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O que você precisa saber:
Na terça-feira (20), aconteceu o Macro Day, evento realizado pelo BTG Pactual que reuniu diversas figuras importantes dos cenários político e econômico, como Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central, e Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, além de outras personalidades políticas e empresariais.
Confira a seguir um overview do evento:
Perspectiva Econômica Brasileira
O primeiro painel do evento contou com a presença de Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, que comentou sobre a condução da equipe econômica no período pós-pandemia, assim como a necessidade da relação entre os poderes para que os resultados sejam alcançados.
Questionado sobre a política monetária, o ministro alertou que um erro na calibragem pode abortar um processo virtuoso de combate à inflação pelo lado da oferta. Nesse momento, Haddad falou de forma serena, a fim de evitar qualquer interpretação de conflito com o Banco Central, ressaltando que a equipe da autoridade monetária possui profissionais capacitados para realizar essa análise.
Haddad também afirmou que “não há razão para o Brasil não crescer igual ou acima da média mundial, com todo potencial que a economia brasileira tem”. A questão fiscal foi debatida, como não poderia ser diferente, e, quando perguntado sobre como o tema é abordado no Brasil e nos Estados Unidos, explicou que há um “exagero aqui e lá”. Ele disse que às vezes o assunto é abordado com “desleixo” nos Estados Unidos, não tendo tanta importância quanto no Brasil. Por outro lado, ele acredita que aqui ocorre um exagero com o debate também.
Por fim, os programas sociais receberam atenção no painel. O ministro defendeu a revisão para garantir que os benefícios atinjam seus verdadeiros públicos e não gerem problemas para a economia, assim como apresentar ao presidente Lula possíveis correções nos programas.
Política Monetária Brasileira
Na sequência, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, avaliou o cenário macroeconômico. Passando por “problemas técnicos” na sua tradicional apresentação de slides, o painel se desenvolveu no formato tradicional de “bate-papo”.
Ele abriu sua apresentação comentando sobre o cenário global de inflação, que está em processo de convergência na maioria dos países.
O presidente afirmou que o BC mantém a mensagem de que vai fazer o que for preciso, incluindo elevar os juros se necessário, mas que a autarquia não dará uma orientação futura para a política monetária.
No momento de analisar o cenário externo, Campos Neto explicou que nas últimas seis ou sete semanas houve uma diminuição do risco de o Federal Reserve (banco central norte-americano) não cortar ou levar mais tempo para começar a baixar os juros da maior economia do mundo, o que prejudicaria a liquidez global, com impacto nas economias emergentes como o Brasil.
Ele caracterizou o cenário atual como mais benigno e que hoje prevalece o cenário de pouso suave e uma “desaceleração organizada” nos EUA. “O principal risco era de não ter essa queda de juros, o que mudou nas últimas semanas. Isso poderia gerar movimentos disruptivos para mercados emergentes. Nesse sentido, melhorou a parte externa”, disse.
No que diz respeito à economia chinesa, ele analisou que ela está passando por um momento de desaceleração. Estão saindo de consumo externo para exportação muito baseado em eletrificação, sendo que seus produtos enfrentam alta de tarifas em mercados externos.
Ainda em sua participação, Campos Neto falou que a autoridade monetária tenta “recuperar a credibilidade” após a decisão dividida do Copom (Comitê de Política Monetária) em maio. “Obviamente, você não ganha credibilidade de um dia para o outro, é um jogo repetido. A gente sabe que credibilidade demora para ganhar e é relativamente rápida de perder. Hoje, estamos no processo de construir credibilidade”, ressaltou. Apesar disso, para ele, a equipe está mais unida, o que está refletindo nas últimas decisões.
Política Fiscal e Seus Efeitos Sobre a Economia
Dario Durigan, Sec. Executivo do Ministério da Fazenda afirmou que o governo cumprirá com as metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal, que neste ano tem como regra fechar com déficit fiscal zerado. Ele ainda ressaltou que, para atingir os objetivos, requer um esforço de todos, com as medidas propostas sendo aprovadas no Congresso. “Temos um projeto consistente, não vamos abrir mão de equilíbrio fiscal. Sabemos quais são as consequências para o país, vamos seguir com o mesmo projeto.”, afirmou.
Também no painel, Mansueto Almeida, Economista-chefe do BTG Pactual, disse que o importante é cumprir esse compromisso com a regra fiscal. Ele pontuou que, sem o mercado acreditar que as regras fiscais serão cumpridas, a dúvida causa impacto em preço, taxa de juros e expectativa de inflação.
O Crescimento do Mercado de Capitais
Encerrando os painéis da parte da manhã, João Pedro Nascimento, presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), e Marcos Pinto, Sec. de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, dividiram o palco.
Com uma apresentação, João Pedro afirmou que o mercado de capitais cresceu em tamanho e em complexidade.
Os dados apresentados por ele mostraram que há 697 companhias abertas com registro ativo na CVM, sendo 482 na categoria A, aquelas que podem emitir todos os tipos de valores mobiliários. No entanto, apenas 415 companhias contam com ações efetivamente listadas na B3: isso mostra perspectivas de crescimento e evidencia uma demanda represada para a temática da retomada dos IPOs e ofertas subsequentes.
Evoluindo no painel, o agronegócio passou a ser assunto. O presidente da CVM comentou que o agronegócio é motivo de prosperidade, representando 25% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Contudo, isso ainda não se reflete na participação no mercado de capitais, onde a representatividade sempre foi muito pequena. Segundo ele, existe uma série de iniciativas para mudar isso. De dezembro de 2023 a março de 2024, o crescimento do agronegócio dentro do mercado de capitais foi de 15,6%, atingindo R$ 493 bilhões.
Além de destacar como as recentes mudanças regulatórias modernizaram o mercado, João Pedro utilizou pesquisas internacionais que mostravam o Brasil como quarto maior Mercado de Capitais do mundo sob a ótica dos fundos de investimentos. Em 2022, o mesmo ranking colocou o Brasil na sexta colocação, tendo entre as principais razões para a variação o câmbio e, em bases mundiais, o crescimento exponencial da indústria de fundos na China.
Ele aproveitou sua última fala para avaliar como os últimos três anos foram desafiadores para o mundo inteiro. “O que observamos no Brasil foi muito mais suave do que ao redor do mundo. Outros países de referência, como Itália, França e Espanha, nesse período, conviveram com quantidades expressivas de fechamento de capital. Esse fenômeno não se fez presente no Brasil”, concluiu.
Próximos Passos da Reforma Tributária
Outro assunto de muita importância é a Reforma Tributária. Daniel Loria, Diretor de Programa da Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária, Roberto Quiroga, sócio no Mattos Filho, e Vanessa Canado, Profa. e Coord. do Núcleo de Tributação do Insper, foram os painelistas convidados.
Loria comentou que teremos uma fase de transição de 10 anos, ou seja, um sistema que vai estar operacional de forma plena em 2033. Ele atribuiu esse longo período de transição ao sistema complexo que temos.
Quiroga, por sua vez, classificou a reforma como simples, neutra, equitativa e progressista. Entretanto, ele ponderou que é necessário entender o que significa simplicidade no sistema tributário. “Não existe sistema tributário simples. No mundo todo, eles são complexos. A palavra correta seria operabilidade”, disse. “Será que teremos menos complexidade? Eu diria não, mas teremos uma operação diferente. A complexidade em si vai existir, mas será um modelo mais operacional”, concluiu.
Além disso, ele contrapôs que é esperado haver maior complexidade no começo, mas todo mundo terá condições de entender o modelo de uma forma mais uniforme.
Por fim, ele argumentou que o grande problema da Reforma Tributária está na credibilidade. “Substancialmente, o que vamos ter que superar não é uma questão técnica, mas, sim, de credibilidade. Ou seja, se o governo não fizer e cumprir aquilo que a lei estipula, não adianta de nada a reforma”. Do ponto de vista técnico, explicou, a “reforma é muito boa”, porém passará por um grande teste de credibilidade da sociedade com o governo.
Perspectivas Macroeconômicas e Oportunidades de Investimento
Por fim, o último painel do dia reuniu Rogério Xavier, Sócio-fundador da SPX Capital, André Jakurski, Sócio-fundador da JGP, Luis Stuhlberger, Sócio-fundador da Verde Asset, e André Esteves, Chairman e Sócio Sênior do BTG Pactual.
O debate começou em torno da economia americana. Para Jakurski, o grande ponto de análise é o ritmo da desaceleração da economia americana. “Se ela for suave, é ótimo, mas se for mais agressiva, vai dar um susto”. Na questão de política monetária, Stuhlberger defendeu que o Fed nunca deu indícios que cortaria em 2024 os juros que o mercado precificou no ano passado e falou que hoje o mercado está mais racional. Rogério Xavier apresentou uma visão diferente de seus colegas, afirmando que Jerome Powell, presidente do banco central americano, posicionou o mercado para o início de cortes em março, além de achar que a economia americana está em um “claro processo de desaceleração”.
Ainda sobre os Estados Unidos, Jakurski destacou a imprevisibilidade de Trump como um receio caso ele seja eleito. Enquanto isso, Xavier avaliou que o grande efeito das eleições americanas é o da paralisia. “Eu prefiro ter a certeza de que um irá ganhar do que não ter nenhuma ideia”.
Em relação aos juros brasileiros, a opinião de Stuhlberger é que os juros podem subir devido à visão muito pior do fiscal do que o mercado está comprando. Xavier analisou que “esse ciclo pequeno de elevação de juros vai ser positivo para o Brasil à frente. Porque, em 2025, vai poder cortar os juros sem o déficit de credibilidade ao Banco Central. Acho uma oportunidade imperdível de puxar os juros”.
Este conteúdo é produzido pela PORTOFINO MULTI FAMILY OFFICE e fomenta o diálogo sobre a política e o empresariado brasileiro. A nossa opinião é neutra e não é partidária.