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A teoria do voto econômico sugere que a percepção da população sobre os governantes é influenciada pelo desempenho da atividade macroeconômica¹. De fato, uma análise mais aprofundada dos dados históricos indica que, quando a economia apresenta bom desempenho, é provável que a avaliação do governo seja positiva e que ele seja reeleito. Em contrapartida, inflação e desemprego elevados tendem a deteriorar essa percepção e reduzir as chances de reeleição ou de continuidade do grupo político no poder.
No Brasil, porém, os dados recentes mostram que essa dinâmica não tem se confirmado. Mesmo com taxas relativamente baixas de desemprego e inflação, e com a atividade econômica registrando desempenho robusto, a insatisfação da população com o atual governo permanece elevada — acima do que foi usualmente observado em contextos semelhantes². Ao que tudo indica, ruídos políticos (como o escândalo do INSS, os embates entre os Poderes Executivo e Legislativo, além da elevação do IOF e outras medidas tributárias) têm se sobreposto aos efeitos positivos de um cenário econômico mais favorável³.
É verdade que, nas últimas semanas, a avaliação negativa do governo recuou marginalmente. A imposição de tarifas comerciais pelos EUA ao Brasil parece ter contribuído para um ganho de capital político por parte do governo (discurso nós versus eles), conforme discutido em relatório anterior.
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Ainda assim, esses ganhos tendem a ser limitados, e os desafios para que o governo Lula melhore sua imagem permanecem relevantes. A atividade econômica, por exemplo, deve desacelerar nos próximos meses, reflexo de uma política monetária que deve continuar contracionista ao menos até o final do ano.
Mais do que isso, a dificuldade de converter bons indicadores econômicos em apoio político expõe uma transformação mais profunda do eleitorado brasileiro. Um dos fatores centrais é a crescente presença da população evangélica no cenário eleitoral. Ainda que nem sempre explicitado nos discursos políticos, o peso da religião — em especial o avanço do eleitorado evangélico — tem moldado o comportamento do voto de forma consistente nas últimas eleições.
Essa mudança ajuda a explicar por que a prosperidade econômica não garante, como antes, um alinhamento automático entre melhora de indicadores e apoio ao incumbente. A tendência de menor adesão a partidos de esquerda em municípios com maior presença evangélica não é nova, mas ganha relevância em um contexto de polarização intensa e ativismo religioso⁴. Assim, diante de uma conjuntura econômica que tende a perder fôlego e de um eleitorado cuja composição está em rápida mutação, a nova lógica eleitoral brasileira representa um enorme desafio para um eventual sucessor de esquerda, seja ele Lula ou outro candidato.
Em tempo: pela primeira vez desde 2024, o índice de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) superou numericamente o percentual de desaprovação. Os dados, divulgados nesta quinta-feira em pesquisa da AtlasIntel em parceria com a Bloomberg, sugerem um pequeno respiro para o governo. A questão, agora, é acompanhar até que ponto a constatação de que a percepção de um ambiente econômico mais favorável não se traduz automaticamente em apoio — especialmente entre os eleitores evangélicos — poderá impor um teto ao crescimento da aprovação do governo.