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O que você precisa saber:
Nesta terça-feira (25), aconteceu o primeiro dia do CEO Conference Brasil 2025, evento promovido pelo BTG Pactual, que contou com a presença de diversas figuras importantes do cenário político e econômico brasileiro, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Alexandre Silveira, Ministro de Minas e Energias do Brasil, entre outros.
Cenário Econômico 2025
O evento começou com a presença mais esperada: Fernando Haddad, ministro da Fazenda. Haddad começou falando sobre como o contexto geopolítico está desafiador, com a falta de previsibilidade com a economia americana. Ele explicou que essa tensão econômica é global e citou que “há maior tensão na Colômbia, no México e no Chile, que são países relativamente organizados”.
O ministro também falou que o mercado financeiro está “muito mais tenso” do que antigamente. Ao ser perguntado sobre as incertezas do final do ano passado, ele afirmou que “as pessoas estão com mais dedo no gatilho, esperando uma notícia para agir, para se proteger ou especular”.
No que diz respeito ao Brasil, segundo Haddad, o Brasil é visto positivamente pelo cenário externo. Ele mencionou que as agências de classificação de risco, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e os fundos de investimento soberanos têm uma visão diferente em relação à avaliação dos investidores locais.
As contas públicas também foram pauta do debate. O ministro ressaltou a colaboração dos parlamentares para a elevação das receitas, contudo disse que o Congresso Nacional impediu o governo de zerar o déficit fiscal. Além disso, também destacou o compromisso do presidente Lula com o ajuste fiscal.
Haddad, ainda em sua fala, disse que, com a vitória de Lula nas eleições de 2022, a “democracia foi salva”, assim como também disse que não será candidato nas eleições de 2026. O nome do ministro é sempre muito ventilado caso Lula decida não tentar uma nova reeleição. Outro assunto em alta nos corredores do Planalto é a reforma ministerial, a qual Haddad reforçou que nunca conversou com o presidente sobre o assunto.
Estratégias para Segurança Energética no Brasil
O segundo painel do dia debateu sobre segurança e transição energética. Entre os convidados estava Alexandre Silveira, Ministro de Minas e Energias do Brasil, que afirmou que o gás natural é sem dúvida visto no mundo inteiro como combustível de transição e completou dizendo que o nosso país precisa ampliar a nossa oferta desse recurso.
Para ele, o Brasil já faz a sua parte na questão da sustentabilidade, vendo-o como muito promissor nessa área. Ele completou ao afirmar que as políticas públicas estão sendo feitas de formas vigorosas para essa transição energética. Segundo Silveira, o Brasil “o líder da transição energética global”.
O ministro ainda comentou um tema espinhoso que divide opiniões dentro do governo e atrai críticas de ambientalistas: a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Assunto muito debatido recentemente, Silveira defendeu a exploração na região “dentro de uma legislação ambiental que já é extremamente moderna e segura” e justificou que, enquanto o mundo demandar [petróleo], “não seremos nós que poderemos deixar de ofertar”.
Aprofunde mais: a Margem Equatorial é uma região na costa do Brasil entre o Amapá e o Rio Grande do Norte, vista como uma nova fronteira de exploração de petróleo e gás.
Navegando Mercados em 2025: Macro Views
Encerrando os painéis da parte da manhã, os painelistas comentaram sobre o cenário macroeconômico atual. Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital, apresentou uma visão bastante otimista com o cenário americano e global. Ele, assim como Fabiano Rios, CIO da Absolute Investimentos, elogiaram a equipe econômica do governo Trump.
Já no que diz respeito ao Brasil, Carlos Woelz, sócio-fundador da Kapitalo Investimentos, foi crítico ao dizer que o Brasil continua tão ruim quanto era em dezembro e “tão ruim quanto era em agosto antes de piorar”. Woelz também criticou o arcabouço fiscal, que começou com uma base não sustentável e com uma regra toda complicada, “como a de campeonatos estaduais”, brincou. Ele ainda creditou a piora do cenário entre agosto e dezembro ao fato da percepção de que iria precisar de uma política monetária muito mais alta.
Por outro lado, Rodrigo Carvalho, sócio-fundador da Clave Capital, viu a melhora por parte dos ativos brasileiros a partir de um começo mais suave da política de tarifas de Trump do que o mercado esperava.

O Mundo com Trump 2.0
Mike Pompeo, ex-Secretário de Estado dos Estados Unidos, abriu os painéis da tarde e discorreu sobre os recentes acontecimentos envolvendo Estados Unidos, Rússia e Europa. Para ele, os europeus sentiram que estavam sendo cortados, mas a voz deles ainda é muito grande nesse cenário. “Nós ouvimos que os EUA vão abandonar a Ucrânia, mas eu não posso imaginar que algo como isso aconteça”, disse Pompeo.
Quando perguntado qual seria um possível resultado para todo esse cenário, ele respondeu que a percepção tem que ser a de que o presidente Putin não venceu.
O ex-secretário também falou sobre o momento da China e foi enfático ao dizer que o presidente Xi Jinping está muito focado no poder. Ele explicou que vê a China em um momento de ação, em que o país vai demonstrar seu poder econômico, militar e tecnológico para colocar pressão em outras nações. Neste sentido, ele criticou o fato de, na sua opinião, ver que o líder chinês vê a economia como um suporte para os seus objetivos ao invés de usar a economia para alcançá-los.
E por falar em tecnologia, a inteligência artificial foi pauta. Pompeo explicou que especialistas já percebiam que a China estava diminuindo a distância para os Estados Unidos antes mesmo da DeepSeek. “DeepSeek foi uma surpresa para todo mundo, mas quando damos um passo atrás e analisamos, não chega a ser uma surpresa”.
O Que Esperar do Cenário Macroeconômico em 2025
Na sequência, o cenário americano continuou sendo tema de debate, mas dessa vez com Mansueto Almeida, sócio e economista-chefe do BTG Pactual, e Tiago Berriel, sócio e estrategista-chefe. Mansueto citou que o desafio fiscal dos Estados Unidos é bem grande, e não acredita que a equipe do governo vai conseguir reduzir os gastos para levar a dívida pública ao patamar anterior ao da pandemia. Berriel abordou a questão das tarifas, comentou que o presidente e o seu entorno parecem estar bastante comprados em relação a essa questão e à política de imigração, sendo úteis para a economia e negociações.
Ao falar sobre o Brasil, Mansueto analisou o governo e o momento da economia. “O governo vai aceitar uma desaceleração da economia com o juro tão alto?”, questionou, e continuou explicando que “estamos vendo desde o início do ano o anúncio de medidas de estímulo da economia. No ponto de vista de expectativa, acaba machucando a crença de que a política monetária vai funcionar”.
Também presente no painel, Eduardo Loyo, sócio do BTG, disse que seria importante que as pessoas vissem que a política monetária está tendo um efeito e fazendo a economia desacelerar para levar a inflação a uma trajetória de convergência. “Eu acho que, se você anuncia uma série de programas para compensar no futuro o juro alto e que evitem que tenha qualquer efeito, você está trabalhando contra a política monetária e a credibilidade da mesma”, finalizou.
Visões de Brasil e Mundo
André Esteves, Chairman & Sócio Sênior do BTG, foi entrevistado por William Waack. Assim como aconteceu ao longo de todo o dia, os Estados Unidos e o cenário geopolítico foram temas centrais.
Esteves caracterizou Trump como um “pacote complexo”, no qual a sua vitória indiscutível mostrou que a sociedade americana queria algo a mais que o presidente simboliza. Além disso, o sócio também falou sobre a personalidade do presidente, que costuma trazer “verdades duras” para o debate, apesar de não concordar com a tática que ele usa.
Questionado sobre a possível resolução na guerra da Ucrânia, ele demonstrou preocupação sobre o movimento americano em direção à Rússia, “pois abala uma aliança que está no centro do mundo ocidental, entre Estados Unidos e Europa”.
Por fim, ele falou como o Brasil se posiciona nesse cenário. Na visão de Esteves, o Brasil está à margem da briga entre China e Estados Unidos. “Em mundo mais dividido ou mais unido, acho que a gente consegue navegar ‘numa boa’. No lado tarifário, a gente ainda tem um adicional, já que somos um dos poucos países que têm déficit com os EUA, eles são superavitários com o Brasil. Nós estamos fora do radar do ponto de vista tarifário, podemos pegar só um efeito colateral como o aço”.
Outlook de Grandes Gestores
Por fim, o primeiro dia de evento acabou com um debate que já começou a fazer análises sobre as eleições do ano que vem. Antes disso, Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, se mostrou pessimista com a inflação brasileira: “Eu acho que a inflação nunca mais cai se a gente não encarar definitivamente a questão do déficit”. Ele ponderou que essa não é uma questão exclusiva desse governo, mas que “o grande problema do Brasil é o Congresso Nacional”.
Luís Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset, também estava presente e deu início aos comentários sobre eleição ao dizer que a queda de aprovação do governo foi surpreendente.
Para finalizar, as eleições de 2026, na visão de Xavier, terão uma grande influência de Jair Bolsonaro, em um cenário no qual muitos acreditam que ele possa apoiar Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, ou algum membro familiar, como um filho ou a esposa.
O CEO Conference Brasil 2025 retorna nesta quarta-feira (26) com outros nomes importantes.
Este conteúdo é produzido pela PORTOFINO MULTI FAMILY OFFICE e fomenta o diálogo sobre a política e o empresariado brasileiro. A nossa opinião é neutra e não é partidária.