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O que você precisa saber:
O presidente Donald Trump escalou a tensão contra o Federal Reserve após demitir a diretora Lisa Cook. O movimento acontece poucos dias antes da próxima reunião de juros.
A pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o Federal Reserve chegou a um ponto sem precedentes na história. Trump publicou uma carta na qual demitia Lisa Cook, diretora do banco central americano.
A acusação? Supostas fraudes em empréstimos hipotecários. O presidente afirmou que há provas suficientes para comprovar os pedidos falsos em hipotecas. A situação escalou ainda mais após o diretor da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos Estados Unidos, William Pulte, afirmar que as investigações foram realizadas de forma regular, e não pertencem a uma “caça às bruxas” contra a oposição.
Lisa Cook, por sua vez, não aceitou a derrota. Ela se recusou a deixar o cargo e entrou com uma ação na Justiça, alegando que Trump não tem autoridade para tirá-la de lá. O ponto-chave dessa batalha está na lei que rege o Fed, que exige a comprovação de uma falta grave para que um membro seja demitido. Essa disputa é um marco, pois coloca à prova os limites do poder presidencial.

Qual a relevância dessa relação?
Qual a importância dessa decisão? A resposta está nas ambições de Donald Trump. Desde que assumiu a presidência, o líder americano tem pressionado Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, a reduzir as taxas de juros. As ameaças e os xingamentos — como “burro” e “teimoso” — viraram rotina. Trump, que curiosamente foi quem indicou Powell, agora o acusa de ter motivações políticas para não reduzir os juros, alegando que o país já deveria estar com taxas “pelo menos dois a três pontos abaixo”.
Com a possível saída de Cook, abre-se uma nova vaga no Conselho de Governadores do Fed e a oportunidade de Trump indicar alguém mais alinhado aos seus interesses. Cook é uma das 12 integrantes responsáveis por definir a política de juros nos Estados Unidos.
Se a saída da economista se concretizar, Trump poderá ampliar sua influência na composição do conselho do Fed. Ele já nomeou Michelle Bowman para ser a principal reguladora bancária do banco central e, segundo rumores, estaria pensando em Christopher Waller para suceder Powell.
E como está a política de juros?
A grande expectativa está para a próxima reunião de juros em setembro. Na sua participação no Simpósio de Jackson Hole, Powell abriu uma porta, ainda que tímida, para um corte na taxa de juros. Jerome Powell afirmou em seu discurso anual em Jackson Hole que, diante de um cenário de elevada incerteza, há possibilidade de cortes de juros à frente, ainda que de forma cautelosa. Hoje, os juros se encontram na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.
O chairman do Fed destacou que a política monetária já se encontra em “território restritivo” e que o equilíbrio de riscos entre crescimento e inflação está mudando, o que pode justificar ajustes na postura atual. Ele reforçou que o mercado de trabalho segue forte e a economia mostra resiliência, mas os riscos de desaceleração aumentaram. Apesar disso, poucos dias depois, a segunda prévia do PIB do segundo trimestre foi revisado para 3,3% anualizado, acima da previsão anterior de 3,0%.
Por fim, em meio ao velho debate sobre a independência do Fed e a um possível corte nos juros, o presidente do BC mandou um recado claro: as decisões serão tomadas com base em dados econômicos, e não em pressões políticas – reafirmando a independência da instituição.