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O que você precisa saber:
Universal inaugura o Epic Universe, seu parque mais ambicioso em 25 anos, intensificando a disputa com a Disney, que responde com um investimento de US$ 30 bilhões na expansão de seus parques. A concorrência entre as gigantes reforça o turismo de experiência em Orlando.
Há uma batalha em curso no coração da Flórida. As armas? Criatividade, tecnologia e a habilidade de emocionar. De um lado, a Disney, com seu império encantado erguido sobre contos de fadas, nostalgia e magia. Do outro, a Universal, com sua energia cinematográfica, adrenalina e mundos que parecem saltar da tela a cada esquina do parque.
O capítulo mais recente dessa história é a inauguração do Epic Universe — o mais ambicioso e o primeiro parque temático da Universal nos Estados Unidos em 25 anos. Foram seis anos de construção e quase US$ 8 bilhões em investimentos para dar vida a uma experiência que promete elevar o padrão da indústria. O novo parque se juntará ao trio já consolidado da Universal em Orlando — Universal Studios Florida, Islands of Adventure e Volcano Bay.
E o nome “épico” não foi escolhido à toa. O parque estreia com cinco áreas temáticas, entre elas a aguardada Super Nintendo World, onde os visitantes poderão literalmente “entrar” no universo de Mario, Luigi e cia. Teremos também a Ilha de Berk, do universo de Como Treinar o Seu Dragão; o misterioso e imersivo Ministério da Magia, que amplia ainda mais o império de Harry Potter nos parques; o exuberante Celestial Park, com jardins e fontes dançantes; e o sombrio Dark Universe, inspirado nos clássicos monstros da Universal, como Frankenstein.
Para completar essa nova dimensão de entretenimento, a Universal está expandindo sua rede de hotéis. A iniciativa é uma aposta na integração total entre hospedagem e experiência — uma estratégia que reforça seu posicionamento como destino completo de férias.
Mas a Disney, é claro, não pretende deixar o bonde passar. Em resposta, a empresa já anunciou um investimento de US$ 30 bilhões para a expansão de seus parques nos Estados Unidos. Entre as promessas estão uma nova área inspirada em Monstros S.A. e uma tão esperada área dos vilões no Disney World. O Magic Kingdom, parque mais visitado do mundo, passará pela maior ampliação de sua história. Além disso, a rede hoteleira da companhia deve saltar de 29 mil para 53 mil quartos nos próximos anos.
A disputa vai além dos mapas dos parques — ela está nos balanços financeiros. Os parques representam hoje quase ⅔ do lucro operacional da Disney. Do outro lado, na Universal, respondem por cerca de 7% da receita, o que ainda significa quase US$ 9 bilhões por ano. Ou seja, para ambas as gigantes, a magia e a emoção têm um valor bem concreto.

Tudo isso acontece em um momento delicado da economia global. Inflação, incertezas e instabilidade colocam pressão sobre o setor de turismo. Mas, curiosamente, os parques temáticos de Orlando seguem na contramão, com o turismo de experiência.
Esse tipo de turismo vai além de apenas visitar um destino — ele busca envolver emocionalmente o visitante, criando conexões sensoriais, afetivas e memoráveis. É o que acontece quando uma criança se vê dentro do castelo da Cinderela, ou quando um fã de cinema caminha pelas ruas do Beco Diagonal. São vivências que marcam, emocionam e criam lembranças que duram muito além da viagem.
E o mercado está respondendo a essa tendência. Após o anúncio do Epic Universe, por exemplo, as reservas de hotéis na região subiram 14%. A explicação pode estar no comportamento dos turistas: mesmo em tempos incertos, as férias em família continuam sendo planejadas com antecedência — e poucos lugares são tão desejados quanto Orlando.
Não por acaso, a região metropolitana da cidade foi o destino mais visitado dos Estados Unidos em 2023. Na época a região movimentou mais de US$ 92 bilhões em impacto econômico. E tanto Disney quanto Universal sabem que essa é uma batalha de longo prazo.
Ainda assim, uma pergunta paira no ar: será que o novo parque da Universal vai desviar visitantes da Disney ou apenas redistribuir o público entre os parques da própria Universal? A professora Carissa Baker, da Universidade da Flórida Central, lembra que o que se viu em momentos parecidos no passado foi uma “canibalização parcial”. Ou seja, muitos visitantes não conseguem passar por todos os parques em uma única viagem, e a chegada de um novo concorrente acaba rearranjando as escolhas dentro da mesma marca.
Enquanto isso, a Disney mostra que seus parques continuam em alta. O diretor financeiro da companhia, Hugh Johnston, afirmou que as reservas de hotéis para o terceiro trimestre fiscal cresceram 4% em relação ao ano anterior, com 80% das noites disponíveis já preenchidas. Para o quarto trimestre, as reservas estão entre 50% e 60% da capacidade — sinal de que o reino mágico ainda reina.
No fim das contas, talvez o verdadeiro vencedor dessa disputa não esteja nos balanços, nem nos gráficos de visitantes, mas no olhar encantado de uma criança ao ver seu personagem favorito ganhar vida — seja ele um bruxo de Hogwarts ou um ratinho com calças vermelhas.