O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, reforçando uma postura cautelosa diante de um cenário que combina inflação ainda resiliente, expectativas pouco ancoradas e um ambiente internacional incerto. Embora os últimos dados mostrem alguma desaceleração da inflação no curto prazo, a autoridade monetária avalia que o índice segue acima da meta e que o ritmo de arrefecimento não é suficiente para justificar cortes imediatos nos juros.
O comunicado também ressalta que o mercado de trabalho permanece aquecido, o que tende a pressionar os preços de serviços, além de lembrar que as condições externas — especialmente a trajetória de juros nos Estados Unidos e a volatilidade das commodities — adicionam riscos à economia brasileira.
Na prática, o Copom reconhece que a taxa atual é elevada e tem impactos relevantes sobre a atividade, mas prefere esperar sinais mais claros de convergência da inflação antes de iniciar um ciclo de cortes. Um ponto importante é que o comunicado retirou a sinalização explícita de manutenção para a próxima reunião, o que pode indicar proximidade de um esgotamento no atual nível de juros.
Além disso, o Banco Central procura equilibrar duas pressões: de um lado, a necessidade de controlar a inflação para preservar o poder de compra; de outro, a preocupação em não frear excessivamente a economia. Ao manter um discurso firme, o Copom busca reforçar sua credibilidade e sinalizar ao mercado que não pretende ceder a pressões políticas ou conjunturais, mantendo o foco em assegurar a estabilidade de preços no médio e longo prazo.
Thomás Gibertoni Sócio | Portfolio Manager
É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.
O Fed reduziu a taxa de juros em 0,25 p.p., para 4%–4,25%, diante de sinais de desaceleração da economia e de uma inflação ainda acima da meta. O balanço de riscos passou a pesar mais para o lado do emprego, com maior preocupação sobre uma possível deterioração do mercado de trabalho.
A decisão foi interpretada como um ajuste fino de política monetária, e não como uma mudança estrutural de rumo, dada ainda a inflação resiliente e a incerteza em relação às tarifas. O Fed reforçou que seguirá acompanhando atentamente os dados econômicos e poderá realizar novos cortes se os riscos se intensificarem. Apenas um membro do Comitê votou por uma redução mais agressiva, de 0,50 p.p. Há expectativa de mais dois cortes no ano e de três adicionais em 2026, levando a uma taxa terminal de 3%.
O que você precisa saber: O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, caiu 0,53% em julho na comparação com junho, já descontados efeitos sazonais.
O resultado veio pior do que a expectativa de queda de 0,30% apurada pelo mercado. A retração foi ampla e atingiu praticamente todos os setores. A agropecuária recuou 0,8%, a indústria teve sua quarta queda seguida (-1,1%), e o setor de serviços também perdeu fôlego (-0,2%).
Com isso, o crescimento acumulado em 12 meses desacelerou de 3,9% para 3,5%. Os números reforçam a percepção de que a economia brasileira está em um processo de desaceleração gradual, em grande parte devido aos juros elevados mantidos pelo Banco Central para conter a inflação.
Apesar das pressões típicas de ano eleitoral, os dados fortalecem a visão de que o ambiente econômico está mais fraco. Analistas ainda esperam que o corte da taxa Selic ocorra apenas no início de 2026, mas já há discussão sobre antecipação para este ano caso o desaquecimento continue.
Thomás Gibertoni Sócio | Portfolio Manager
É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.
O que você precisa saber: Em encontro da Esfera Brasil, o ex-vice-presidente Hamilton Mourão defendeu que a sustentabilidade das contas públicas seja prioridade.
Por Esfera Brasil
O ex-vice-presidente da República e atualmente senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) avaliou que a direita brasileira tem grandes chances de vitória na corrida presidencial de 2026, citando os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Jr. (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS), como bons candidatos.
“Temos toda uma possibilidade do grupo de direita sair vitorioso. Temos gente capacitada, gestores provados. E temos um governo do presidente Lula, que ainda está preso no início dos anos 2000, e já estamos em 2025”, afirmou durante encontro na Casa ParlaMento na quarta-feira (10).
O parlamentar afirmou que o candidato a ser eleito terá trabalho longo e urgente com foco principalmente em medidas fiscais, a fim de reverter o cenário de vulnerabilidade para as contas públicas nos próximos anos.
“Quem foi eleito ano que vem vai ter que executar ao longo dos próximos quatro anos uma política de ajuste draconiana. Não tem como, independentemente se o atual presidente for reeleito ou se o alguém do nosso campo vencer a eleição, vai ter que tomar essa atitude”.
Tarifaço
Membro da comissão mista que analisa o texto da Medida Provisória do Plano Brasil Soberano (MP 1309/2025), o senador também fez breve análise sobre o fenômeno do tarifaço. Ele faz uma leitura de que o Brasil representa pilares como o pacto de gerações, a democracia, o capitalismo, e o estado de direito. Contudo, o governo petista tem se utilizado desses valores para ideologizar as relações internacionais.
“O que ocorre é que o governo do presidente Lula tem uma visão ideológica dessa relação. Não pode ser assim. Temos que atuar com pragmatismo e flexibilidade”, declarou.
Para Mourão, a relação institucional entre Brasil e Estados Unidos foi marcada por uma série de equívocos desde o início do mandato de Donald Trump. Ele citou a recusa do presidente Lula em se comunicar com o presidente norte-americano após o resultado das eleições americanas, postura que se manteve na gestão da crise das tarifas.
“O governo tem que perder a soberba, o presidente da República tem que passar a mão no telefone e ligar para o presidente Trump”, defendeu.
Ainda, no diagnóstico do senador, o plano traçado pelo governo brasileiro para socorrer as empresas afetadas é “paliativo”. Além de ser avaliada como insuficiente para a manutenção dos padrões da operação dos setores afetados, o pacote também conta com a estratégia de deixar o crédito extraordinário de fora do arcabouço.
Forças Armadas na política
Questionado sobre a participação das Forças Armadas na composição política, Mourão avaliou que hoje o país encara de forma mais madura a presença de militares em cargos públicos. O senador, que também é general da reserva do Exército brasileiro, descreve que a história da democracia brasileira foi marcada por episódios em que foi necessário que o Executivo colocasse limites claros, separando a política dos quartéis.
“Não há essa entrada da política dentro da força, porque se a política entra no quartel pela porta da frente, a disciplina e hierarquia se evadem pela porta dos fundos”, concluiu.
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O que você precisa saber: O IPCA caiu 0,11% em agosto, um resultado melhor que o de julho (0,26%) e que reduziu a inflação em 12 meses de 5,23% para 5,13%.
A queda foi puxada por fatores pontuais, como a redução na conta de luz (-4,21%), combustíveis (-0,89%) e alimentos in natura (-3,08%). Descontos em passagens aéreas (-2,44%) e eventos culturais (-4,02%) também ajudaram.
Apesar da desaceleração no índice cheio, os núcleos de inflação, acompanhados de perto pelo Banco Central, voltaram a acelerar. Destaque para bens industriais e serviços intensivos em trabalho, que subiram no trimestre móvel. A principal surpresa veio do preço de automóveis novos, que caiu menos que o esperado mesmo com incentivos do IPI Verde.
Resumo
A leitura interrompeu a melhora qualitativa vista nos últimos meses, mas não indica reversão da tendência de desinflação;
O cenário ainda reflete um mercado de trabalho aquecido no Brasil, contrastando com um ambiente internacional mais favorável, que tem ajudado câmbio e expectativas de inflação;
A combinação desses fatores reforça a visão de que a Selic deve permanecer estável até o 1º tri/2026.
Thomás Gibertoni Sócio | Portfolio Manager
É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.
O que você precisa saber: O cenário nos Estados Unidos está muito movimentado: próximo da reunião que pode cortar a taxa de juros, as tarifas, mercado de trabalho e imigração ainda são destaques.
Quando Donald Trump venceu a última eleição, ninguém esperava uma presidência sem turbulências. Pelo contrário: as expectativas eram de que o palco político global seria sacudido. E é exatamente isso que está acontecendo. Com medidas protecionistas e uma postura radical sobre imigração, ele coloca os Estados Unidos no centro de um furacão, e o mundo inteiro está de olho.
Em um cenário marcado pelo vaivém, o mundo acompanha atentamente as notícias que surgem sobre a política de tarifas. Longe das surreais taxas aplicadas no começo do ano – vide a de 145% para a China -, o momento se voltou para as tarifas de 50% aplicadas no Brasil. Diversos outros países continuam sob os holofotes da política tarifária do líder americano, como a União Europeia – que chegou a um recente acordo com os americanos -, a Índia – com taxas iguais a do Brasil -, entre outros.
Contudo, apesar de as tarifas estarem a todo vapor, a decisão de um tribunal federal as considerou ilegais. Agora, o presidente recorreu à Suprema Corte para os magistrados reverterem a decisão. Em meio a isso, as tarifas ainda continuam em vigor, já que a justiça permite a continuidade enquanto o processo avança. (Entenda mais aqui)
A relação de Trump com o Federal Reserve (o banco central americano) também é um capítulo à parte. As taxas que estão na faixa de 4,25% a 4,50% viram uma pequena fresta se abrir em direção a uma queda na próxima reunião – para a felicidade do presidente.
Trump está há meses pressionando Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, a reduzir as taxas de juros. As ameaças e os xingamentos — como “burro” e “teimoso” — viraram rotina. Curiosamente, foi o próprio Trump quem o indicou para o cargo em seu primeiro mandato, e agora o acusa de ter motivações políticas para não reduzir os juros.
E os ataques não se limitam somente a Powell. Trump mirou em Lisa Cook, uma das diretoras do Fed, após a demitir por supostas fraudes em empréstimos hipotecários. O caso não tem precedentes na história do país e reacende o debate sobre a independência do banco central. (Você pode mergulhar no assunto através deste link).
Apesar da pressão, o líder americano pode estar perto de ver seu desejo se realizar.
No importante simpósio de Jackson Hole, Powell sinalizou uma pequena abertura para um corte de juros, ainda que cautelosamente.
O chairman do Fed destacou que a política monetária já se encontra em “território restritivo” e que o equilíbrio de riscos entre crescimento e inflação está mudando, o que pode justificar ajustes na postura atual. Ele reforçou que as decisões seriam tomadas com base em dados econômicos, reafirmando que o Fed não se curvará a pressões políticas.
Porém, outros dados importantes precisam entrar na conta: o Livro Bege mostrou que as empresas estavam hesitantes em contratar trabalhadores, resultado da demanda mais fraca ou à incerteza. Além disso, também “quase todos os distritos observaram aumentos de preços relacionados a tarifas, com fontes de muitos distritos relatando que as tarifas tiveram impacto especialmente forte nos preços de insumos”.
Assim, os dados do mercado de trabalho também foram atualizados. O Payroll, por outro lado, mostrou sinais de desaceleração do mercado de trabalho em agosto, com a criação de apenas 22 mil empregos.
Os dados reforçam que o mercado de trabalho americano está perdendo fôlego, refletindo possivelmente os efeitos das políticas comerciais do governo Trump – especialmente as tarifas impostas em abril, que reduziram o volume de comércio e afetaram a atividade econômica.
Diante desse cenário, e considerando o duplo mandato do Federal Reserve (que busca equilibrar emprego e inflação), o fraco resultado de agosto é um sinal de que os juros podem cair na próxima reunião do Fed, mesmo com preocupações inflacionárias relacionadas às tarifas.
Nos dias 16 e 17 de setembro, teremos uma resposta quanto aos juros: Trump finalmente vai ver os juros caírem ou Powell continuará sendo “burro” e “teimoso” na visão do presidente?
E tem mais assunto…
Enquanto isso, em outras frentes, as promessas de Trump seguem sendo testadas. A promessa de acabar com a guerra no Leste Europeu em “24 horas” se mostrou uma ilusão. Oito meses de seu governo e o conflito entre Rússia e Ucrânia ainda é uma ferida aberta. Acordos de cessar-fogo frágeis e a morte de inocentes nos lembram que a guerra não é um jogo de palavras.
E se a situação não é nada animadora entre Rússia e Ucrânia, o mesmo pode-se dizer da guerra no Oriente Médio.
O – frágil – acordo de paz que Trump reivindicou para si ruiu como um castelo de cartas. Após alguns meses sem guerra na região e imagens emocionantes de reféns libertados, a impressão é que tudo voltou à estaca zero. Retratos desumanos e de violência voltaram a dar o tom nesse sangrento conflito entre Israel e Hamas.
Em meio a tantas manobras políticas, econômicas e militares, o mundo observa com atenção os desdobramentos das ações de Donald Trump. A cada decisão, ele redefine não somente o cenário interno dos Estados Unidos, mas também o equilíbrio global. Enquanto isso, seus aliados e adversários tentam se adaptar a essa nova dinâmica.
O que você precisa saber: Os dados do relatório payroll reforçaram queda no mercado de trabalho e aumenta possibilidade para corte de juros.
O mercado de trabalho americano mostrou sinais de desaceleração em agosto, com a criação de apenas 22 mil empregos – resultado bem abaixo da expectativa do mercado, que era de 75 mil. No setor privado, foram 38 mil vagas criadas, também abaixo dos 75 mil esperados.
Principais pontos do relatório
A média de criação de empregos nos últimos seis meses caiu para 64 mil (ante 78 mil no mês anterior).
A taxa de desemprego subiu de 4,2% para 4,3%, confirmando a tendência de enfraquecimento.
Os rendimentos médios dos trabalhadores desaceleraram mais que o previsto, caindo de 3,9% para 3,7% no acumulado anual.
Contexto e implicações
Os dados reforçam que o mercado de trabalho americano está perdendo fôlego, possivelmente refletindo os efeitos das políticas comerciais do governo Trump – especialmente as tarifas impostas em abril, que reduziram o volume de comércio e afetaram a atividade econômica.
Diante desse cenário, e considerando o duplo mandato do Federal Reserve (que busca equilibrar emprego e inflação), o fraco resultado de agosto aumenta a probabilidade de um corte de juros na próxima reunião do Fed. Isso ocorre mesmo com preocupações inflacionárias relacionadas às tarifas, sinalizando que a prioridade do banco central é sustentar o crescimento econômico.
Thomás Gibertoni Sócio | Portfolio Manager
É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.