Miriam Leitão – O Globo
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O presidente Donald Trump está surpreendendo a todos com a velocidade e a agressividade das medidas que vem anunciando nas suas duas primeiras semanas de governo, levando analistas a preverem inflação e juros mais altos nos EUA e uma desaceleração da economia mundial diante de uma possível guerra comercial global. O mercado americano, no entanto, continua confiante no novo governo e nos efeitos positivos que pode ter sobre a economia americana. E a razão é simples: eles acreditam que muito do que Trump fala é bravata e que, no fim, o bom senso vai prevalecer, diz Adriano Cantreva, sócio da Portofino Multi Family Office, que atua em Nova York, de onde há mais de 30 anos acompanha os movimentos do mercado global.
-É a estratégia negocial de Trump, ele vai com tudo ou não vai ter o efeito que deseja. Alguma coisa do que vem ameaçando, por exemplo, em relação às tarifas, será implementada. Mas ele sabe que, se fizer tudo como anunciou, vai ter efeito na economia americana, piora nos indicadores, no desemprego e ele não quer isso. Todos os países estão jogando xadrez, aguardando o movimento do outro, foi assim com Canadá e México e também está acontecendo com a China. Radicalizar e derrubar o tabuleiro não é bom para ninguém, por isso acho que o bom senso vai prevalecer. Ele radicaliza mais no discurso que, na prática, foi assim no primeiro governo, e será assim nos próximos quatro anos – avalia Cantreva.

A visão otimista do mercado, explica o analista, vem da perspectiva de desregulamentação da economia, o que acredita aumentará os investimentos privados:
-A economia americana vai bem, mas muito estimulada pelo investimento público, desde a pandemia. Com a desregulamentação prometida por Trump, em setores como energia, meio ambiente e no órgão correspondente ao Cade brasileiro, a avaliação é que haverá mais movimentação do capital privado, empurrando os negócios para frente. Todo esse movimento só terá reflexo no segundo semestre. Até aqui, o governo tem feito movimentos em direções conflitantes, não se sabe ao certo qual vai prevalecer, mas acreditamos que, se der errado, ele vai dar um passo atrás.
Cantreva diz que a economia americana continua a ser a “grande locomotiva do mundo”, ainda mais diante do arrefecimento do mercado na China, o que dá força a Trump na negociação.
-Ele tem as cartas na mão. Canadá e México podem até procurar outros parceiros, mas nenhum oferece o que os EUA podem dar. E no fim, acaba saindo barato o acordo feito até agora para eles. Em lugar da tarifa, o governo mexicano vai colocar dez mil homens da guarda nacional na fronteira. A ação do governo canadense vai custar US$ 1,3 bi.