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O que você precisa saber:
Nesta segunda-feira (22), aconteceu o Macro Day, evento realizado pelo BTG Pactual que reuniu diversas figuras importantes dos cenários político e econômico, como Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, Arthur Lira e Michel Temer, além de outras personalidades políticas e empresariais.
Confira a seguir um overview do evento:
Cenário Econômico
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, abriu sua participação no evento com uma apresentação de slides que trouxe números históricos da economia brasileira. O gesto marcou o tom de sua fala: um balanço de gestão e uma avaliação crítica das escolhas recentes que impactaram as contas públicas.
Haddad destacou que parte dos gastos atuais do governo — equivalente a 0,5 ponto percentual do PIB — foi herdada ainda em 2021, durante a gestão anterior. Outro ponto de crítica foi a chamada “Tese do Século”, decisão que retirou o PIS/Cofins da base de cálculo do ICMS. O ministro atribuiu a essa mudança uma perda de arrecadação estimada em R$ 1 trilhão, reforçando o impacto estrutural nas finanças públicas.
Em sua fala, Haddad defendeu o arcabouço fiscal como a melhor norma disponível para disciplinar as contas públicas. Para ele, fortalecer o modelo passa pela construção de condições políticas que permitam maior diálogo com o Congresso, além do combate a “desperdícios”.
O ministro também fez questão de pontuar que sua gestão deixará um legado relevante para os próximos governos e o país. “Se erramos ou acertamos, a história vai dizer. Mas tudo foi feito com muita tenacidade, com muita vontade. O trabalho não está completo, sempre haverá tarefa pela frente”, afirmou. Em certos momentos, o discurso assumiu um tom de despedida, sugerindo um balanço pessoal de sua passagem pela pasta.
Ao comentar sobre a condução da política monetária, Haddad avaliou que a transição no Banco Central em 2024 foi “difícil” e contribuiu para a elevação dos juros no período. Ainda assim, reconheceu que a taxa de juros no Brasil é resultado de múltiplos fatores, entre eles a questão fiscal, mas não exclusivamente determinada por ela.
Caminhos para o desenvolvimento da Infraestrutura
O ministro dos Transportes, Renan Filho, ressaltou o avanço das concessões realizadas pelo governo atual. Comparou o desempenho com a gestão anterior ao destacar que a atual administração já soma 35 concessões. Segundo ele, em 2026 deverão ser feitas entre 10 e 15 novas concessões rodoviárias, reforçando a continuidade da agenda de infraestrutura.
Renan Filho destacou ainda o conjunto de leilões realizados e afirmou que o Brasil possui hoje uma agenda de concessões reconhecida internacionalmente, capaz de atrair investimentos relevantes. Em sua fala, também mencionou diversas obras de infraestrutura em andamento, que, segundo ele, reforçam a importância estratégica desse movimento para o desenvolvimento do país.
Já o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, também trouxe sua perspectiva sobre o tema das concessões. Ele recordou que o melhor momento nesse campo havia sido em 2004, durante o governo Lula, e ressaltou que 2024 voltou a marcar um período de destaque. O comentário foi feito em resposta às críticas de que o atual governo não apoiaria a agenda de concessões, reforçando que os resultados recentes contradizem essa percepção. Além disso, também falou sobre a possibilidade de concessão do Santos Dumont em um futuro próximo.
Congresso Nacional: Desafios e Perspectivas
O presidente da Câmara, Hugo Motta, destacou a necessidade de cautela no atual momento político, defendendo que seja dada a oportunidade para que todas as vozes sejam ouvidas e que a Casa concentre esforços em uma pauta produtiva para o país. Ele lembrou que, mesmo diante de um cenário marcado por dicotomias e pela presença de “pautas tóxicas”, o parlamento tem aprovado projetos relevantes, como o novo marco de licenciamento ambiental e medidas na área de segurança pública.
“É o momento de tirar da frente todas essas pautas tóxicas”, afirmou, ao comentar a PEC da Blindagem e o projeto de anistia. Segundo ele, “ninguém aguenta mais essa discussão” e o Brasil precisa voltar a se debruçar sobre temas estruturais, como a reforma administrativa, o imposto de renda e a segurança pública. Em sua visão, as manifestações recentes — tanto as contrárias quanto as favoráveis à anistia — evidenciam que “a nossa democracia segue mais viva do que nunca”.
Sobre o PL da Anistia, avaliou que se trata de uma “saída política boa para o país e possível dentro das nossas regras legais, reconhecendo o papel de cada um dentro das suas responsabilidades”. “O que a Câmara quer é construir um consenso dentro das regras legais do país. É possível rever algumas penas que o Congresso entende que foram exageradas. Sendo aprovada essa saída pela Câmara e pelo Senado, há condição de o próprio Judiciário fazer uma reinterpretação dessas penalidades e, quem sabe, mandar essas pessoas que estão presas hoje para casa, para distensionar o ambiente”.
Ele adiantou ainda que a proposta de isenção do Imposto de Renda deve ser votada já na próxima semana. Ao avaliar o cenário político para as eleições de 2026, disse enxergar uma esquerda unida em torno da possível reeleição do presidente Lula, impulsionada pela pauta da soberania e pela projeção internacional do governo. Em contrapartida, considerou que a direita está mais desorganizada, uma vez que não está claro qual será a posição de Jair Bolsonaro. Citou nomes como Tarcísio de Freitas, Ratinho Junior e Ronaldo Caiado, mas reconheceu que o quadro permanece indefinido. Sua expectativa é de que o país caminhe novamente para uma disputa polarizada, como em 2022, embora exista uma “fadiga” do eleitor que não se identifica nem com a direita nem com a esquerda diante dessa dicotomia.
Questionado sobre seu próprio posicionamento, afirmou ser “um homem de partido” e que aguardará a decisão de sua legenda antes de se manifestar. Destacou ainda que, por ser da Paraíba — estado em que Lula venceu com ampla vantagem em 2022 — e ao mesmo tempo filiado ao partido de Tarcísio, precisa manter cautela. “Se eu externo minha posição política, acabo atrapalhando o meu dia”, concluiu.
Perspectivas Macroeconômicas
Eduardo Loyo, sócio do BTG Pactual, avaliou que há hoje mecanismos de pressão do Executivo sobre o Federal Reserve, mas ponderou que o noticiário tende a dar a impressão de que essa interferência é maior do que de fato ocorre. Para ele, não se trata de um Fed excessivamente rígido que precisasse de pressões mais duras. Loyo lembrou que, no ano passado, a instituição adotou uma postura considerada dovish ao cortar juros, movimento que reforça sua visão de que o banco central norte-americano já possui, por natureza, uma inclinação menos restritiva, sem necessidade de influências externas.
Na sequência, Mansueto Almeida, sócio e economista-chefe do BTG Pactual, trouxe sua preocupação com o quadro fiscal brasileiro. Ele afirmou que, a partir de 2027, qualquer governo terá de enfrentar cortes em despesas obrigatórias para garantir o equilíbrio das contas públicas. Estimou que será preciso realizar um ajuste de cerca de R$ 250 bilhões para corrigir a trajetória da dívida, sinalizando a urgência de medidas estruturais nesse campo.
Para Mansueto, mesmo reformas como a administrativa não seriam suficientes para corrigir as distorções nos gastos públicos, reforçando a necessidade de uma agenda mais ampla de ajustes.
O debate contou também com a participação de Tiago Berriel, sócio e estrategista-chefe do BTG Pactual, que se mostrou cético em relação ao efeito do atual ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos. Ele avaliou que o Fed poderá ir além de dois cortes adicionais na taxa de juros, mas levantou dúvidas sobre a real eficácia dessa flexibilização. “Eu seria mais cauteloso”, disse.
Política Monetária e Economia Global
Roger Ferguson, Executive Chairman da Andalusian Credit Partners e ex-vice-chairman do Federal Reserve, abordou as incertezas em torno da política tarifária de Donald Trump e da condução da política fiscal nos Estados Unidos. Ele observou que há sinais de que a política econômica norte-americana tem se mostrado restritiva, destacando como evidência o crescimento abaixo do potencial da economia.
Questionado sobre a possibilidade de dois novos cortes de juros, Ferguson ressaltou que o mercado tem absorvido essa expectativa, mas que nem o Fed nem Jerome Powell têm endossado essa visão de forma explícita. Reforçou ainda que cada decisão de política monetária será tomada de maneira independente em cada reunião, avaliando positivamente a atuação recente do banco central, ainda que o futuro permaneça incerto.
Em sua análise, Ferguson destacou também que os mercados consideram a independência do Federal Reserve um pilar fundamental, a ponto de acreditar que eventuais questionamentos a esse princípio seriam resolvidos pelas próprias cortes americanas. Por essa razão, afirmou, não há precificação relevante de riscos à autonomia da instituição.
Outlook de Grandes Gestores
André Jakurski, sócio-fundador da JGP, avaliou que Jerome Powell tem buscado não confrontar diretamente Donald Trump e, por isso, já iniciou o processo de cortes de juros nos Estados Unidos. Para ele, novas reduções — possivelmente uma ou duas ainda neste ano — devem ocorrer. Em relação ao Brasil, Jakurski afirmou considerar insustentável o atual nível da taxa de juros, que, em sua visão, terá de cair. Também projetou para o próximo ano um incentivo adicional para cortes, aliado a uma provável expansão fiscal já a partir do mês que vem.
Luís Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset, destacou a trajetória do dólar em 2024. Lembrou que, embora esteja se desvalorizando ao longo do ano, a moeda partiu de uma máxima histórica e ainda não retornou sequer ao seu preço médio de longo prazo. Ele reforçou, nesse contexto, a relevância da política fiscal norte-americana como elemento central para a condução da economia global.
Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, apontou que a redução dos juros pelo Fed reflete a fraqueza crescente do mercado de trabalho nos Estados Unidos, processo que, segundo ele, vem se intensificando nos últimos dois anos. Considerou esse movimento preocupante, especialmente diante do quadro de desaceleração da atividade econômica global.
Ao analisar o cenário doméstico, reforçou que será inevitável um ajuste fiscal no início de 2027, independentemente de quem esteja na Presidência. Destacou que a política monetária hiperapertada tem promovido uma desinflação relevante, mas avaliou que a economia brasileira já está em processo de desaceleração. Quanto ao cenário político, previu eleições muito disputadas no próximo ano, com incerteza quanto ao vencedor até a reta final. Reconheceu o empenho do ministro Fernando Haddad em ajustar o orçamento, mas alertou que as pressões políticas previstas para 2026 terão um custo elevado, caso o país não realize um ajuste efetivo a partir de 2027.
Reflexões de Ex-Presidentes da Câmara dos Deputados
O ex-presidente Michel Temer destacou em sua fala a ausência de diálogo no Brasil contemporâneo, tanto entre pessoas quanto entre instituições. Disse desprezar os conceitos tradicionais de esquerda, direita e centro, que, segundo ele, ficaram ultrapassados desde a queda do Muro de Berlim. Para Temer, o que realmente importa à população é o resultado concreto de quem governa. Ressaltou que falta ao país uma cultura de maior abertura ao diálogo.
Em sua visão, deveria ter havido uma tentativa de aproximação direta entre Lula e Donald Trump. Disse acreditar que Donald Trump atenderia a um telefonema, mas que, ainda que não fosse bem-sucedido, o simples gesto já mostraria ao povo brasileiro uma disposição de diálogo. Ao final, afirmou que “o maior cabo eleitoral do presidente Lula é o presidente Trump e aqueles que foram aos EUA para criar problemas aqui para o Brasil”.
Arthur Lira, deputado federal e ex-presidente da Câmara, avaliou que o atual momento em Brasília é marcado por cautela e dificuldade de articulação política, o que trava avanços em pautas relevantes. Segundo ele, não se trata de diferenças ideológicas, mas da falta de sinergia entre Executivo e Congresso. Lembrou que o atual governo recebeu do Legislativo, ainda antes da posse, a aprovação de uma PEC de transição que possibilitou a implementação de medidas logo no início do mandato, mas que, desde então, essa dinâmica não se manteve. Como exemplo, citou a questão do IOF, em que o governo acabou se apoiando no Supremo diante da falta de articulação parlamentar.
Lira comentou ainda sobre o projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda, afirmando que a proposta “traz justiça tributária”, mas antecipando um debate intenso em torno do tema.
Rodrigo Maia, também ex-presidente da Câmara e atualmente presidente da Fin, criticou a atuação da oposição, avaliando que sua desorganização acabou fortalecendo o governo Lula. “Só assim para o Lula voltar para o jogo”, disse, ressaltando que o presidente se beneficiou da estratégia equivocada da extrema-direita.
Ao projetar as eleições de 2026, Maia afirmou acreditar em uma candidatura de Lula, que classificou como conservadora e representativa do passado. Do outro lado, apontou o governador Tarcísio de Freitas como um nome competitivo, capaz de unir apoios no campo da direita. Em sua visão, caso Tarcísio consiga se desvincular da rejeição de Jair Bolsonaro, a disputa poderá ser bastante equilibrada e menos tensa.
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