o seu entorno parecem estar bastante comprados em relação a essa questão e à política de imigração, sendo úteis para a economia e negociações. 

Ao falar sobre o Brasil, Mansueto analisou o governo e o momento da economia. “O governo vai aceitar uma desaceleração da economia com o juro tão alto?”, questionou, e continuou explicando que “estamos vendo desde o início do ano o anúncio de medidas de estímulo da economia. No ponto de vista de expectativa, acaba machucando a crença de que a política monetária vai funcionar”.

Também presente no painel, Eduardo Loyo, sócio do BTG, disse que seria importante que as pessoas vissem que a política monetária está tendo um efeito e fazendo a economia desacelerar para levar a inflação a uma trajetória de convergência. “Eu acho que, se você anuncia uma série de programas para compensar no futuro o juro alto e que evitem que tenha qualquer efeito, você está trabalhando contra a política monetária e a credibilidade da mesma”, finalizou.

Visões de Brasil e Mundo

André Esteves, Chairman & Sócio Sênior do BTG, foi entrevistado por William Waack. Assim como aconteceu ao longo de todo o dia, os Estados Unidos e o cenário geopolítico foram temas centrais. 

Esteves caracterizou Trump como um “pacote complexo”, no qual a sua vitória indiscutível mostrou que a sociedade americana queria algo a mais que o presidente simboliza. Além disso, o sócio também falou sobre a personalidade do presidente, que costuma trazer “verdades duras” para o debate, apesar de não concordar com a tática que ele usa.

Questionado sobre a possível resolução na guerra da Ucrânia, ele demonstrou preocupação sobre o movimento americano em direção à Rússia, “pois abala uma aliança que está no centro do mundo ocidental, entre Estados Unidos e Europa”.

Por fim, ele falou como o Brasil se posiciona nesse cenário. Na visão de Esteves, o Brasil está à margem da briga entre China e Estados Unidos. “Em mundo mais dividido ou mais unido, acho que a gente consegue navegar ‘numa boa’. No lado tarifário, a gente ainda tem um adicional, já que somos um dos poucos países que têm déficit com os EUA, eles são superavitários com o Brasil. Nós estamos fora do radar do ponto de vista tarifário, podemos pegar só um efeito colateral como o aço”.

Outlook de Grandes Gestores

Por fim, o primeiro dia de evento acabou com um debate que já começou a fazer análises sobre as eleições do ano que vem. Antes disso, Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, se mostrou pessimista com a inflação brasileira: “Eu acho que a inflação nunca mais cai se a gente não encarar definitivamente a questão do déficit”. Ele ponderou que essa não é uma questão exclusiva desse governo, mas que “o grande problema do Brasil é o Congresso Nacional”.

Luís Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset, também estava presente e deu início aos comentários sobre eleição ao dizer que a queda de aprovação do governo foi surpreendente.

Para finalizar, as eleições de 2026, na visão de Xavier, terão uma grande influência de Jair Bolsonaro, em um cenário no qual muitos acreditam que ele possa apoiar Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, ou algum membro familiar, como um filho ou a esposa.

O CEO Conference Brasil 2025 retorna nesta quarta-feira (26) com outros nomes importantes.

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