O nosso sócio e responsável pela área de Investimentos Internacionais, Adriano Cantreva, participou ao vivo na CNN Brasil para comentar o resultado PMI Composto de agosto. Ele também analisou o mercado de trabalho americano e a política monetária do país.
O índice de preços ao consumidor (CPI) dos EUA subiu 0,3% em junho, com a inflação anual acelerando para 2,7%, acima das expectativas de mercado. A alta foi impulsionada principalmente por energia, alimentação e efeitos indiretos das tarifas comerciais recentemente impostas. Como reflexo, as taxas dos Treasuries subiram e as bolsas recuam na manhã desta terça-feira (15), diante da percepção de que o processo de desinflação pode estar perdendo força.
O dado reforça a postura mais cautelosa do Federal Reserve, que interrompeu sua trajetória de cortes de juros e manteve a taxa básica entre 4,25% e 4,50% nas últimas três reuniões. Parte da preocupação vem dos potenciais efeitos inflacionários das políticas do governo Trump — como tarifas sobre importações e restrições à imigração — que aumentam pressões de custo e reduzem a oferta de trabalho. O cenário amplia a incerteza monetária e exige atenção redobrada quanto à alocação em ativos sensíveis a juros e inflação.
Fernando Godoy cursou Administração de Empresas na FGV com foco em Gestão Estratégica, atuou por 2 anos em empresa de capital aberto e possui 9 anos de experiência no mercado financeiro, com ênfase em investimentos internacionais. Está no time da Portofino MFO há 7 anos, 5 deles como sócio.
O que você precisa saber: Nesta semana, alguns dos nomes mais importantes do mundo dos bancos centrais estão reunidos em Sintra, Portugal, para o tradicional fórum do Banco Central Europeu. E o painel desta terça-feira (1) reuniu duas figuras de peso: Christine Lagarde, do BCE, e Jerome Powell, do Fed.
Como era de se esperar, o trio “tarifas, juros e inflação” dominou a conversa.
Powell foi direto ao ponto: com a economia americana ainda mostrando força, o Fed prefere manter os juros como estão — pelo menos por enquanto. “Acreditamos que o mais prudente é esperar, entender melhor os efeitos das tarifas e observar os dados”, afirmou.
Segundo ele, a política tarifária tem segurado cortes que, de outro modo, talvez já tivessem acontecido. “Se você ignorar as tarifas, a inflação está se comportando exatamente como esperávamos”, comentou. E completou: “A economia americana está em uma posição muito boa. No geral, estamos saudáveis”. Para embasar, citou a inflação em 2,3% e o desemprego em 4,2%.
Sobre os efeitos das tarifas na inflação, o presidente do Federal Reserve explicou que o comitê do BC não esperava manifestação neste momento, mas que espera uma inflação um pouco maior no verão. ”Ela pode vir mais tarde ou mais cedo do que esperávamos”, disse.
Questionado se podemos ver corte de juros ainda este ano, ele respondeu: “Vamos ponderar se podemos seguir com reduções de juros ainda neste ano, vamos monitorar o que aparece e não aparece na inflação e também observar o mercado de trabalho. Mas uma maioria do comitê enxerga que seria apropriado começar a reduzir os juros no decorrer das próximas quatro reuniões”.
As declarações dadas pelo presidente acontecem poucos dias após novas críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Após sugerir até que poderia demitir Powell e chamá-lo de “burro e teimoso”, por não cortar os juros, Trump chegou a escrever uma carta à mão com um ranking das taxas de juros de diversos países ao redor do mundo.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, o BCE tem sido mais ativo: já cortou os juros oito vezes no último ano. Mas Lagarde manteve o tom de cautela: “os dados vão dizer. Nós estamos determinados a continuar analisando os dados, decidir a partir de cada encontro e não se comprometer com nenhum movimento previamente sobre o caminho dos juros”.
Ainda ontem, durante discurso de abertura do evento, a presidente do BC reiterou que o “trabalho não está terminado” contra a inflação. Apesar de se manter vigilante, ela destacou a importância de atingir a meta de 2% após anos de desafio político para estabilizar a inflação.
Por fim, mesmo com a prévia da inflação na Zona do Euro voltando a subir para 2% em junho (a primeira alta desde janeiro), Lagarde mostrou confiança: “Estamos em uma boa posição para atingir o objetivo e navegar nas águas turbulentas que antecipamos”.
O que você precisa saber: O Banco Central do Brasil aumentou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 15%, e sinalizou a manutenção da taxa restritiva por tempo prolongado. Nos EUA, o Federal Reserve manteve a taxa inalterada pelo quarto encontro consecutivo.
O Federal Reserve manteve as taxas de juros inalteradas na reunião de hoje, na faixa entre 4,25% e 4,50%, mas ainda projeta realizar dois cortes até o fim do ano. A autoridade monetária reconhece que a inflação segue um pouco acima do desejado, especialmente com o impacto de novas tarifas sobre bens importados, o que traz incertezas adicionais.
Por outro lado, o crescimento econômico dos EUA deve ser um pouco mais moderado à frente. Embora haja opiniões divergentes dentro do próprio Fed sobre o ritmo e o momento dos cortes, a sinalização central continua sendo de um processo gradual e cuidadoso, à medida que os dados econômicos evoluem.
Adicionalmente, o conflito atual entre Irã e Israel adiciona novos riscos geopolíticos, especialmente sobre o preço do petróleo, o que pode gerar mais volatilidade e incerteza nos mercados. Diante desse cenário, mantemos uma postura conservadora e seletiva na alocação dos portfólios.
Burton Mello Portfolio Manager
O Banco Central (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros (Selic) para 15% ao ano, com um novo aumento de 0,25 ponto percentual. A medida reflete a preocupação da autoridade monetária com o controle da inflação, mesmo em um cenário econômico já marcado por juros elevados.
No comunicado oficial, o tom foi bastante firme, indicando que os juros devem se manter em um patamar alto por um tempo prolongado—uma estratégia conhecida como política monetária contracionista, que busca frear o consumo e, assim, reduzir a pressão sobre os preços.
O Copom também destacou que os riscos para a inflação estão equilibrados, ou seja, há possibilidades de tanto alta quanto queda nos preços no futuro. No entanto, a análise do Banco Central sugere que as pressões inflacionárias—como o aumento de custos ou a alta da demanda—parecem mais prováveis no momento.
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O anúncio do novo pacote tarifário dos Estados Unidos para o Brasil, em 2 de abril de 2025, acendeu o sinal de alerta em setores estratégicos da economia nacional. Mas, passados dois meses, os efeitos ainda não foram suficientes para provocar mudanças concretas nas estratégias empresariais. Na indústria, a principal consequência até agora tem sido o compasso de cautela. “O impacto das tarifas americanas no mercado brasileiro ainda é incipiente, mesmo porque tem formação de estoques, tem discussões de postergamento, e essas novas negociações criam expectativas”, afirma Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Apesar de o setor não ter sofrido retrações diretas, a CNI enviou uma missão aos EUA em maio. O objetivo foi negociar tratamento diferenciado por setor e sinalizar que o Brasil tem projetos de complementaridade produtiva com os americanos, incluindo cadeias de semicondutores, terras raras, combustível sustentável de avião (SAF) e data centers verdes. “Nós temos 55% das nossas exportações de manufatura só para os Estados Unidos, é o principal destino dos nossos bens intensivos em tecnologia. Então, essa solução precisa ser encontrada o mais rápido possível, e entendemos que deveria ser feito também de forma setorial”, afirma Alban.
O presidente da CNI alerta, no entanto, que as tarifas americanas já provocam um desvio na balança comercial com outro parceiro: a China. “O maior impacto que já vemos foi uma maior concentração, no primeiro trimestre, de vendas de produtos manufaturados chineses para o Brasil, que aumentou 30% em relação ao mesmo período do ano passado”, observa.
O movimento também preocupa a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Segundo a entidade, só em março as importações de calçados da China cresceram 51,7% em relação ao mesmo mês de 2024. Em comunicado no início de abril deste ano, o presidente da entidade, Haroldo Ferreira, alertava que “essa invasão [de calçados chineses] ocorre antes mesmo da entrada em voga da nova tarifa. A previsão é de que aumente ainda mais nos próximos meses […] A China não ficará sem escoar essa produção”.
Já no agronegócio, o ritmo das vendas externas não apenas foi mantido, como acelerou em alguns setores, a exemplo da carne. Em abril, o Brasil embarcou 48 mil toneladas de carne bovina para o mercado americano, seis vezes mais que no mesmo mês de 2024. Segundo Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o principal fator da competitividade brasileira é estrutural: “Os EUA vivem o menor plantel bovino dos últimos 80 anos e seguem buscando fornecedores com capacidade de entrega em escala e preços acessíveis”, explica.
O rebanho bovino americano recuou em função de seca, alimentação dos animais mais cara e aumento dos juros, com impacto direto no custo de produção. Assim, mesmo com tarifa total que pode chegar a 36,4%, a carne brasileira continua mais barata. “Se a carne brasileira chega ao mercado a US$ 30 e sofre o acréscimo tarifário, ainda assim permanece muito mais competitiva que a carne americana, cotada a US$ 100”, afirma o presidente da Abiec.
Na prática, segundo Perosa, o tarifaço recaiu sobre os importadores americanos, “que arcam com os custos adicionais”.
“Nós ainda estamos em um momento de muita adaptação”, João Daronco.
No mercado financeiro, o impacto também foi difuso, mas não irrelevante. Para Eduardo Castro, CIO da Portofino Multi-Family Office, o vaivém das decisões americanas desestabilizou o horizonte de previsibilidade dos agentes econômicos. “Esse cenário foi deixando a própria economia real sem horizonte”, afirma. “Se de fato isso [o aumento de tarifas] caminhar nessa direção, vai ser ruim para ativos de risco, ruim para o dólar”, salienta.
Segundo Castro, o mercado global esperava que Trump fosse “positivo para ativos de risco”, mas a realidade surpreendeu. “Veio algo que se imaginava que viria, mas numa intensidade e numa desorganização, numa ausência de tecnicidade tão grande que deixou mercados e economia real absolutamente perdidos”, diz. Para ele, a principal consequência até o momento foi um aumento da cautela. “O máximo que se fez foi redução de risco: corte de exposição a renda variável, aumento de caixa, espera.”
A guerra comercial iniciada pelos EUA também deve levar a uma mudança na diversificação de carteiras internacionais, o que não deve abalar a posição americana no mercado, segundo Castro. “Portfólios que eram majoritariamente alocados nos Estados Unidos vão caminhar para uma diversificação maior. Apesar disso, os EUA não vão deixar de ser a principal economia do mundo, nem o principal país pra oferta de títulos e ativos financeiros; só que serão em um ponto de equilíbrio diferente”, diz.
A percepção também é compartilhada por João Daronco, analista da Suno Research. “Nós ainda estamos em um momento de muita adaptação, sem saber ao certo todas as consequências do tarifaço”, afirma. Segundo Daronco, não existe, até o momento, “nenhum direcionamento concreto [no Brasil] de uma empresa que está reduzindo o custo, cortando pessoal ou diminuindo investimentos propriamente dito”.Para ele, o impacto poderia ser percebido a partir de julho e agosto, “quando as empresas começarem, de fato, reportar os seus números, o fluxo de caixa, o quanto que investiram etc”.
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Mal o brasileiro deu os primeiros passos rumo à internacionalização dos seus investimentos e o “modo pânico” foi acionado nos mercados financeiros globais. A imposição de tarifas de importação mais severas do que se previa pelo governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, vem na sequência da rasteira já sofrida no início do ano pelas empresas de tecnologia com o fenômeno chinês DeepSeek. Só que agora, o tarifaço, se colocado em prática do jeito que foi formulado, terá desdobramentos ainda difíceis de se prever no xadrez econômico mundial e consequências para os preços dos ativos.
Neste ano, o índice S&P 500 perde mais de 15%; o Nasdaq acumula perdas de quase 21%, e o Dow Jones, de 11,20%. Os títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em dez anos recuam 0,06%, com o retorno apontando para 4,3%. No Brasil, o custo de oportunidade dado pela Selic parte de 14,25%, com uma inflação projetada de 5,1%, segundo o boletim Focus, que coleta as estimativas do mercado.
“Quando há uma série de investidores tomando atitudes irracionais, a primeira coisa que nós, agentes do mercado fiduciário, temos a fazer é tentar acalmá-los”, diz Daniel Haddad, executivo-chefe de investimentos da Avenue, corretora americana fundada por brasileiros, hoje controlada pelo Itaú Unibanco.
Com cerca de US$ 5, 5 bilhões na custódia da plataforma, ele cita que os investidores em geral não fizeram movimentos bruscos de mudança de carteira. “A gente investe muito tempo entendendo o perfil do cliente para que num momento como este ele consiga permanecer investido e tenha tranquilidade com uma carteira adequada à sua tolerância a risco.”
Haddad lembra que, no passado, a economia americana já enfrentou uma taxa de desemprego de 25%, juros de 20%, além de guerras, pandemia e recessões. “Ainda assim, os EUA continuam como a maior economia do mundo, as empresas permanecem sólidas, liderando a inovação global, e o Tesouro americano segue como uma referência de segurança para quem busca preservar capital”. Em tempos de volatilidade, a paciência é a chave.
O executivo cita que o pior que pode acontecer é montar uma carteira agressiva e quando o investidor vê o mercado cair 5%, tem o impulso de vender todos os ativos por se descobrir conservador. “Se você não se conhece, o mercado financeiro é um lugar muito caro para isso, porque o expõe a todos os tipo de emoção, na euforia ou na crise”, continua Haddad, mostrando que nesses momentos quem assessora o cliente tem que assumir um pouco o papel de psicólogo.
Haddad diz que o investidor que tem internacionalizado parte da sua carteira tem hoje mais a mentalidade de preservação do capital no longo prazo, com viés multigeracional. “O bolso mais fundo vem com a ideia de preservação de capital e sabe que para isso precisa de tempo.”
Olhando pelo retrovisor, o executivo da Avenue lembra que nos momentos de recessão, os investidores em geral buscam ativos mais seguros e, por consequência, o dólar se valoriza em relação a outras moedas. Há a percepção de que o país desenvolvido tem menor risco do que os emergentes”, afirma. Estatisticamente, ciclos de recessão nos EUA ocorrem a cada sete anos, mas com o benefício do retorno composto, quem fica investido consegue capturar valor e não perde as recuperações.
Embora a política comercial de Trump tenha vindo mais salgada do que se esperava, com uma taxação média de 18%, neste primeiro momento o melhor é não fazer nada, diz Adriano Cantreva, sócio da gestora de fortunas Portofino, em Nova York. Ele considera que a intenção do governo é mostrar que está disposto a ir para o tudo ou nada, mas que no fim pode ser uma estratégia de negociação. Mas assusta.
“É óbvio que não querem causar uma recessão. Porém, neste mandato novo, Trump parece querer entregar o que prometeu”, diz Cantreva. Se no curto prazo é muita incerteza para digerir, ele acredita que à frente pode haver um desfecho saudável. “O investidor tem que seguir com o olhar para o longo prazo, pensar no plano feito para a aposentadoria. Vai ter volatilidade, pode cair, mas o fundamento pode ser melhor.”
Nessas horas de incerteza, quem tem alguma liquidez pode até aproveitar preços mais descontados. Ele cita como exemplo as ações da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, que sofreram na onda de vendas e que costumam ser caras. “Há bons negócios a preços interessantes. É o momento de considerar empresas que caíram bastante, têm potencial de valorização, um negócio sólido e que geram caixa. É o que dá conforto para segurar por um longo período de tempo porque as companhias entregam resultados e contribuem para aumentar o patrimônio do investidor no decorrer do tempo.”
O índice S&P 500, que tem grande peso das sete gigantes de tecnologia – Amazon, Apple, Alphabet (dona do Google), Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla – pode sofrer mais porque metade das receitas dessas companhias vem de outros países, diz Cantreva. “Estão mais expostas a retaliações de outras economias.” Mas abaixo delas, há outros casos que podem trazer frutos.
Já Otávio Vieira, que lidera a estratégia de crédito da gestora de fortunas Est, diz que a retaliação chinesa aos EUA pode deflagar uma crise pior do que a das hipotecas de alto risco, em 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers. “Só que ali havia instrumentos para lidar, como ‘QE’ [afrouxamento quantitativo] e juros mais baixos. Mas uma estagflação por desarranjo tarifário o mundo ainda não experimentou e não sei se vai saber responder”, afirma.
Mesmo que Trump volte atrás, as suas idas e vindas vão confundir as cadeias de produção e congelar investimentos, acrescenta Vieira. Outro efeito vai ser na inflação, porque a taxação extra vai acabar recaindo no bolso do americano, que vai ter que arcar com produtos mais caros.
“Todo mundo vai sofrer, com a guerra comercial vai ter um período de inflação mais alta”, diz Matheus Amaral, especialista em renda variável do Inter. É uma má notícia para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que ainda luta para levar a inflação de volta à meta de 2%. “Os ativos de risco vão reagir a um ambiente de negócios não muito propício.” Para momentos de alta volatilidade, ele diz não haver uma fórmula certa. O investidor pode fazer a rotação que se vê nos EUA, privilegiando ações de concessionárias de serviços públicos e do setor financeiro, deixando um pouco de lado as grandes de tecnologia.