Entre chips, tarifas e tensão global: a lição de Tucídides na disputa EUA-China

Entre chips, tarifas e tensão global: a lição de Tucídides na disputa EUA-China

(Tempo de leitura: 5 minutos)

O que você precisa saber:
A política tarifária de Donald Trump é um dos grandes destaques do ano, principalmente em relação à China. Essa disputa é ainda mais relevante no setor tecnológico, com os chips semicondutores.


Se tem algo que está marcando 2025, é a política tarifária de Donald Trump. Especialmente sua “guerra” contra a China, com tarifas que chegaram a 145% sobre os produtos chineses. Muito além da diplomacia e das manchetes, ela impacta diretamente o cenário econômico global.

Mas essa disputa entre China e Estados Unidos não começou agora. Ela remonta ao primeiro mandato de Trump e nos faz lembrar de um conceito clássico das Relações Internacionais: a Armadilha de Tucídides.

Esse conceito descreve o risco de conflito quando uma potência emergente ameaça tomar o lugar de uma potência dominante. Para entender melhor, vale uma viagem rápida no tempo.

No século V a.C., depois das Guerras Médicas contra os persas, Atenas despontou como uma potência naval, econômica e cultural. Liderava a Liga de Delos, uma aliança militar que, com o tempo, virou praticamente um império ateniense.

Do outro lado, Esparta era a potência tradicional — terrestre, conservadora, militarista — e liderava a Liga do Peloponeso. O embate entre as duas era inevitável.

E foi o que aconteceu: Atenas e Esparta entraram em guerra. Esparta venceu, mas saiu enfraquecida e logo foi dominada pelos macedônios. O historiador Tucídides analisou o conflito e escreveu:

“O crescimento do poder de Atenas e o medo que isso causou em Esparta tornaram a guerra inevitável.”

Mas calma. Isso não quer dizer que EUA e China vão entrar numa guerra militar. Muitos analistas consideram esse movimento improvável. Só que, como disse recentemente Warren Buffett, tarifas nesse nível já podem ser vistas como um ato de guerra.

Essa disputa já dura quase uma década — especialmente no setor tecnológico — e ganhou ainda mais força com a ascensão dos chips semicondutores. Lembra deles? Ficaram famosos na pandemia.

No livro A Guerra dos Chips, o autor Chris Miller afirma que o futuro da economia mundial será liderado por quem dominar o poder computacional. E isso vai muito além de notebooks ou smartphones — envolve supremacia militar e avanços em inteligência artificial.

Hoje, a cadeia dos chips se divide em três partes:

  • Design: dominado pelos EUA, com destaque para empresas do Vale do Silício.
  • Manufatura: liderada por Taiwan, com a poderosa TSMC.
  • Corte: onde a China tem ganhado espaço.

Mesmo com avanços significativos, a China ainda fica para trás, especialmente no design. E é por isso que países ocidentais estão barrando o acesso chinês às suas tecnologias — tentando frear esse crescimento.

Mas o susto veio no início de 2025, quando a DeepSeek, uma empresa chinesa de IA, mostrou resultados tão bons quanto os das big techs americanas, com custos muito menores. (Entenda o caso aqui.)

Para os EUA, a China representa um rival direto à ordem global construída nas últimas décadas: mercados abertos, alianças como a OTAN e instituições lideradas pelo Ocidente.

E é verdade: nas últimas quatro décadas, a China saiu de uma economia agrícola para se tornar a segunda maior do mundo. Um salto impressionante que acendeu o alerta em Washington.

Esse sentimento de ameaça aumentou tensões em várias frentes:

  • Comercial: tarifas e restrições ao acesso a tecnologias críticas.
  • Tecnológica: briga por chips, IA, telecomunicações.
  • Geopolítica: disputas em torno de Taiwan, Mar do Sul da China e influência na Ásia.

O caso da Guerra do Peloponeso nos lembra que mudanças no equilíbrio de poder global tendem a gerar tensões e instabilidades — e é exatamente isso que vemos hoje entre EUA e China.

A escalada tarifária, os bloqueios tecnológicos e as disputas geopolíticas refletem não apenas uma competição por protagonismo, mas um choque de modelos e visões de mundo. Cenários como esses destacam a importância de contar com um gestor profissional. 

indicação livro guerra dos chips
Por que a demissão da diretora do Fed virou caso de justiça?

Por que a demissão da diretora do Fed virou caso de justiça?

(Tempo de leitura: 4 minutos)

O que você precisa saber:
O presidente Donald Trump escalou a tensão contra o Federal Reserve após demitir a diretora Lisa Cook. O movimento acontece poucos dias antes da próxima reunião de juros.


A pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o Federal Reserve chegou a um ponto sem precedentes na história. Trump publicou uma carta na qual demitia Lisa Cook, diretora do banco central americano.

A acusação? Supostas fraudes em empréstimos hipotecários. O presidente afirmou que há provas suficientes para comprovar os pedidos falsos em hipotecas. A situação escalou ainda mais após o diretor da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos Estados Unidos, William Pulte, afirmar que as investigações foram realizadas de forma regular, e não pertencem a uma “caça às bruxas” contra a oposição.

Lisa Cook, por sua vez, não aceitou a derrota. Ela se recusou a deixar o cargo e entrou com uma ação na Justiça, alegando que Trump não tem autoridade para tirá-la de lá. O ponto-chave dessa batalha está na lei que rege o Fed, que exige a comprovação de uma falta grave para que um membro seja demitido. Essa disputa é um marco, pois coloca à prova os limites do poder presidencial.

Qual a relevância dessa relação?

Qual a importância dessa decisão? A resposta está nas ambições de Donald Trump. Desde que assumiu a presidência, o líder americano tem pressionado Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, a reduzir as taxas de juros. As ameaças e os xingamentos — como “burro” e “teimoso” — viraram rotina. Trump, que curiosamente foi quem indicou Powell, agora o acusa de ter motivações políticas para não reduzir os juros, alegando que o país já deveria estar com taxas “pelo menos dois a três pontos abaixo”.

Com a possível saída de Cook, abre-se uma nova vaga no Conselho de Governadores do Fed e a oportunidade de Trump indicar alguém mais alinhado aos seus interesses. Cook é uma das 12 integrantes responsáveis por definir a política de juros nos Estados Unidos.

Se a saída da economista se concretizar, Trump poderá ampliar sua influência na composição do conselho do Fed. Ele já nomeou Michelle Bowman para ser a principal reguladora bancária do banco central e, segundo rumores, estaria pensando em Christopher Waller para suceder Powell.

E como está a política de juros?

A grande expectativa está para a próxima reunião de juros em setembro. Na sua participação no Simpósio de Jackson Hole, Powell abriu uma porta, ainda que tímida, para um corte na taxa de juros. Jerome Powell afirmou em seu discurso anual em Jackson Hole que, diante de um cenário de elevada incerteza, há possibilidade de cortes de juros à frente, ainda que de forma cautelosa. Hoje, os juros se encontram na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.

O chairman do Fed destacou que a política monetária já se encontra em “território restritivo” e que o equilíbrio de riscos entre crescimento e inflação está mudando, o que pode justificar ajustes na postura atual. Ele reforçou que o mercado de trabalho segue forte e a economia mostra resiliência, mas os riscos de desaceleração aumentaram. Apesar disso, poucos dias depois, a segunda prévia do PIB do segundo trimestre foi revisado para 3,3% anualizado, acima da previsão anterior de 3,0%.

Por fim, em meio ao velho debate sobre a independência do Fed e a um possível corte nos juros, o presidente do BC mandou um recado claro: as decisões serão tomadas com base em dados econômicos, e não em pressões políticas – reafirmando a independência da instituição.

Inflação prévia de agosto surpreende negativamente e mostra que cautela ainda é necessária

Inflação prévia de agosto surpreende negativamente e mostra que cautela ainda é necessária

(Tempo de leitura: 2 minutos)

O que você precisa saber:
A prévia da inflação caiu – 0,14% em agosto, após registrar alta 0,33% em julho. O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) foi o menor desde setembro de 2022 (-0,37%) e o primeiro negativo desde julho de 2023 (-0,07%).


A prévia da inflação (IPCA-15) de agosto recuou 0,14%, uma queda menor do que a esperada pelo mercado (-0,20%). Embora o índice tenha desacelerado bastante em relação a julho (0,33%) e tenha caído no acumulado de 12 meses (de 5,30% para 4,95%), o resultado veio pior do que o previsto em itens importantes.

Apesar da queda geral, alguns setores que o Banco Central monitora de perto continuaram pressionados:

  • Serviços como educação e reparos: alta de 0,55%
  • Serviços que dependem muito de mão de obra: alta de 0,62%
  • Média dos núcleos de inflação: alta de 0,32%

Desta forma, o resultado de agosto mostra que, apesar da melhora recente, a economia ainda enfrenta desafios. A inflação segue acima da meta, o mercado de trabalho está aquecido e há pressões fiscais. Por isso, ainda é pouco provável que o Banco Central corte juros esse ano, mantendo os juros altos por mais tempo para garantir que a inflação continue caindo.

grafico com dados de inflação

Thomás Gibertoni
Sócio | Portfolio Manager

É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.

O Brasil como ele é: sol, praias e nada monótono

O Brasil como ele é: sol, praias e nada monótono

(Tempo de leitura: 5 minutos)

O que você precisa saber:
O cenário econômico e político no Brasil é sempre – muito – movimentado, e neste ano não tem sido diferente.


Dizem que ser brasileiro é um privilégio: praias que parecem pintadas à mão, uma cultura vibrante, uma natureza que nos abraça de verde e vida, um cheiro de comida que acalma a alma e, claro, um talento nato para o futebol. Mas há algo a mais, uma característica que nos define e nos mantém na ponta da cadeira: o Brasil simplesmente se recusa a ser monótono. Por aqui, a vida é uma série de reviravoltas, e o cenário político e econômico é o nosso show de “breaking news” particular.

Vamos começar pelo espectro da economia. Empossado no começo do ano como presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo aplicou remédios amargos na economia, elevando os juros a 15% ao ano – o maior patamar em quase 20 anos – em resposta a um cenário de elevada incerteza, tanto no cenário externo — com destaque para as políticas comerciais dos Estados Unidos — quanto no doméstico, especialmente em relação aos rumos da política fiscal e inflação.

Na última decisão de juros, o Copom manteve a taxa básica em 15% ao ano, com um tom duro e antecipando manutenção neste patamar para a próxima reunião. Segundo o nosso sócio e Portfolio Manager, Thomas Gibertoni, diante desse cenário, o Banco Central decidiu manter os juros altos por mais tempo para garantir que a inflação volte à meta. Além disso, o Comitê reforçou que vai continuar atento e pode voltar a subir os juros se perceber que os riscos aumentaram, como o aumento com incertezas sobre a guerra comercial com os Estados Unidos, que pode respingar na inflação por aqui.

E por falar em inflação, aquela sombra que assombra o nosso bolso… parece que ela está dando um sinal de paz – mas com muito trabalho ainda pela frente. O IPCA de julho subiu 0,26%, ficando abaixo das expectativas do mercado (0,36%) e mostrou desaceleração no acumulado em 12 meses (de 5,35% para 5,23%). O núcleo de inflação (que exclui itens voláteis) seguiu em desaceleração, reforçando que a pressão inflacionária está perdendo força. É como se, finalmente, as sementes que o Banco Central plantou estivessem dando frutos.

Conclusão? “Os dados reforçam que a inflação está em trajetória de queda, com menos pressão nos setores mais sensíveis à política monetária. Isso apoia a visão do BC de que os juros altos estão funcionando e abre discussão para corte ainda em 2025.”, analisou o nosso Portfolio Manager.

Se a economia nos mantém atentos, a política é o palco onde o espetáculo não para.

Nos primeiros meses do ano, o governo sentiu o peso da opinião pública. Pesquisas de popularidade, como a do Datafolha, revelaram uma desaprovação recorde, mostrando que a lua de mel com a população já havia terminado. A cada nova pesquisa, um novo resultado negativo, e a cada dia uma nova polêmica assombrando o Palácio do Planalto — do aumento do IOF ao rombo do INSS.

A bola da vez é o desgaste entre o governo brasileiro e o dos Estados Unidos, que acarretou na imposição de tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros. Mas, como em toda boa história, o roteiro também tem reviravoltas. Nas últimas semanas, a aprovação do governo deu um pequeno sinal de vida, como uma planta que recebe um pouco de sol depois de dias de chuva. Os dados, divulgados pela pesquisa da AtlasIntel, trouxeram um fôlego, mostrando que, pela primeira vez desde 2024, a aprovação de Lula superou numericamente a desaprovação.

Leia mais: Gestão Dinâmica | Trump impõe tarifaço ao Brasil: embate comercial vira capital político para Lula

Será que essa pequena melhora na economia vai ser suficiente para manter o governo em posição de força para 2026?

(Aprofunde-se no assunto em nosso texto sobre “A nova lógica eleitoral brasileira: por que a boa economia não tem sustentado a avaliação do atual governo?”)

No final das contas, o título do nosso texto se confirma: o Brasil é nada monótono. Seja na política ou na economia, sempre teremos o que conversar e o que nos preocupar. E é por isso que, mais do que nunca, a necessidade de um gestor profissional é fundamental — alguém para ajudar a decifrar os sinais e navegar por águas agitadas.

Pois ser brasileiro e morar por aqui tem suas vantagens, porém é uma constante negociação entre desafios e oportunidades, com uma dose de imprevisibilidade que mantém as coisas interessantes.

Nos mantemos atentos e ativos com os próximos desdobramentos.

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