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O que você precisa saber:
Nesta carta, o nosso sócio e CIO, Eduardo Castro, comentou os impactos da imposição das tarifas americanas de 50% nos produtos brasileiros no campo político interno.


A surpreendente decisão do presidente Donald Trump de impor um tarifaço sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto alterou drasticamente o jogo comercial entre os dois países. O Brasil, que até então voava abaixo do radar nas disputas protecionistas globais, viu suas alíquotas de importação saltarem de 10% para prováveis 50%, enquanto a China — antes vilã preferencial — pode ter sua tarifa efetiva reduzida de sinalizados 145% para 30%, talvez 20%.

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O pano de fundo é claro: os Estados Unidos mantêm um superávit comercial expressivo com o Brasil, especialmente em setores como o industrial e tecnológico. Se considerarmos serviços, o superávit é ainda maior. Ainda assim, o Brasil é visto como um oponente de baixo custo, mesmo sendo relevante em áreas estratégicas, como o agronegócio e a aviação. Para Trump, o gesto reforça sua retórica protecionista e nacionalista: Make America Great Again! Para Lula, oferece a oportunidade de construir um duelo conveniente, que desvia o foco da erosão de sua aprovação interna e lhe permite vestir o manto de defensor da soberania nacional.

Contudo, há uma evidente contradição: um país que diz defender sua soberania, mas investe quase nada em sua própria defesa, transmite uma mensagem de fragilidade. Inferir uma possível proteção chinesa é utópico e irreal — o Brasil sequer tem combustível suficiente para manter seus caças da FAB no ar. O discurso presidencial tem sido, na prática, muito mais regional do que nacional, com ênfase em fortalecer a união do chamado Sul Global, e menos em posicionar o Brasil isoladamente como potência emergente.

A negociação do tarifaço será outro desafio. A representatividade do lado brasileiro é fragmentada e os interlocutores americanos ainda indefinidos. Em vez de um canal institucional robusto, as tratativas devem ocorrer setor a setor, produto a produto. É esperado que a alíquota inicial de 50% funcione como moeda de pressão, elevada o suficiente para forçar o diálogo, mas com margem para ajustes. Setores estratégicos, como aeronáutico (Embraer), aço e o de suco de laranja, já se movimentam para buscar acordos bilaterais.

No campo político interno, o embate pode ajudar Lula a reforçar uma narrativa de enfrentamento externo que unifica parte de sua base. Ao mesmo tempo, enfraquece ainda mais a oposição liderada pelo bolsonarismo. Com a família Bolsonaro desmobilizada — Jair potencialmente preso, Eduardo recluso nos EUA, Flávio sem tração popular e Michelle ainda inexperiente para uma campanha nacional — o apoio do ex-presidente torna-se peça-chave para a reorganização da direita. Nesse contexto, Tarcísio de Freitas surge como nome mais viável para unificar a centro-direita, desde que consiga manter distância das turbulências ideológicas do bolsonarismo raiz.

Em resumo, o tarifaço representa um jogo de perde-perde para as economias envolvidas, mas um movimento taticamente oportuno no curto prazo para dois líderes em busca de tração política. Para o Brasil, resta torcer para que a negociação por setores avance rapidamente — e que a disputa política não se sobreponha às necessidades econômicas do país.

(Imagem em destaque: Ricardo Stuckert / PR)

Eduardo Castro
Sócio | Chief Investment Officer

“Gestão Dinâmica” é um boletim com pontos relevantes do mercado comentados pelo nosso Chief Investment Officer, Eduardo Castro.

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