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O que você precisa saber:
A startup chinesa DeepSeek desenvolveu um modelo de IA semelhante aos das big techs americanas, mas com um custo muito menor, levantando preocupações nos EUA sobre o avanço da China no setor.


A preocupação dos Estados Unidos com os avanços tecnológicos na China é uma dor de cabeça que tira o sono do governo americano há alguns anos. Entretanto, os esforços para evitar que os chineses tenham acesso às tecnologias de ponta do ocidente parecem não  surtir efeito – e podem até mesmo ter criado um efeito contrário.

A startup DeepSeek é a prova de que a China está mais avançada no campo da inteligência artificial do que os Estados Unidos acreditavam. Na última semana, a empresa chinesa de inteligência artificial, fundada em 2023 por Liang Wenfeng, chamou a atenção ao desenvolver um modelo de IA com desempenho similar ao ChatGPT (OpenAI), o Gemini (Google) e o Llama (Meta), mas com um custo muito menor. O aplicativo móvel foi baixado 1,6 milhão de vezes até 25 de janeiro e ficou em primeiro lugar na App Store na Austrália, Canadá, EUA, China, Cingapura e Reino Unido.

O modelo DeepSeek-R1, além de ser gratuito e open-source (código aberto, em português), permitindo que qualquer empresa ou pesquisador use a tecnologia para criar suas próprias soluções, superou seus concorrentes da Meta e da OpenAI em tarefas como codificação e matemática. 

O maior destaque, entretanto, é que o chatbot chinês conseguiu se igualar, ou chegar próximo das big techs americanas, sem ter acesso às principais tecnologias do mundo e com um custo muito menor. Os modelos GPT-4, da OpenAI, e o Llama 3.1, da Meta, foram produzidos por mais de US$ 60 milhões, já o R1 teve um custo menor que US$ 6 milhões.

O choque da DeepSeek na terra do Tio Sam

A guerra comercial entre as duas grandes potências mundiais se acirrou nos últimos anos com o advento da inteligência artificial e os chips semicondutores. Os acontecimentos da última semana servem como aviso aos Estados Unidos: a China não está mais tão distante no desenvolvimento da inteligência artificial, mesmo com a restrição americana de exportação de semicondutores ao país asiático. Além de chatbots e aplicativos, o avanço chinês também representa uma ameaça a outros campos, como o militar.

O choque foi grande para as big techs, especialmente a NVIDIA. As empresas do Vale do Silício tiveram quedas relevantes na segunda-feira (27): 

  • NVIDIA: -17%. A gigante de tecnologia havia acumulado uma alta de 482% de alta desde 2022 com a explosão da IA, o que a levou ao posto de empresa mais valiosa do mundo. Contudo, a queda do dia 27, a maior em um único dia, foi de quase US$ 600 bilhões em valor de mercado, equivalente a 7 Petrobrás ou 14 Vales.
  • Microsoft: -7%
  • Meta: -5%

As quedas são consequência da preocupação de que os modelos de IA possam ser desenvolvidos com maior eficiência e com menos gastos, assim reduzindo a demanda pelos materiais desenvolvidos pela NVIDIA. Além disso, o avanço da DeepSeek pode servir como um alerta para que as empresas do setor repensem os aportes feitos para o desenvolvimento de tecnologia. Recentemente, a OpenAI, a Oracle e o SoftBank anunciaram uma joint venture, a Stargate, para investir US$ 500 bilhões nos próximos quatro anos em infraestrutura de inteligência artificial.

Mas nem tudo é perfeito…

O aplicativo chinês mostrou fraquezas, como, por exemplo, a autocensura. Em temas considerados sensíveis para a China, usuários apontaram que a ferramenta evita responder perguntas polêmicas, como os protestos da Praça da Paz em 1989 e dar respostas detalhadas sobre o presidente chinês Xi Jinping.

Na quinta-feira (29/1), a OpenAI alegou que a DeepSeek usou dados do ChatGPT para treinar seu chatbot, sem dar mais detalhes sobre o caso.

Além disso, as políticas de como a empresa lida com os dados dos usuários geram desconfianças contra a DeepSeek. A Autoridade Italiana de Proteção de Dados, com o receio de informações pessoais de italianos serem armazenadas na China, determinou a retirada do aplicativo das lojas virtuais da Apple e do Google. A Itália é um dos países mais atuantes e preocupados com a proteção de dados de seus cidadãos.

A corrida pelo protagonismo global em IA envolve dois protagonistas: China e Estados Unidos. A cada novo avanço, como o feito pela DeepSeek, fica evidente que a competição entre as duas potências está mais acirrada do que nunca. Enquanto os EUA tentam frear o crescimento chinês com restrições e barreiras tecnológicas, a China segue mostrando sua capacidade de inovação e adaptação, mesmo com recursos mais limitados. O desenvolvimento de IA será um dos pilares para determinar e moldar importantes questões futuras da geopolítica global.

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