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O que você precisa saber:
A compra da Versace pela Prada movimentou o mercado de luxo, mas não somente pelos valores. A aquisição mostra a força do Grupo Prada para manter sua independência e competir com outros grandes conglomerados do mundo.
“Eu, que trabalho com isso, não consigo acompanhar.”
Foi nesse tom descontraído que uma jornalista especializada na cobertura do mercado de moda comentou sobre o nível de loucura que anda rolando nos últimos meses. E, ao que tudo indica, talvez essa seja só a ponta do iceberg. Mas calma: se você está perdido sobre o que estamos falando, respira — eu te guio.
No meio da dança das cadeiras dos cargos de liderança das principais marcas, não é preciso ser estilista ou designer para ter ouvido falar da compra da Versace pela Prada por cerca de US$ 1,38 bilhão — a maior aquisição em 112 anos de história da empresa. Mas o que talvez nem todo mundo saiba é o que está por trás dessa negociação.
Um dos principais motivos? O conceito que dominou as passarelas (e os closets mais exclusivos) nos últimos anos: o quiet luxury. Ou, na tradução literal, o “luxo silencioso”. Aquele estilo de quem não precisa estampar um logo para mostrar que está usando algo caro — porque a verdadeira sofisticação está nos detalhes que só os insiders reconhecem. Um corte impecável, uma textura rara, uma alfaiataria que conversa baixo, mas diz muito. A tendência nasceu logo após a pandemia de Covid-19, onde poderia ser considerado moralmente inaceitável ostentar um estilo de vida que fosse contrário ao período que vivíamos.
A ascensão dessa tendência foi uma das razões para a crise enfrentada pela Versace — marca conhecida pelas estampas exuberantes, cores vibrantes e por navegar, muitas vezes, entre o exagero e a elegância. Nos últimos tempos, o maximalismo que a consagrou nos anos 80 e 90 andava desalinhado com o desejo de discrição do público de alta renda.

Mas como tudo na moda (e nos investimentos também), o ciclo gira. Especialistas apontam que o loud luxury está ressurgindo — com força. Estamos falando de estampa animal, brilho, acessórios maximalistas e muita ousadia. É o glamour dos anos 80 e 2000 batendo à porta. E não adianta torcer o nariz: basta abrir o Instagram para ver o que está voltando com tudo.
Esse movimento também reacende os holofotes sobre os grandes conglomerados de moda. Se LVMH não te soa familiar, talvez Louis Vuitton, Dior, Tiffany & Co. resolvam o mistério. A holding de Bernard Arnault é um império. Assim como a Kering, dona de Gucci, Bottega Veneta, Balenciaga… nomes que não saem da boca — nem do corpo — do público do mercado de luxo. São essas estruturas que ditam não apenas tendências estéticas, mas também estratégias empresariais.
E aí entra a jogada da Prada: ao adquirir a Versace, o grupo ganha musculatura para competir com esses gigantes e, ao mesmo tempo, reforça seu plano de sucessão. A operação dá fôlego para Lorenzo Bertelli, filho de Miuccia Prada e Patrizio Bertelli, assumir o comando com a missão de manter a independência e o DNA da marca. É uma jogada estratégica com raízes sentimentais e olhos bem abertos para o mercado.
É interessante ainda mencionar como as duas marcas vivem momentos distintos. Enquanto a Prada vem de resultados recordes em 2024, com receitas de 5,4 bilhões de euros, um aumento de 17%, a Versace teve uma queda de 15% no faturamento do último trimestre do ano passado, além de recuo nas vendas nas Américas e Ásia.
Nos anos 90, a Prada também tentou assumir o papel de compradora — sem muito sucesso. As dívidas da época deixaram cicatrizes. Mas 30 anos depois, com um novo cenário e aprendizados na bagagem, a expectativa da família é de que agora o desfecho seja diferente.
Enquanto isso, a Versace — que viu sua identidade estremecer na era do quiet — abraça a chance de um recomeço, agora ao lado de uma casa que sabe unir tradição e reinvenção. Até Donatella entrou no clima e declarou: “Estou absolutamente encantada com o fato de a Versace se tornar parte da família Prada”.
No fim das contas, o que está em jogo aqui vai muito além de cifras bilionárias. A união entre Prada e Versace carrega uma expectativa quase cinematográfica. De um lado, uma casa que sempre equilibrou vanguarda e tradição. Do outro, uma marca que é sinônimo de ousadia e personalidade. Juntas, elas prometem um novo capítulo — e o mercado está de olhos bem abertos.
Ainda não sabemos se o resultado será um desfile de acertos ou se haverá tropeços pelo caminho. Mas uma coisa é certa: quando duas potências italianas se unem, o mundo da moda — e também o dos negócios — param para assistir.