O que você precisa saber: Em maio, o IBC-Br (um indicador que mede a atividade econômica no Brasil) caiu 0,7% em relação ao mês anterior, um resultado pior do que o esperado pelo mercado, que previa estabilidade (-0,02%).
A queda foi puxada principalmente pelo setor agropecuário (-4,2%) e também pela indústria (-0,5%), que já vem apresentando fraqueza há dois meses. O setor de serviços ficou estável, mas sem crescimento.
Apesar do resultado fraco em maio, o acumulado dos últimos 12 meses ainda mostra crescimento (4,0%). No entanto, os números indicam que a economia está perdendo fôlego, com perspectivas mais modestas para os próximos meses.
Resultado ajuda o BC no discurso de interrupção das altas de juros
O fraco desempenho do IBC-Br em maio reforça a tendência de desaceleração da economia brasileira, algo que já vinha sendo sinalizado por outros indicadores. Essa perda de ritmo está relacionada aos efeitos dos juros altos, que continuam freando a atividade, ajudando no discurso do Banco Central de interromper as altas de juros.
Thomás Gibertoni Sócio | Portfolio Manager
É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.
O que você precisa saber: Nos últimos dias, o presidente Donald Trump impôs uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros. Nesta carta, o nosso sócio e CIO, Eduardo Castro, repercute os impactos dessa decisão do governo americano.
O mercado ontem debateu as consequências do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, uma medida de cunho político que sacode a economia doméstica e os ativos locais. Contudo, para um governo já nas cordas, a crise oferece uma nova narrativa que pode desviar o foco de suas fragilidades e reacender a polarização em seu favor.
Na carta enviada ao governo brasileiro, Donald Trump justificou as tarifas como resposta à “caça às bruxas” conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Descrito como uma “vergonha internacional”, o processo foi alvo de exigência de interrupção imediata, grafada em letras maiúsculas. Trump também alegou “censura ilegal” contra plataformas americanas de mídia social e violações à liberdade de expressão. A única justificativa econômica, baseada em dados equivocados sobre déficit comercial, reforça a percepção de que a decisão é movida por antagonismo ideológico com o governo Lula, e não por fundamentos sólidos.
O argumento de uma relação comercial “injusta” não se sustenta. O Brasil é o único entre os países que receberam cartas semelhantes a apresentar déficit comercial consistente com os EUA nos últimos anos. Enquanto isso, a balança comercial americana é amplamente deficitária com parceiros como México, Canadá, China, Alemanha e Japão, expondo a fragilidade da justificativa econômica.
Impactos econômicos: moderados, mas setoriais
Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras, absorvendo, em 2024, US$ 40 bilhões, ou cerca de 11% do total, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Os principais produtos incluem petróleo bruto (14%), semimanufaturados de ferro ou aço (13%), aeronaves e partes (11%), carne bovina (2%), café (1,7%), celulose (1,5%) e suco de laranja (1,2%).
Embora commodities possam, com o tempo, encontrar novos mercados, empresas como a Embraer e WEG seriam particularmente mais afetadas, dado o peso do mercado americano para suas vendas. Se as tarifas persistirem, o setor enfrenta perdas significativas, evidenciando a fragilidade de áreas dependentes de exportações. Setorialmente, o impacto pode não ser desprezível.
Arena política: das cordas à nova narrativa
O governo Lula já estava nas cordas, acuado por derrotas no Congresso — como a derrubada do aumento do IOF, a reversão de vetos presidenciais e a investigação de fraudes bilionárias no INSS, com potencial de minar ambições de reeleição. Contudo, a crise com Trump oferece uma oportunidade: uma narrativa de resistência ao “imperialismo americano” que pode desviar o foco das fragilidades internas e galvanizar a base petista.
A guerra de narrativas entre esquerda e direita já começou:
Esquerda: acusa Trump de violar a soberania nacional ao tentar pressionar o Executivo a interferir no STF, ferindo a separação de poderes. O PT pode explorar essa narrativa para se posicionar como defensor da independência brasileira, fortalecendo seu discurso contra o “imperialismo yankee”.
Direita: argumenta que a falta de habilidade diplomática de Lula, ao priorizar ideologia, provocou a resposta americana. Citam a negociação pragmática da presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, como um exemplo de diplomacia eficaz que o Brasil não adotou.
Ambas as perspectivas têm racionalidade, mas o caso brasileiro é complexo: como negociar sem comprometer a soberania ou interferir no STF? Para o governo, estar nas cordas já era uma realidade; agora, a crise com Trump oferece um contra-ataque narrativo que pode reenergizar sua base.
Reação dos mercados e o papel de Bolsonaro
Os mercados reagiram com volatilidade moderada: segundo dados de ontem, até o final do dia, os juros futuros abriram 0,20%, o câmbio desvalorizou 0,8% e o Ibovespa caiu menos de 2%. Essa resposta contida reflete a aposta no padrão “TACO” (Trump Always Chickens Out, ou “Trump Sempre Arrega”), termo cunhado pelo Financial Times para descrever a tendência de Trump de anunciar tarifas elevadas, como contra China e União Europeia, e depois recuar ou negociar.
Interlocutores de Jair Bolsonaro sugerem que ele poderia intervir junto à Casa Branca para mitigar os impactos econômicos, já que as tarifas foram justificadas como apoio a ele. Contudo, a polarização dificulta avanços: o PT pode amplificar a narrativa de “nós contra eles”, elegendo o imperialismo americano como inimigo, enquanto Trump usa o Brasil para projetar sua força global, honrando a promessa de “Make America Great Again” (MAGA).
Conclusão: das cordas ao ringue da polarização
Como dizia Tom Jobim: “o Brasil não é para amadores”. A crise das tarifas expõe as fragilidades do governo, mas também lhe dá uma nova narrativa para sair das cordas. Ao posicionar Trump como vilão, o PT pode reacender a polarização contra bolsonaristas, desviando atenções de escândalos e derrotas. Os mercados, por ora, precificam volatilidade, mas apostam em um recuo de Trump. Se o padrão “TACO” prevalecer, o estrago econômico pode ser menor, mas o impacto político já alimenta a imprevisibilidade das eleições de 2026.
Cenas dos próximos capítulos.
Eduardo Castro Sócio | Chief Investment Officer
“Gestão Dinâmica” é um boletim com pontos relevantes do mercado comentados pelo nosso Chief Investment Officer, Eduardo Castro.
O que você precisa saber: O IPCA (índice oficial de inflação) de junho ficou acima do esperado pelo mercado (0,20%), mas desacelerou em relação a maio (0,24%, ante 0,26%). No acumulado de 12 meses, porém, houve uma leve alta (de 5,32% para 5,35%).
Inflação dos núcleos (medidas que o BC acompanha de perto): Algumas dessas medidas subiram mais que o esperado, como serviços (0,44%, ante 0,42%). No entanto, os indicadores suavizados (que mostram tendências) melhoraram significativamente.
Indústria: queda de 4,6% para 3,5% em 3 meses.
Serviços: queda de 7,4% para 3,5% em 3 meses.
Média dos núcleos de inflação: queda de 5,3% para 4,8% em 3 meses.
Conclusão Apesar de algumas pressões, a inflação de junho reforça que o pior momento já passou. O número não é tão bom quanto os anteriores, mas também não é ruim. A melhora nos indicadores de tendência apoia a visão do Banco Central de que os juros altos já estão fazendo efeito na economia e terão impacto ainda maior no futuro.
Thomás Gibertoni Sócio | Portfolio Manager
É formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e possui certificações CGA e CGE. Thomás passou pelo Banco Santander e antes de chegar à Portofino foi Portfolio Manager na Claritas Investimentos.
O que você precisa saber: Nesta semana, alguns dos nomes mais importantes do mundo dos bancos centrais estão reunidos em Sintra, Portugal, para o tradicional fórum do Banco Central Europeu. E o painel desta terça-feira (1) reuniu duas figuras de peso: Christine Lagarde, do BCE, e Jerome Powell, do Fed.
Como era de se esperar, o trio “tarifas, juros e inflação” dominou a conversa.
Powell foi direto ao ponto: com a economia americana ainda mostrando força, o Fed prefere manter os juros como estão — pelo menos por enquanto. “Acreditamos que o mais prudente é esperar, entender melhor os efeitos das tarifas e observar os dados”, afirmou.
Segundo ele, a política tarifária tem segurado cortes que, de outro modo, talvez já tivessem acontecido. “Se você ignorar as tarifas, a inflação está se comportando exatamente como esperávamos”, comentou. E completou: “A economia americana está em uma posição muito boa. No geral, estamos saudáveis”. Para embasar, citou a inflação em 2,3% e o desemprego em 4,2%.
Sobre os efeitos das tarifas na inflação, o presidente do Federal Reserve explicou que o comitê do BC não esperava manifestação neste momento, mas que espera uma inflação um pouco maior no verão. ”Ela pode vir mais tarde ou mais cedo do que esperávamos”, disse.
Questionado se podemos ver corte de juros ainda este ano, ele respondeu: “Vamos ponderar se podemos seguir com reduções de juros ainda neste ano, vamos monitorar o que aparece e não aparece na inflação e também observar o mercado de trabalho. Mas uma maioria do comitê enxerga que seria apropriado começar a reduzir os juros no decorrer das próximas quatro reuniões”.
As declarações dadas pelo presidente acontecem poucos dias após novas críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Após sugerir até que poderia demitir Powell e chamá-lo de “burro e teimoso”, por não cortar os juros, Trump chegou a escrever uma carta à mão com um ranking das taxas de juros de diversos países ao redor do mundo.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, o BCE tem sido mais ativo: já cortou os juros oito vezes no último ano. Mas Lagarde manteve o tom de cautela: “os dados vão dizer. Nós estamos determinados a continuar analisando os dados, decidir a partir de cada encontro e não se comprometer com nenhum movimento previamente sobre o caminho dos juros”.
Ainda ontem, durante discurso de abertura do evento, a presidente do BC reiterou que o “trabalho não está terminado” contra a inflação. Apesar de se manter vigilante, ela destacou a importância de atingir a meta de 2% após anos de desafio político para estabilizar a inflação.
Por fim, mesmo com a prévia da inflação na Zona do Euro voltando a subir para 2% em junho (a primeira alta desde janeiro), Lagarde mostrou confiança: “Estamos em uma boa posição para atingir o objetivo e navegar nas águas turbulentas que antecipamos”.
O que você precisa saber: O Banco Central do Brasil aumentou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 15%, e sinalizou a manutenção da taxa restritiva por tempo prolongado. Nos EUA, o Federal Reserve manteve a taxa inalterada pelo quarto encontro consecutivo.
O Federal Reserve manteve as taxas de juros inalteradas na reunião de hoje, na faixa entre 4,25% e 4,50%, mas ainda projeta realizar dois cortes até o fim do ano. A autoridade monetária reconhece que a inflação segue um pouco acima do desejado, especialmente com o impacto de novas tarifas sobre bens importados, o que traz incertezas adicionais.
Por outro lado, o crescimento econômico dos EUA deve ser um pouco mais moderado à frente. Embora haja opiniões divergentes dentro do próprio Fed sobre o ritmo e o momento dos cortes, a sinalização central continua sendo de um processo gradual e cuidadoso, à medida que os dados econômicos evoluem.
Adicionalmente, o conflito atual entre Irã e Israel adiciona novos riscos geopolíticos, especialmente sobre o preço do petróleo, o que pode gerar mais volatilidade e incerteza nos mercados. Diante desse cenário, mantemos uma postura conservadora e seletiva na alocação dos portfólios.
Burton Mello Portfolio Manager
O Banco Central (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros (Selic) para 15% ao ano, com um novo aumento de 0,25 ponto percentual. A medida reflete a preocupação da autoridade monetária com o controle da inflação, mesmo em um cenário econômico já marcado por juros elevados.
No comunicado oficial, o tom foi bastante firme, indicando que os juros devem se manter em um patamar alto por um tempo prolongado—uma estratégia conhecida como política monetária contracionista, que busca frear o consumo e, assim, reduzir a pressão sobre os preços.
O Copom também destacou que os riscos para a inflação estão equilibrados, ou seja, há possibilidades de tanto alta quanto queda nos preços no futuro. No entanto, a análise do Banco Central sugere que as pressões inflacionárias—como o aumento de custos ou a alta da demanda—parecem mais prováveis no momento.